Continuando...
O que poderia ser? Não tinha a mínima ideia. Aqueles olhos penetrantes, de um verde forte, invadiam a minha alma, me deixando sem o que responder. Ainda mais falando tão perto do meu rosto. Senti até o seu hálito morno e perfumado lamber-me a boca. Os seus cabelos castanhos claros exalavam um perfume que me deixou emocionado. Será esse o termo? O cheiro me levou para algum lugar no passado. Infelizmente só ficou nisso. Era uma recordação, mas de quê? Do quê? Que coisa angustiante você não conseguir levantar o véu do esquecimento. Ou do tempo? Sei não... A coisa está lá, mas onde? O perfume lambuzou a minha saudade. Mas saudade de quê ou quem? Só pode ser de quem. Pelo menos se não descobrir o ontem, tenho o hoje para não esquecer mais. Esse cheiro é da minha deusa.
Custei a perguntar que assunto era esse. Lembrei-me que ela ia falar com os médicos sobre a minha melhora. Então perguntei. Mas ela disse que tinha voltado atrás. Por motivos que iria me explicar naquele momento. Apenas balancei a cabeça esperando o que ia me revelar sobre a sua desistência. Então começou:
- Dyllon... – fez uma pausa. – Eu saí daqui muito entusiasmada com a sua melhora. Só o fato de você abrir os olhos, já foi fantástico. Aí você falou. A emoção foi muita. Tinha que falar com os médicos. Quando ia chegando na sala deles, qual não foi a minha surpresa: conversavam sobre você. Diziam que você era um experimento. E que não ia sair daqui nunca. Tinha que continuar preso, agora mais do que nunca, porque não sabiam quem você era e de onde era. – De onde eu era? – interrompi o seu relato, mas ela não contestou e continuou com a mesma doçura na voz. - Ninguém sabe nada de você, Dyllon. Encontraram-no, não sei onde, num lugar que o único sobrevivente foi você. Nunca tive acesso a nada a seu respeito. Sou apenas uma enfermeira.
Fiquei pensativo sobre o que me falava. Não saber o meu nome, é uma coisa, agora não saber de onde eu era, é bem diferente. Já que me encontraram em um lugar que fui o único sobrevivente, logicamente seria desse lugar. Não entendi esse “de onde eu era”. Isso me deixou encucado. Ela viu minha expressão pensativa, fez uma cara de compaixão e continuou.
- Fica triste não. Ninguém acreditava que você fosse acordar e você acordou. Você está vivo. Isso é que é o mais importante. Vinte anos dormindo, não é pouco.
Vinte anos! – repeti. Me responde uma coisa: o que levaram eles a terem dúvida sobre a minha origem?
- O seu sangue é diferente. – falou receosa.
O que tem no meu sangue? Qual o seu nome?
- Eu me chamo Natasha. Agora, sobre o seu sangue...
O que tem ele, Natasha? Belo nome.
- Obrigado. O seu sangue é diferente de todos os tipos conhecidos. Não conseguiram identificar o seu sangue.
Como pode ser isso? - Perguntei e ela me olhou pensativa. Devia estar vasculhando na cabeça para encontrar a resposta. Depois de algum tempo absorta disse:
- Dyllon, essa resposta eu não sei dar. Nem os cientistas ainda encontraram a resposta. De vez em quando ouço alguma coisa daqui, dali, sabe como é que é, e vou juntando tudo aqui na cabeça. Há três anos que estou aqui cuidando de você. O meu contrato é de cinco anos. Não saio daqui pra nada. Esse tempo todo aqui e ainda não fui em casa.
- Por que isso? – perguntei intrigado.
- É uma cláusula do contrato. Se eu disser a você que não sei onde estou, você acredita?
Não sei bem o que senti. Surpreso? Surpreso com o que, se não sei o que é um contrato. Mas pelo menos é estranho o fato de uma pessoa ficar confinada em um lugar por três anos. Isso é. Mas e eu? Estou aqui há vinte anos. Gostaria de saber o que é um contrato. Será que eu tenho um? Perguntei.
- Você não tem nenhum contrato. O que eu tenho é um documento de trabalho. Eu aceitei trabalhar assim. E ganho muito bem. Quando eu sair daqui, vou usufruir desse dinheiro. Nem vou precisar trabalhar mais na minha vida. O dinheiro é depositado todo mês numa poupança.
Poupança. Também não sei o que é isso. Esse negócio dela não saber onde estar, é muito estranho. Se não sabe dela, muito menos de mim. Estou curioso pra saber se estamos enterrado no chão. Parece que adivinhou o que eu estava pensando.
........Continua na Semana que vem!
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