terça-feira, 11 de junho de 2024

Uma Luz e Nada Mais - Parte 07

 


 Continuando...

            No dia seguinte Natasha não apareceu. Quando ela chegava, eu acordava. O dia seguinte é hoje. O que houve? A esperança de ela aparecer estava é me deixando ansioso. Tive vontade de gritar, chamando-a, mesmo sabendo que ninguém ia me escutar. O grito chegou a se manifestar, mas preferi engoli-lo. O lugar, conclui, era à prova de som. Será que descobriram tudo que ela me disse? De repente gravaram a nossa conversa. Então devia ter algum ponto de escuta que esconderam dela.

            Enquanto pensava, ouvi um ruído na porta. Pensei em gritar por ela, mas, não me pergunte porquê, abortei o entusiasmo. O som que me chegou ao ouvido, não era suave. Concluí que não era Natasha. As pisadas eram pesadas. E era mais de uma pessoa. Continuei de olho aberto até que os dois médicos, acho que eram os mesmos, se aproximaram da cama. Olharam-me, abriram mais os meus olhos e, com uma pequena lanterna, meteram um facho de luz para dentro deles. Depois comentaram que aparentemente eu estava bem, já que nunca existiu esperança alguma para que voltasse a abrir os olhos para o mundo. Depois se afastaram um pouco da cama e continuaram a conversar. Um perguntou ao outro se acreditava que eu falaria um dia. O outro respondeu, como eu fiquei vinte anos dormindo e de repente abri os olhos, poderia acontecer do nada eu falar. Para ele era o que mais importava, depois desses anos todos esperando por isso. Queriam saber de onde eu era. Essa era a questão. Um deles falou alguma coisa que não entendi. Me parece que foi fora da Terra. Um ainda riu, ao perguntar ao outro se eu levaria mais vinte anos para falar. O seu colega respondeu num tom que não gostei.

             -“ Depois das informações que arrancarmos dele, não vai servir mais para as nossas pesquisas. Não vai servir para mais nada.  Natasha não pode deixar de dar os compridos a ele. Não sabemos o que pode acontecer quando ele acordar.”  

             Abriram a porta com violência e saíram rapidamente do quarto. Quem são essas pessoas? Pelo menos Natasha não foi descoberta. As minhas suspeitas foram infundadas, graças a Deus. O que eles querem de mim? Natasha tem que descobrir. Mas tem tantas coisas para ela resolver, que eu suspeito que levarão mais vinte anos. 

             Passei esse dia amargurado. Pensava numa porção de coisas ao mesmo tempo. Com a presença deles, não posso emitir qualquer som, para minha segurança. Olhos abertos e nada mais. O que querem saber? Eu não sei de nada. Nem quem eu sou, eu sei. Uma pessoa sem identidade, sem nada, essa é a verdade. E as minhas impressões digitais? Isso! Podem descobrir quem eu sou por aí! – deu um muxoxo - Mas eles já devem ter tentado. Só Natasha pode me esclarecer isso. Mas disso tudo uma coisa eu tenho certeza: eles vão me matar. Por quê isso? Serei uma pessoa assim tão importante? Lembrei de uma coisa agora: o medicamento que tomo diariamente. Natasha tem que me falar sobre ele. Pelo tom de voz de um dos médicos, é muito importante que continue tomando regularmente. Será para que serve?

             Mais um dia que a minha Deusa não aparece. Mas uma outra pessoa me deu o medicamento. Não sei quem foi. Pode ter sido um dos médicos. A minha preocupação primeva é em relação ao desaparecimento de Natasha. A conversa dos médicos me deixou acreditar que ela estava bem. Entretanto esse sumiço por dois dias, está me deixando preocupado realmente. A dúvida sempre pousa nos meus pensamentos. Aí já não tenho mais certeza se foram dois dias. Pode ser um dia apenas. Também pode ser até mais do que dois. Essa confusão na minha cabeça deve ter relação com a medicação? Só Natasha para me esclarecer. “

              Natasha ia pelo corredor e olhou para a cabine. Imaginou o rapaz que operava o sistema de segurança, olhou-o, sem vê-lo, e sorriu. Ele, que acompanhava todos os seus movimentos, deu uma parada no que estava fazendo e retribuiu o sorriso. Era o mesmo que ela sentia simpatia, o mesmo que ela comentou com Dyllon. E parece que o homem sentia a mesma coisa por ela. Era moreno, com traços andinos. Com um par de olhos bem diferentes, que não eram negros ou castanhos, verde ou azul, era quase amarelo. Pareciam olhos de felino. Mas não parecia uma pessoa com instintos selvagens. Podemos dizer que estava mais para um animal domesticado. O que eles sentiam era simpatia mesmo ou outra coisa? Ela principalmente estava isolada do mundo havia três anos e o contato com outras pessoas era restrito. Um quase morto que ressuscitou e dois médicos que a tratavam como alguma coisa que quase nem viam. A invisibilidade era quase total. Três anos sem se relacionar com ninguém.  Era um ser invisível realmente. Mas carente.

.....Continua Semana que vem!

 

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