terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Nos Escaninhos do Coração - Parte 2

 


 Continuando...

           André, que antes parecia decidido, mesmo hipnotizado com a beleza que irradiava Luiza, não respondeu de imediato ao seu convite, pois continuava com a dúvida encravada na cabeça: era a voz que voltava a ecoar dentro do seu ouvido. Mas ela nem esperou a sua concordância ou não e já se movimentava querendo subir mais e mais aquele imenso paredão que parecia não ter fim. Ele gritou para que ela esperasse, tentando persuadi-la a desistir, mas ela ignorou os seus apelos. Luiza tinha consciência que seus argumentos eram praticamente determinantes, em toda e qualquer aventura. Como conhecia seu parceiro, não vacilava em hipótese alguma ao impor as suas vontades, deixando-o sem opção. Mesmo quando não era totalmente convincente nas suas colocações, ela sabia que ele não resistiria ao seu sorriso e ao seu olhar, e acabava cedendo. E ela então, depois de um largo sorriso, disse:

          - André! Como recuar? Agora que o tempo melhorou? Olhe pra baixo e veja onde já chegamos! Não estamos quase na metade? Deixa de ser chato! Falta pouco!

          - Que falta pouco? Que metade, Luiza? Não chegamos ainda nem a um terço da escalada! Escuta! Escuta! Temos que aproveitar que o tempo está cooperando com a gente! O serviço meteorológico não erra! – fez uma pausa, olhou para baixo, parecia que esperava alguma contestação dela antes que terminasse de falar, depois voltou a olhá-la, já que não houve interrupção, e continuou - estamos com sorte que o tempo deu uma trégua. Amanhã à tarde o tempo volta a ficar firme. Aí sim podemos escalar com segurança. Vamos procurar um lugar para acampar, protegidos do temporal que vai cair. Vamos ficar sossegados até amanhã. Vamos?

          - Que temporal André? O céu está lindo! Você está com medo! Não acredito!

          - Que medo? Você me conhece! Luiza, alguma coisa me diz que vai ser uma furada. Não precisamos arriscar tanto. Já passamos por outros sufocos sem necessidade. Graças a Deus nos saímos bem. Será que dessa vez...

         - Dessa vez? Dessa vez o quê?

         - Sei lá! Um arrepio estranho percorreu pelo meu corpo, causando uma sensação muito desagradável! E parece que alguém falou ao meu ouvido, pra descermos. Isso está me deixando preocupado...

        Luiza se manteve em silêncio por alguns segundos. Depois, com palavras encorajadoras, disse:

          - Fica assim não, André. De tudo que aconteceu até hoje com nós dois, nos safamos muito bem. Não vai ser dessa vez que as coisas vão dar erradas. Olha só para essa montanha. Acho que é uma das mais fáceis que já escalamos. Vamos em frente! Nada vai nos derrubar! E esse negócio de voz... só pode ser invenção sua!

            André pensou em retrucar. Dar o contra, nunca adiantou e não seria dessa vez que iria adiantar. Então virou o rosto para o outro lado e deixou que um sorriso escorregasse dos seus lábios. Depois, voltou a olhá-la e fixando os seus olhos nos olhos dela, disse:

        - É, acho que você está com a razão. E se houver alguma coisa, a gente acelera e para naquele pequeno platô, a uns trinta metros acima. Está bem? E me parece até que lá tem uma pequena caverna.

            Ela não falou de pronto, porque o riso veio espontâneo e misturou-se à fala.

          - É? É? (risos) Não estou vendo não, mas acredito! Você é... (risos) Você é maluco igual a mim! Pra variar, nem estudou essa montanha! Mas você está dizendo que tem um platô e uma caverna, eu acredito e pronto! Vamos em frente? (risos)

         - Pode rir! Pode rir! Está dizendo que acredita! Mas é claro que não acredita! Olha só a sua cara!  O que se há de fazer? Você manda! Manda sempre! Estou com você para o que der e vier! 

-----------Continua semana que vem!

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