terça-feira, 30 de julho de 2024

Uma Luz e Nada Mais - Parte 14


 

Continuando...

        O nervosismo, misturado com ansiedade, era tanto, que o papel já estava todo amassado entre os seus dedos. O seu estado emocional era tão crítico, que o coração já tentava sair pela boca. Natasha pensava que não ia conseguir chegar até próximo ao rapaz, que era a sua única esperança de sair dali, porque tinha quase certeza que cairia fulminada por um ataque cardíaco. Com a respiração alterada, deu uma pequena parada, fingindo olhar a sua prancheta de anotações diárias. Procurou fazer algumas respirações profundas para harmonizar seus batimentos cardíacos. Nisso o rapaz apareceu no corredor a poucos metros à sua frente. Aí é que Natasha colou os pés no chão. O rapaz já estava quase ao seu lado, quando conseguiu esticar um pouco o braço, tocar a mão dele e passar o bilhete amassado. Ele só conseguiu pegar o tal papel, porque parou e cumprimentou-a. Se não tivesse parado, a operação não teria êxito.

           O rapaz continuou apertando o papel na mão e, depois de caminhar alguns metros, parou e olhou para trás. Foi nesse momento que Natasha conseguiu descolar os pés do chão e se dirigir, quase correndo, para o quarto onde estava confinado o homem misterioso.

            Natasha entrou esbaforida. Dessa vez não encostou no leito de Dyllon, sentou-se na poltrona logo próximo à porta. Mas ele sabia que tinha entrado alguém. Ficou na dúvida se falaria. Por precaução esperou a pessoa se aproximar, mantendo apenas os olhos bem abertos. O silêncio o preocupou. De repente, mesmo sem ver, sentiu um cheiro, não de perfume, mas exalado pela pele de uma pessoa. Essa apuração do seu olfato ainda não tinha percebido. Quando o cheiro impregnou a sua narina e tomou conta da sua alma, ele sorriu.

            - Natasha? – falou baixinho.

            - Sim, sou eu. – respondeu a enfermeira, depois de alguns segundos - Como você sabia que era eu? Eu nunca entro nessa correria toda, não é?

            - Eu – fez uma pausa – Eu senti o seu cheiro. Acredita?

             Ela se levantou, foi até a cama, pousou as suas mãos no braço dele e, com os olhos mergulhados em lágrimas, olhou-o no rosto. Ele sorria. Depois ficou emocionado quando percebeu as lágrimas que ela deixou escapulir.

            - O que houve, Natasha? Chora por quê?

            - Que chorando o quê! – enquanto respondia, passava às costas da mão nos olhos – Agora estou feliz. Você sentiu o meu cheiro? Mas eu nem uso perfume. Na verdade, não posso usar.

             - Mas não é de perfume. É o seu cheiro natural. Cheiro de mulher. E é muito bom. – sorriu com uma ponta de malícia.

             Ela corou na hora, mas procurou parecer de desentendida. Ele percebeu e brincou.

            - Ficou envergonhada, Natasha? Não foi a minha intenção deixa-la sem jeito. Mas o seu cheiro é muito bom. – disse sorrindo.

             - E... deixa disso, Dyllon! Assim você me encabula! Deixa de ser bobo, hein! Olha que você está acamado! E além do mais... deixa pra lá! Está legal?

             Dyllon engoliu o riso e procurou saber o motivo da entrada tão rápida na enfermaria.

             - Consegui, Dyllon, entregar o bilhete para ele. Não sei como foi essa façanha, mas consegui. Parece até que já esperava por isso. Muito estranho, você não acha? A sorte está lançada, e agora é só esperar. Que Deus nos ajude, Dyllon! Que Deus no ajude!

            O estranho paciente da enfermaria sem registro aparente, ficou em silêncio, cismando, enquanto Natasha colocava a sua cabeça em cima do seu corpo. Mesmo mergulhado em pensamentos, ele percebeu aquela forma carinhosa que a enfermeira demonstrou. Sorriu demonstrando contentamento. Mas logo em seguida uma tristeza, que seria passageira, apareceu na seriedade que o abateu. O motivo era que gostaria de passar a sua mão na cabeça daquela linda e boa mulher.

 .......Continua Semana que vem!

quinta-feira, 25 de julho de 2024

Pensamento de Poeta - Entre o Céu e a Ignorância

 

 


ENTRE O CÉU E A IGNORÂNCIA  

= José Timotheo -


Nuvens

Nuvens brancas

Rajadas de vermelho

O céu sangra?

Não sinto o firmamento

Tão firme assim

Percebo uma sombra de abandono

Mas não confirmo essa orfandade

Alguém continua a olhar por nós

Atrás de uma cortina

Quero crer nessa crendice

Não posso admitir que do céu

Só caem chuva e mísseis

As nuvens continuam lá

Rajadas de vermelho

É a ignorância que faz sangrar

A Terra

Terra, que falta de respeito por vós...

Que o céu nos ouça

SOS

SOS

                                                              Fim

terça-feira, 23 de julho de 2024

Uma Luz e Nada Mais - Parte 13

 


Continuando...

            Mas Dyllon, e se for um medicamento que não pode ser interrompido? – falou preocupada a enfermeira.

           - Vamos interromper e observar o que pode acontecer. Em dois dias, de repente, se me sentir mal, volto a tomar o medicamento. Agora vamos tentar resolver outras questões em relação ao contato com o rapaz, as câmeras e... por enquanto é só isso.

