terça-feira, 9 de julho de 2024

Uma Luz e Nada Mais - Parte 11

 


 Continuando...

             Antes de tirar o cachimbo da boca, mudou-o de lado algumas vezes e bateu levemente com ele na lateral de uma lixeira que estava ao seu lado, com um ar de contrariedade. A fumaça continuou a subir de dentro da lixeira e, antes que o colega reclamasse, pegou um copo de água, encheu-o e derramou em cima do fumo que ainda queimava.

             - Satisfeito? – disse para o amigo. Dr. Walter balançou a cabeça e sorriu levemente.

             - Ferguson, estou aqui pensando, pensando... Será que essa criatura não vai falar? Há vinte anos  que se espera por isso. Temos que saber o que aconteceu lá. O artefato funcionou, mas como aquelas dez famílias sobreviveram? Claro que não estávamos aqui. Nâo vimos nada, ficamos só sabendo da boca da chefia. Nada foi destruído. Todas as casas permaneceram de pé. Sem barulho, como foi programado. O Dr. Iran garantiu e cumpriu. Aquela tal luz vista por toda a equipe, cobriu toda as casas e protegeu os seus moradores. O que era aquilo?

            - Walter, não sei. Nesses quase dez anos não consigo entender porque mataram todas aquelas pessoas depois da experiência. Não havia necessidade disso.

            - Na época, segundo eles, acharam que seria um risco para as pesquisas deixarem aquelas pessoas vivas.  Você sabe que a radiação continua ativa naquela área, depois de tanto tempo. A área continua isolada.

            - Mas Walter, até criança foi morta. E ninguém ficou contaminado.

            - Aqueles pobres coitados de qualquer jeito iam morrer. Estavam todos contaminados, sim. Não estavam contaminados com a radiação nuclear, mas estavam doentes. A estimativa para a vida daquela gente seria curta, assim afirmaram. Além de uma perspectiva de um futuro de muito sofrimento, disse  Dr. Frank. Segundo ele, foi melhor assim, como foi resolvido, e não se esqueça, Ferguson, que foi decidido por toda equipe.

            - Eu não estava presente, mas não me conformo. E por que escolher aquela comunidade para cobaia?

            - Ferguson, eram pessoas sem nenhuma perspectiva de vida. Era uma comunidade pequena, de pessoas com a saúde muito precária. Foi bem escolhida. Se não fosse com a arma, seria uma morte pela tuberculose. Já estavam todos contaminados pelo bacilo. Era só questão de tempo. Uniram o útil ao agradável. E se não fosse aquela comunidade, seria outra. Ninguém sabia da existência deles. Era um grupo isolado. Não era indígena, talvez garimpeiros que se perderam na mata e acabaram formando uma comunidade.

            - Mas Walter, podíam tentar salvá-los! Cuidar daquela gente!

            - Você fala como estivesse aqui na época. Pelo que nos foi explicado,  não tínham como ajuda-los. A maioria já estava em estado terminal. Agora não adianta ficar nesse estado. Foi tudo pela ciência. E nunca se esqueça que estamos todos no mesmo barco. A decisão foi da equipe. E foi a mais certa. E fazemos parte dela. Aceitamos tudo quando entramos. Esquece o sentimentalismo.

            O silêncio de repente separou os dois. O Dr. Ferguson colocou os braços em cima da mesa e abaixou a cabeça por sobre eles. Por outro lado, o Dr. Walter continuava a andar pela sala. O seu rosto era uma carranca. Olhava para o colega ali na sua frente de cabeça baixa e parecia que tinha vontade de acabar com a raça dele, tanta era a sua expressão carregada.

             Vinte anos já tinha se passado e o lugar, perdido dentro da floresta, continuava sendo vigiado e isolado do mundo. A localização continuava em sigilo até a presente data. O destacamento que ali fora instalado, mantinha um pelotão com cinquenta seis homens, que a cada seis meses era substituído. Chegavam à noite e, seis meses depois saiam, também à noite. A curiosidade era sobre os pilotos, que antes da decolagem, bebiam alguma coisa que os deixavam sem registro algum daquela viagem.

             O comando e os soldados, desconheciam a localização daquela região. Nenhum equipamento fora deixado com eles. Nem um simples mapa. Estavam ali, simplesmente para tomar conta de uma área isolada por um muro e arame farpado. O comandante sabia que era um local que fora usado para uma experiência nuclear, logo tinha que manter todos longe dali. Qualquer estranho que se aproximasse, era abatido. Aquele projeto era segredo de estado. Mas será que o Estado sabia da sua existência? 

Continua Semana que vem!

 

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