terça-feira, 21 de novembro de 2023

A Minha Casa Não é Essa - Parte 80

 


Continuando..

          Nesse momento todos os soldados já estavam acordados e preparados para um novo combate. O julgamento que faziam do tenente mudou por completo. Sabiam que não só o cabo fora salvo, mas todos eles também. Sorriram para Kurt e agradeceram por estarem vivos. Agora não tinham mais dúvidas sobre a capacidade do líder. Aquela demonstração de confiança do pequeno pelotão, fez com que o tenente tomasse coragem e propusesse uma arriscada saída dali, para voltar às suas linhas. O consenso foi unânime para recuar. Não levaram aquele ato como covarde, pois dariam informações sobre a localização da linha inimiga, tendo em vista que não tinham há muito tempo o rádio para passar informações

            Mais uma vez o cabo Adolf agradeceu ao seu salvador. Sorriu timidamente e aprovou a sugestão de recuo. Mas antes da saída do grupo, se colocou como voluntário para analisar a possibilidade de uma saída sem correr perigo. Engatilhou a arma e saiu cautelosamente do buraco. Mal colocou o corpo na borda da trincheira, uma neblina densa tomou conta do lugar. Não pensou duas vezes e chamou os companheiros para saírem dali o mais rápido possível.

           Nem parecia que estavam em plena guerra. O silêncio era quase absoluto. O tenente achou aquela situação muito estranha. A neblina apenas cobria o lado que estava o inimigo, pois na direção das linhas alemães não tinha nenhum vestígio de névoa. Parecia que fora colocada, por mãos invisíveis, uma barreira a pouco mais de um metro, para segurar aquele nevoeiro.  

           - Mohammed, que sonho longo, hein! Isso não é sonho nem aqui, nem na China! Como eu já percebi, você tem uma memória invejável. Mesmo você não se lembrando quem você é, a sua memória parece fotográfica. Não sei o que fizeram com a sua cabeça, mas quando escaparmos daqui vou leva-lo ao médico da base.

            - O senhor teima em achar que o meu sonho não é sonho. Se tivesse lido alguma coisa a respeito disso, com certeza ia me lembrar. E em relação ao médico, acho que não vai adiantar nada não. Vários médicos já me examinaram e não acharam nada. Ouvi alguns comentários a respeito da minha memória. O último médico disse que ela foi completamente limpa.

           - Será que fizeram lavagem cerebral? Mas acho que deva ter algum especialista que reverta esse quadro.

            Agora, voltando para o seu sonho. Eu não me lembro de já ter visto alguma coisa escrita dizendo que um tal tenente Kurt tenha salvado a vida de Hitler.

             - Ué! De repente não foi divulgado. Posso continuar?

             - Vai em frente.

             - Então, aquele pequeno pelotão conseguiu chegar até às suas linhas. Foi uma grande surpresa para o comandante, quando viu todos aqueles soldados maltrapilhos, caminhando em direção dele. Foram recebidos com alegria pelos soldados e pelo comando.

              Assim foi o início da amizade entre Hitler e Kurt, e que durou todos aqueles anos.

              Carl foi rápido ao encontro do tio, abraçando-o ternamente, que retribuiu a demonstração de afeto. Mesmo sendo tio e sobrinho, a idade dos dois era próxima. O tio tinha só dois anos a mais. Carl era o sobrinho mais velho, filho do irmão mais velho. Kurt era o irmão mais novo, do total de onze irmãos. A família era abastada, desfrutando de grande prestígio na sociedade berlinense.

             O general percebeu que Carl estava muito tenso. Bateu nas costas dele e procurou acalmá-lo:

             - Calma Carl. A situação está sobre controle. Vamos resolver tudo com calma. Já tenho um destino para vocês.

            - Onde? Qual é o lugar que o senhor vai nos esconder?

            - Calma. Ninguém vai ficar escondido, como você está pensando. Um irmão de Helga mora em Cochem. É o irmão abaixo do mais velho.

            - É o Wolf. Eu sei. Aquele problema na perna não permitiu que fosse para a guerra, não é?

            - É isso. Então, ele ficou sozinho tomando conta do vinhedo da família. Vai ser muito bom para vocês e para ele. Vai ter muito trabalho por lá. Ninguém vai procurar por vocês. Vou mexer com meus pauzinhos.

            - É bem longe. Mas vamos ficar bem, eu tenho certeza disso. Eu confio no senhor completamente. Nós vamos sair logo?

            - Vamos com calma. Acho que não precisamos correr muito. Vamos demonstrar tranquilidade para não levantar muita poeira.

            - Mas tio Kurt, eu estou preocupado.

            - Escuta uma coisa: você foi condecorado na primeira guerra por ato de bravura. Você foi ferido gravemente, tanto que até hoje você tem sequelas causadas pelos ferimentos. Eles levam isso em conta. Então vão pensar duas vezes antes de vir perseguir a sua família. Com isso vamos ganhar tempo. Somando a isso, seu tio aqui é general e amigo íntimo do führer, esqueceu? Isso conta muito, não acha? Você pensa que ele não sabe que a sua esposa é judia? É claro que sabe. Mas ele protege a nossa família. Ele é grato pelo o que eu fiz por ele na guerra. Fique tranquilo. Vamos entrar e comer aquele bolo de milho, que só Eva sabe fazer. Já ia me esquecendo: aquela compota de pêssego também! Você acha que vou perder isso?

.............Continua na Semana que vem! 

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