terça-feira, 3 de junho de 2025

Uma Luz e Nada Mais - Parte 58

 


Continuando...

              Antes que José Antônio falasse alguma coisa, Natasha falou:

              - Dyllon, se ele não for, eu não saio daqui.

              O rapaz olhava os dois conversando, sem entender quase nada do que falavam. Ele queria apenas que Dyllon respondesse a sua pergunta, só isso. Em relação a ir embora com a namorada, já estava decidido, ia acompanha-la até o fim do mundo, mesmo ele não correndo risco de vida, ali na base. Queria saber sobre Dyllon.

              - Senhor Dyllon, o senhor não respondeu a minha pergunta. O senhor é de outro planeta?

              - Vou responder: não sei. – esticou o braço, impedindo qualquer tentativa de interrupção e continuou - Rapaz, eu dormi 20 anos. Acordei sem saber quem eu era. E continuo sem saber o meu nome, se tenho família, onde moro ou morava, se sou da Terra, se sou... de qualquer lugar desse céu infinito. Única certeza que tenho, é que vamos sair daqui. E tem que ser o mais rápido possível. Não porque alguém possa me deter, isso não. É que não temos nada pra fazer aqui. Ninguém vai conseguir nos atrapalhar. Podemos sair no momento que eu quiser.

               - Dyllon, – interrompeu Natasha – você não pode fazer nada pelos médicos?

               - Não, Natasha. Não devo. Eles plantaram isso... – fez uma pausa.

               - Mas Dyllon, e o filho do Dr. Ferguson? – perguntou Natasha.

               - O rapaz já está convalescendo. Eu fui visita-lo, pelo pensamento do pai. Diferentemente do Dr. Ferguson, ele merece ficar bem.  É uma boa pessoa. Já se depurou bastante, agora chegou a hora de fazer pelos necessitados.

                 Os dois médicos, precisam passar pelo que estão passando e ainda vão sofrer muito mais, até melhorarem como pessoa. Tem inteligência, mas não tem coração.  Você pensa que vão eliminá-los? Não vão. Não precisam, eles caminham para a loucura. No fundo são dois suicidas. Vão ficar presos aqui na base até o fim. E não foi por culpa minha, o que estão passando. Não são boas pessoas, Natasha.

              - Mas você não pode fazer nada? Faz alguma coisa por eles, Dyllon. – pediu Natasha, quase implorando.

              Dyllon olhou-a entristecido. Tentou esboçar um sorriso, mas não conseguiu. A tristeza não era pelos médicos, mas sim por decepcionar a enfermeira. Mesmo com o olhar amargurado dela, ele não ia fazer nada pelos dois. Nem ele sabia porque alguma coisa impedia dele socorrê-los.

              - Minha querida enfermeira. Você tem um coração tão grande. Mesmo depois desses anos todos, essas duas pessoas sempre a tratando mal, você ainda pede pela vida delas. Eu gostaria de tentar ajuda-los, mais por você do que por mérito deles. Entretanto, talvez você não entenda, porque você acha que eu posso tudo, alguma coisa bloqueia  essa ajuda. Não estou conseguindo fazer nada por eles. Eles têm que ficar, onde estão. Só isso. Só ajudo quem posso ajudar. Parece que é uma permissão. Mas de quem? Não sei dizer.

               Vamos cuidar da gente. Vocês se preparam para sairmos daqui amanhã, logo cedo. É bem provável que venham outros médicos hoje a noite, porém não vai atrapalhar nada os nossos objetivos. Pode ficar tranquila que não tem injeção hoje. – sorriu.

               - Dyllon, como é que você ainda consegue sorrir? Olha só para Zé Antônio: não está entendendo nada, com certeza. Olha o olhar dele de paisagem. Eu tenho certeza que ele vai me acompanhar, mas nem sabe para onde vai. Você já pensou se você me leva para outro planeta? Como é que vai ser?

                - Calma Natasha. Eu não tenho certeza para onde vou. Só quero tirar vocês daqui. Tenho certeza se você ficar, vão sumir com você. Ficando do meu lado, eu a protegerei. Não posso deixa-la na mão dessas pessoas cruéis.

                - Está bom, Dyllon. Realmente não posso ficar por aqui, tenho muito medo. Não sei se realmente Zé Antônio vai me acompanhar. Ele deve ter uma família esperando-o.

               - Não, Natasha! Não tenho ninguém me esperando! Sou só. A minha família, agora, é você. Não tenho nada que me prenda. No seu caso é  que é  mais complicado, porque você tem uma família, não é?

               - Sim. Mas eu nem posso ir para casa, senão posso colocar meus familiares em risco. – fez uma pausa - Eu não sabia que você era só na vida. Isso é muito triste, não ter ninguém.

              - Acho que já me acostumei. Não conheci os meus pais biológicos.  Fui abandonado na porta de um orfanato, onde fiquei até aos meus dois anos de idade. Uma senhora que prestava serviço voluntário lá,  me viu, logo que cheguei na instituição, e acabou sendo a minha mãe. Mas a adoção foi só aos dois anos. Era sozinha na vida. Viúva e sem filhos. Morreu, não tem muito tempo. Sinto muita saudade dela. Uma mulher excepcional. A minha mãe, de verdade. Ela me amava muito e eu a ela. Mas agora, não tenho nada e nem ninguém que me prenda aqui.

              - Então me escuta. – disse Dyllon – Já que vocês não podem ficar por aqui, podem ir para qualquer lugar. Certo? Então, se eu for para o fim do mundo, vocês podem ir comigo. Até para outro planeta...

              - Dyllon, ainda não consegui me acostumar com essa idéia. Meu amigo, às vezes que saí de casa para outra cidade, sempre me achei uma  “estranha no ninho”. Já imaginou indo para outro planeta?

.....Continua Semana que vem! 

 

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