terça-feira, 4 de junho de 2024

Uma Luz e Nada Mais - Parte 06


 

 


Continuando...

            Às vezes penso que estamos em algum lugar secreto e enterrado no chão. Quando eu vim para cá, eu peguei o metrô em São Paulo fora de horário. Era só um pequeno vagão. Lembro que era eu e mais duas pessoas: um rapaz e uma moça. Antes de entrarmos, bebemos alguma coisa. Depois não vi mais nada. Só acordei quando cheguei aqui. Então eu não sei onde estou.

            Ela falou em duas pessoas. Fiquei curioso. Quem seriam elas? De repente elas podem nos dizer alguma coisa. Seria importante perguntar a elas. Não sei por quê veio na minha cabeça a dúvida, se deixariam Natasha sair dali. Perguntei preocupado.

            - Sabe que nunca pensei nisso. Agora você me deixou preocupada. Como saber disso? Tenho que investigar. Alguém deve saber de alguma coisa. Mas quem? O contato que temos com outras pessoas é muito restrito. Tem quatro rapazes que tomam conta de todo o sistema de segurança. Cuidam de câmeras, alarmes e, sei lá, mais algumas coisas. Ficam em dupla durante quinze dias. Cada um fica vinte e quatro horas direto. Almoçam e fazem tudo o mais na cabine. Esses eu sei que saem e voltam quinze dias depois.

            Interrompi ansioso. Natasha, você se dá com algum deles?

            - Não. Só tem um que sorri para mim, quando passo. Nesse tempo todo aqui, encontrei com ele várias vezes no corredor. Já sei, mais ou menos, até os dias que ele está de plantão. Os outros três, passam por mim como se eu fosse invisível. Já me acostumei e não ligo. Só gosto mesmo do que sorri para mim.

            E os outros dois que vieram com você?

            - Nunca mais eu os vi, Dyllon. Nem sei o setor que estão. Ou se ainda estão por aqui.

            Ficamos em silêncio. Olhei para a parede da frente e para o teto. De repente fiquei preocupado. Estávamos correndo risco. Principalmente Natasha. Com certeza estávamos sendo vigiados por sistemas de câmeras e de som. Estavam escutando a nossa conversa. Olhei para ela e não falei nada. Natasha sorriu e falou:

            - O que foi que houve? Ficou mudo de repente.

            Tentei sorrir, mas saiu um arremedo de algum tipo de bom humor. Ela percebeu que aconteceu alguma coisa comigo. Se aproximou mais da cama e passou a mão no meu rosto. Olhou nos meus olhos e viu que eu estava assustado. Aproximou mais o seu rosto do meu e sussurrou no meu ouvido.

            - O que houve, Dyllon? Sinto que ficou nervoso. Conta o que houve.

            Demorei a me expressar novamente. Depois de algum silêncio cochichei, mas ela não entendeu. Era de propósito o que estava fazendo, para força-la a colocar a sua orelha próxima a minha boca. E foi o que aconteceu. Então disse: Natasha, continua com a sua orelha bem perto, porque vou te contar um segredo. Ela levantou a cabeça e sorriu. – Segredo? – perguntou. Sim, confirmei. Ela então encostou a sua orelha na  minha boca, que eu nem consegui falar. Percebeu na hora e afastou-a um pouco, mas com um sorriso de prazer nos lábios. Imaginei que deve ter sentido cócega no contato da minha boca com a sua orelha, ou outra coisa.

            Custei a tomar fôlego, mas finalmente revelei a minha preocupação.

            - Não precisa se preocupar, Dyllon. Essa sala não tem sistema de escuta e nem câmeras. Aparentemente só eu e os médicos sabemos da sua existência.

            Lembrei-me das outras pessoas que ali trabalharam antes dela, como enfermeiras. E também os médicos. Percebi a sua preocupação, na hora que falei. Concluiu que não eram só três pessoas que sabiam da minha existência. Ficou pensativa e andou pela sala. Circulou várias vezes em volta do meu leito. A minha cama fica no centro da sala, fui saber disso depois. A sua tensão era visível. Perdi a conta das vezes que ela passou na minha frente. Também era o único lugar que eu conseguia ver. Pela primeira vez ela ficou bastante tempo comigo. Então alertei-a sobre a desconfiança que isso podia gerar. Concordou e foi em direção à porta. De repente parou no meio do caminho e disse que ia investigar. Não sabia por onde começar, mas ia tentar descobrir sobre as outras pessoas que trabalharam antes dela. Antes que ela saísse quis saber sobre a segurança da porta. Fiquei triste, porque existia uma outra porta por fora, comandada pelo funcionário que ficava dentro de uma sala, de onde vigiava tudo. E o pior é que essa porta de dentro só abria com a sua impressão digital, ou dos médicos. Como sair dali? E para completar eu estava preso à cama. Chance zero? 

......Continua Semana que vem!

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