terça-feira, 7 de maio de 2024

Uma Luz e Nada Mais - Parte 2

 


Continua...

            Fui despertado com um toque de mão no meu braço. Abri os olhos e lá estava o anjo me olhando. Sorriu e deu bom dia. Então era dia. Na hora não arrisquei responder, apenas retribuí o sorriso. Ela perguntou como eu estava passando. Sinceramente não sabia o que fazer. Não podia falar, balançar as mãos, ou a cabeça dizendo que estava bem. Como eu estava bem? Para princípio de conversa a minha cabeça estava vazia. Oca mesmo. O espaço no meu cérebro só estava ocupado por um portão branco, largo e alto. Como podia pensar em responder que a minha vida era um mar de rosas! Apenas sorrir de novo, era o que eu podia fazer.

          Enquanto pensava no que fazer, olhava aquele rosto lindo. Depois alguém levantou um pouquinho a minha cabeça. Deve ter sido o anjo que levantou a cama. Agora via melhor a minha frente. Consegui ver os meus pés. De repente veio de novo o pensamento que tinha morrido. Se tinha passado para o outro lado, até que o meu anjo da guarda era bonito. Anjo não, anja! Bota bonita nisso! Sorri de novo. Ela sorriu de volta e disse que eu estava melhorando a olhos vistos. Depois mediu a minha pressão e disse, continuando a sorrir, que estava ótima. De repente fechou o cenho e falou baixinho, mas consegui ouvir, que ninguém acreditava que fosse voltar à vida. Agora ela tirou a minha dúvida: estava vivo. Para ninguém acreditar que eu ia viver, era porque tinha ocorrido alguma coisa muito grave comigo. O que será que aconteceu? Me sentia bem. Não percebi nenhum sinal de dor. Aparentemente não tinha nenhum machucado. Pode ter sido um ataque cardíaco. Um infarto. Um AVC. Isso! Um AVC! Tentei logo mexer com as mãos. Mesmo presas pelo pulso, consegui fechá-las e abri-las. Mexi, limitadamente, também com os pés, porque estavam amarrados na altura dos tornozelos. Acho que não foi AVC. O que será que aconteceu? Posso ter contraído uma cirrose hepática, já que gostava de bebericar um pouco.

            Enquanto conjecturava, a santa, deusa, anjo - sei lá! -, foi se afastando. Sumiu como num passe de mágica. Numa vontade de tê-la por perto, num esforço sobre-humano eu disse: ei. Saiu baixinho, mas consegui emitir um som compreensível. Sorri emocionado. Era uma esperança que podia falar. Se ela voltasse, não podia perder a oportunidade. Comecei a treinar. Ei! Ei! A cada vez, eu conseguia um som mais alto. Parecia que as minhas cordas vocais estavam desenferrujando. Se é que a garganta enferruja. Tenho que perguntar sobre isso. Por que essa palavra veio na minha cabeça? Lembrei que qualquer coisa de ferro enferruja. Mas as cordas vocais são de ferro? Acho que não. Mas eu tinha um gosto metálico na boca.

            Treinei com outras palavras. Veio na minha cabeça a palavra sim. Repeti várias vezes. Já falava claramente. E foram outras e mais outras. Para minha surpresa formei frases. Pode acreditar. Veio brotando tudo. Sem me dar conta, já estava podendo manter uma conversação. Nem eu acredito. Lembrei de repente que antes da deusa sair, acho que estava distraído, ela colocou alguma coisa na minha boca e me deu água. Como não tinha percebido isso!

          Hoje acho que não dormi. Ou de ontem para hoje? Não sei muito bem. Só sei que estava acordado quando ela chegou. Escutei uma porta se abrindo. E silenciosamente ela se encostou na minha cama. Concluí que era uma cama de hospital. Ou uma maca. Agora não vem ao caso. O que importa mesmo era que a deusa tinha voltado. E antes que falasse alguma coisa, eu sorri e dei um bom dia. Era sorriu surpresa. Me perguntou como eu sabia que era dia. Agora respondi demonstrando felicidade. Ou apenas alegria. Era um bem-estar, isso era. Disse pausadamente que deduzi pela sua chegada. Isso com um sorriso largo, mostrando até os meus dentes. Ela se conteve para não dar uma gargalhada estridente. Apertou com suavidade o meu braço e disse que ia falar com os médicos sobre a minha recuperação. Se virou para sair, mas eu pedi que ficasse. Ela voltou, mas disse que era o trabalho dela deixar os médicos informados sobre qualquer alteração no meu quadro. Disse que não ia demorar. Tentei prendê-la do meu lado, mas foi em vão.

                Antes de chegar até a porta, voltou. Olhou-me com um olhar curioso. Perguntou qual era o meu nome. Achei a pergunta estranha. Ela não saber o meu nome? Respondi após alguns segundos em silêncio que não sabia. Voltei a pergunta que me fizera. Balançou a cabeça negando. Também não sabia. Estranho eles não terem o meu nome. Disse que o nome que me chamavam não era real. Me mostrou uma tabuleta onde estava escrito: paciente Dyllon, enfermaria 2, leito um. Entrada: 25/03/2000. Fiquei curioso com tudo aquilo. Perguntei que dia do mês estávamos. Quase morri de susto, quando ela disse: 25/03/2020. Não queria acreditar naquilo. Balbuciei: isso é verdade? Ela balançou a cabeça confirmando, com um semblante um pouco fechado. Aquele sorriso de antes, tinha ido embora. 

......Continua Semana que vem!

 

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