terça-feira, 28 de novembro de 2023

A Minha Casa Não é Essa - Parte 81

 


 Continuando...

            As crianças vieram e tomaram a benção aos tios e entraram todos na casa. Eva pegou o bolo que já tinha feito para levar na viagem e a compota de pêssego. Rapidamente fez um café para todos, menos para o tio, que pediu um copo de vinho tinto. Carl pegou o vinho e duas taças e serviu para os dois. Kurt vendo a expressão do sobrinho, comentou:

            - Carl fique tranquilo. Vamos beber essa taça para deixar os nervos no lugar.

            O general bebeu de um gole só, já o sobrinho foi sorvendo gole a gole. Parecia que o vinho não passava na garganta, criando uma bola antes de começar a descer. Mas descia, só que arranhando. Kurt observava-o e de vez em quando deixava escapar um sorriso. Mas vendo o sofrimento do sobrinho, tirou-lhe a taça da mão e levou-o até uma cadeira. Sentaram-se frente a frente e o general calmamente disse:

            - Carl, você parece que vai explodir. Se você se olhar no espelho, com certeza, vai se assustar. O seu rosto está completamente vermelho. Nessa hora não cabe o desespero. Temos que ter a cabeça fria para que os pensamentos venham com clareza. A solução dos problemas não se consegue quando estamos tensos. Relaxa para que tudo flua bem.

            - Mas tio, eu sinto que o perigo está se aproximando. Eu olho a estrada e vejo os carros da polícia se aproximando de mim e da minha família. O senhor sabe que os policiais farejam suas presas a distância. Por isso que estou nervoso. Acho que não devemos ficar mais tempo por aqui. E o senhor também não pode se arriscar assim. Até onde o nosso führer pode garantir a sua integridade?

            - Isso eu não sei. Sabe sobrinho, se fosse o exército acho que conseguiria protege-los. Tenho amigos lá dentro. Mas é a Gestapo.

            - Então, se a coisa está nesse pé, acho melhor o senhor voltar daqui. Eu sei o caminho até a cidade de Cochem. Só me dá o endereço. De repente o nome do vinhedo já basta.

            - Não. Nós vamos juntos até lá.

            - Mas tio, deve levar mais de três horas até lá! Então o senhor me leva até a estrada principal. De lá o senhor volta com a tia. Vamos tio! Vamos sair daqui agora!

            O general Kurt olhou o sobrinho e analisou as suas ponderações. Então o bom senso falou mais alto e ele achou melhor concordar com Carl, em parte. Mas colocou um senão:

            - Carl. Acho que você pode ter razão. Então vou concordar com tudo ou quase tudo que você disse. Só tem um porém: não vou com você até a estrada principal. Sabe por que? – Carl balançou a cabeça – Eu vou ficar aqui.

             - Por quê?

             - Se eles vierem é mais uma forma de mantê-los mais tempo por aqui. E com isso vocês vão ter mais segurança. Vão ter uma dianteira maior. Mas torço para que eles não venham.

              - Assim espero, tio.    

              - Mas vamos fazer mais alguma coisa para confundi-los.

              - O que é? Pode dizer que eu faço.

              - Então você não vai pegar essa estrada. Você vai até o centro da cidade e deixar que alguém veja você.

              - Mas lá está sempre vazia. Só tem mesmo Frau Hanna, do posto telefônico.

              - Então, melhor ainda. Você para no posto e pede uma ligação para minha casa. Quem vai atender é Sebastian. Ele vai dizer que eu vim visita-lo. Então você diz que o menino está sem febre e que não era mais necessário à minha visita como médico. E que você ficou preocupado em tirar-me do serviço. Só isso. Se o meu telefone estiver grampeado, não tem nada de comprometedor. Você fala isso também para a telefonista. Vai então. 

               Carl falou com os filhos e a mulher para se despedirem dos tios e foi até à casa de ferramentas e pegou alguns apetrechos para pesca, sugerido pelo tio. Quando voltou, já encontrou todos dentro do carro. Pegou a vara de pescar e pediu para o filho segura-la, mantendo-a fora do veículo. Ligou o carro e foi em direção ao centro da pequena cidade. Realmente a cidade estava, como normalmente ficava, vazia. Parou o carro do outro lado da rua e fez o que o tio tinha mandado. Quando saiu da cabine telefônica, parou e conversou com Frau Hanna rapidamente, deixando que ela observasse a vara de pescar que trazia. Mas não fez comentário nenhum a respeito. Simplesmente entrou no carro e fez o caminho que sempre fazia, só que na primeira rua a direita, paralela à que morava, entrou e atravessou-a de ponta a ponta. Chegou ao final e, graças a Deus não encontrou viva alma, dobrou a esquerda e foi em frente até chegar à estrada que iria leva-lo a Cochem. Até aquele momento não tinha visto ninguém. Entrou na via principal e todos – parecia ensaiado – respiraram fundo. Mas depois de andar menos de cinquenta metros, parou do lado da via e pegou a vara de pescar e amarrou-a no bagageiro. Depois pegou outros objetos de pesca e prendeu também junto à vara.

           Em alguns pontos daquela estrada tinha riachos que cortavam a via. Então à primeira vista não deveriam gerar desconfianças. Torcia para que não fossem parados por ninguém. Olhou para a esposa e disse que iria manter uma velocidade baixa para não levantar suspeitas.

.........Continua Semana que vem!

 

 

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