terça-feira, 18 de junho de 2024

Uma Luz e Nada Mais - Parte 08

 


Continuando...

              A enfermeira continuou andando em direção ao refeitório. O seu turno começaria duas horas depois. Na verdade, o seu turno era o dia todo. Tinha só os horários de almoço, jantar e dormir. Mas tinha que estar atenta para qualquer emergência. Essa era a sua maratona diária. Nesse trajeto ficou pensando em como falar com o rapaz da cabine, já que ele fazia tudo dentro daquele espaço restrito. Quando saía, era para ir embora. Ele nunca ficava ali. Lembrou-se que já tinha passado por ele algumas vezes no corredor. Nesses três anos, não conseguiu saber quantas vezes isso aconteceu. Agora tinha que ter certeza se era mesmo o plantão do tal rapaz. Mas só confirmar pela manhã, com a troca do plantonista.  

            Quando iniciou o seu trabalho ali naquela base, que não sabia a que órgão pertencia, viu-o pela primeira vez. Então ele era antigo ali. Deve ter conhecido as enfermeiras que trabalharam antes dela. Mas como conversar com ele, se eram monitoradas por câmeras? Os seus contratantes foram claros quando disseram que não podiam trocar palavras com ninguém da base, a não ser com os dois médicos.

           Natasha almoçou, para variar, sozinha. Nem sabia quem fazia aquela comida diária. Nunca tinha avistado ninguém da cozinha. Quando ela chegava a sua bandeja já estava em cima da mesa. Ao fim da refeição, levantava e colocava a bandeja em uma passagem aberta na parede, sem sequer ver alguém a quem pudesse agradecer. Depois ia para o seu pequeno quarto, escovava os dentes, descansava um pouco do almoço e ia  ver o seu um misterioso paciente.

            Uma câmera, presa na parede, em frente ao seu quarto, era a sua companheira diária. Várias vezes teve vontade de quebra-la, ou jogar um pano em cima daquele olho indiscreto e irritante. Os únicos lugares que tinha um pouco de privacidade era dentro do quarto, no banheiro e no quarto do paciente. Isso é vida? Se perguntava  diariamente.

             Enquanto fazia a sua sesta, pensava em como falar com o rapaz da cabine, um dos funcionários daquele setor, burlando a vigilância.  Ia tentar falar, mas não tinha certeza se ele não a delataria. Era um tremendo risco que ia correr, mas sabia que era a sua única esperança de saber sobre as outras enfermeiras que trabalharam antes dela.

             Conhecia-o só ao cruzar com ele no corredor, assim mesmo não conseguira gravar muito bem a sua fisionomia, e nem sabia o seu nome, muito menos se era uma pessoa a quem pudesse confiar. O que estava querendo fazer, poderia antecipar o seu fim. Podia entrar numa enrascada.   A dúvida veio à baila. Mas também o que tinha a perder? Só poderia antecipar a sua morte. Já que ia morrer de qualquer jeito, ia arriscar. Pensou e balançou os ombros.

            Se desse certo, só gostar dele, não bastava. Não sabia se ele gostava dela, ou se queria apenas tê-la nos seus braços.  Mas também não podia imaginar como isso seria possível. Cada lugar dali tinha uma câmera. Depois desses pensamentos ficou desanimada. Não via como sair dali. Concluiu agora que era uma prisioneira, como o seu paciente. Mas o rapaz não era prisioneiro. E tinha folga de vinte e quatro horas. Era a oportunidade que tinha. Esse risco a deixou excitada.

             O desanimo que a abatera, de repente sumiu. A perspectiva de poder manter contato verbal com o rapaz do monitoramento, levantou o seu moral. A esperança se fez presente. Agora não podia deixar de tentar, já que em dois anos talvez desaparecesse da face da terra, tudo tinha que ser tentado. Com certeza, mesmo que descobrissem o que pretendia o que podia acontecer? Estava claro que o seu fim seria ali dentro, já que participava de uma coisa secreta. Na sua cabeça esse pensamento foi crescendo tão rapidamente que a dúvida que fosse morrer dentro de dois anos, virou realidade. Tudo ficou claro na sua cabeça. Chegou a tremer só em pensar que jamais veria a claridade do dia. Mas não podia esmorecer, o tempo era curto. Tinha que agilizar para obter informações.

             A porta foi se abrindo sem ruído. Dyllon percebeu a aproximação de Natasha. Mesmo sem vê-la, ele sabia que era ela. Já sentia a sua presença bem antes de ela chegar perto. Ela não podia usar perfume, mas ele sentia o seu cheiro. Parecia que tinha faro de cachorro. Ele a esperou, de olhos fechados.

Continua Semana que vem!

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