           - Tudo bem. Dyllon, como vou falar com o funcionário? Já encontrou alguma solução?

             - Sim. Tem um jeito. Você tem que descobrir o horário da troca de turno.

            - Isso eu sei. – ela interrompeu bruscamente Dyllon.

            - Calma, Natasha. Você está ansiosa. Sabendo o horário da troca de turno, já é meio caminho andado. Então eu pensei o seguinte: na hora que ele sair da sala, você já deve estar no corredor a caminho daqui. Quando passar por ele, você entrega um bilhete.

             Natasha ficou olhando para Dyllon, que havia feito uma pausa, sem saber se podia interrompe-lo. Ele sorriu e mandou-a fazer a pergunta que quisesse.

            - Escuta só Dyllon... – ficou em silêncio, por alguns segundos pensando - Escrever o quê nesse bilhete?

            - Diz que precisa falar com ele. Só que não sabe como fazer, já que é proibida de falar com outras pessoas da base. – me parece que isso aqui é uma base da marinha, ou do exército, ou sei lá do quê – E se ele saberia como resolver essa questão. Simples assim.

            - Simples assim? E você me diz que é simples assim. Dyllan e se ele entregar o bilhete para os doutores?

            - Natasha, temos que arriscar. O tempo voa. Vamos fazer o seguinte: esperamos dois dias para saber o que vai acontecer comigo sem o medicamento. É tempo para amadurecer a ideia. Depois voltamos ao assunto. Se bem que não vejo outro jeito de buscar informações. A única saída é o rapaz. Vê se passa por ele hoje.

           - Hoje não dá. Ele só passa aqui no corredor na saída do plantão. Vou tentar amanhã de manhã. Vou rezar bastante! Bastante!

           Dyllon deixou escapar um sorriso. Natasha acabou sorrindo junto, demonstrando um pouco de descontração. Depois mostrou o comprimido e em seguida colocou-o no bolso do jaleco. Virou-se, após um aceno de mão, e se dirigiu para a porta. Mas antes que encostasse a mão na maçaneta, Dyllon chamou por ela.

            - Natasha, antes de sair eu quero te fazer uma pergunta.

            Ela voltou e encostou as duas mãos no braço dele e, deixando cair um sorriso, esperou que ele falasse.

            - Me diz uma coisa: começaram a me dar os comprimidos depois que acordei, certo? Antes eu tomava alguma coisa?

            - Eu aplicava uma injeção diariamente. Deve ser do mesmo princípio ativo. Você tomava soro também. Ele já vinha misturado com alguma coisa que eu não sei o que era. Se eu pudesse sair daqui, levaria esse comprimido para fazer uma análise. Não sei para o que serve.

            - Não se preocupe, Natasha, nós vamos descobrir para o que serve em pouco tempo, assim espero. Vamos aguardar com paciência.

             No dia seguinte, às sete horas da manhã, Natasha saiu do seu quarto e se dirigiu para a enfermaria onde estava o misterioso Dyllon. Ela ia sempre às oito horas, mas escolheu ir mais cedo, para coincidir com a troca de turno dos funcionários, que controlavam todo o sistema de segurança da base.

            Natasha caminhava devagar pelo corredor tentando aparentar calma, mas que na verdade estava longe de existir. Nem foi tomar o seu café da manhâ, habitual. Realmente não estava sentindo fome. Pensou em deixar para depois do encontro com rapaz.

 .....Continua Semana que vem!

sábado, 20 de julho de 2024

Dia Internacional da Amizade - Repostando - Amizade...É Amizade

 


 

 AMIZADE... É AMIZADE 

- José Timotheo -

A amizade é engraçada

Às vezes aparece

No meio de um desencontro

Se chega de um jeito antipático

Mas não é antipatia

Parece que se atropela na magia

Porque é contraditória ao nascer

Vem sem briga

Mas derruba barreiras

Desconhece a cor

Pode ser branca, preta   

Amarela

Dentro de um balaio de flor

Não é preconceituosa

Trabalhadeira ou ociosa

Benquista ou marginal

Ela canta samba ou bolero

É erudita ou brega

Dança até sem ritmo

É uma bailarina de quintal

Simplesmente brota

De um olhar cativo

Sem ser escrava ou liberta

Mas, é senhora sem ser dona

Mas como?

A amizade, não tem dono

Eu afirmo

É um sentimento maior e liberto

Que carrega uma corrente

Na alma

Que não tem peso e não causa dor

Porque não é paixão

E nem é amor

A amizade é singela

Brilha sem ser ouro

É dura sem ser concreto

Não tem religião e nem culto

É obscura e sol brilhante

Historicamente sem credo

Mas tem sua igreja, seu templo

Tem sua magia, sua fé

Ela domina, sem dominar

Canta, sem precisar cantar

Ela dorme por anos e anos

Sem esmaecer

Quando desperta tempos depois

Ao simples toque do ver

Renasce ali, naquele momento

Sem nunca ter pensado em morrer

A amizade é assim

Parecendo esquecida

Se mostra sem idade

Ao simples reencontro do ser

Quem vai explicar a amizade?

Sinceramente, nem Deus se arrisca dizê-lo

Pois não programou ao fazê-lo

É como um escultor que idealiza a sua obra

E se surpreende no final

Ao ver a sua modelo pagã

Transformar-se numa santa virginal

Amizade... É amizade

E ponto final

                                            ... sem FIM, é claro