terça-feira, 23 de maio de 2023

A Minha Casa Não é Essa - Parte 54

 


Continuando...

         Ele estava ali dentro de uma tubulação, sem ter certeza se teria um amanhã. Tinha que sair dali de qualquer jeito. Foi sacudido pela incerteza e voltou os seus olhos para o sargento. E lá estava Téo com o mesmo olhar pousado no nada e o foco de luz perdido numa parede metálica. Com certeza nem ele e nem o sargento saberiam dizer quanto tempo ficaram ali sem tomar qualquer iniciativa, num marasmo sem precedentes. Mas a incerteza, que gerou o medo em Mohammed, fez com que ele trouxesse Téo para a realidade.

          - Sargento! Sargento! O que houve? O senhor está parado sem fazer nada! Vamos sargento! Vamos! Temos que salvar os outros!

          O sargento, não saberia descrever, mas teve a sensação de estar sendo resgatado de algum poço sem fundo, por alguém ou por alguma coisa. Veio à tona pelo chamamento de Mohammed, sem perceber.  E a única sensação que sentira era de estar sendo sugado por um imenso buraco. E depois sendo puxado por alguma força desconhecida. Despertou do transe e falou:

          - Puxa! Não sei o que deu em mim! Inexplicável! Nunca aconteceu isso comigo! Vamos! Vamos!

          - Sargento, calma. O senhor deve ter viajado nos seus pensamentos. Isso não é nada demais. Acontece com qualquer um.

         - Mas foi muito estranho.

         - Então sargento, o que é que a gente faz?

         - Você me pergunta, mas sabendo o que é para se fazer.

         - Mas é o senhor que está no comando, não sargento?

         Téo deu um leve sorriso, bateu amigavelmente no ombro de Mohammed e entrou na tubulação que provavelmente os levaria ao porão. O menino o seguiu sem fazer qualquer comentário, pois também imaginava que aquele caminho ia em direção onde estavam os soldados e o amigo Rachid.  Naquele momento seguiam acompanhados do silêncio e da tensão.

           O sargento observava a limpeza dentro do tubo, que brilhava com a luz da lanterna. Ele só não entendia como ali era tão bem ventilado e não tinha poeira. De onde vinha o ar?  

          Depois de uns poucos minutos, chegaram ao fim do tubo e encontraram uma pequena porta estanque, com aproximadamente 1,00 m x 1,00 m. Esta porta quadrada era fechada com o mesmo sistema da anterior. O sargento cuidadosamente torceu a cruzeta e destravou-a, que silenciosamente deslizou até ficar completamente escancarada. Nem os dois soldados e nem o garoto ouviram qualquer ruído, pois a pequena porta estava estrategicamente colocada num canto, protegida por um armário. Só que o dispositivo que destravava a porta, também fazia com que o armário deslizasse, para a frente silenciosamente, deixando uma distância suficiente para que uma pessoa pudesse sair ou entrar com facilidade. O sargento entrou com cuidado para não assustar os amigos. Em seguida veio o menino. Os dois saíram detrás do armário silenciosamente e ficaram em pé olhando os três. Peter estava segurando a escada, com o braço esticado e a cabeça tombada em cima do braço e Rachid estava sentado no chão com a cabeça no meio das pernas, e nem perceberam a chegada dos dois. Já John, continuava deitado no mesmo lugar quando os dois saíram. Ali era um silêncio só.

             Téo olhava aquela cena que aparentemente era um berço de calma, mas percebeu que, principalmente, aqueles dois não estavam nada, nada serenos. Ele tinha essas percepções, mas não sabia como acontecia isso. Dirigiu o olhar para Mohammed, colocou o dedo indicador no meio da boca fechada e pediu silêncio. Depois caminhou pé sobre pé até próximo do amigo magricela, que continuou sem perceber nada. Com cuidado falou, ao mesmo tempo em que botava a mão no seu ombro:

            - Peter.

            Pouco adiantou essa cautela, pois o soldado se virou rapidamente e foi logo, logo reclamando dele:

            - Porra sargento! Por onde o senhor andou? Já fizemos tudo para abrir a portinhola e nada! Ela está emperrada! Só estava esperando um tempo para depois abri-la no tiro!  

           - Peter, calma. Sorte vocês não conseguirem abrir a portinhola. Estamos com visitas lá em cima.

           - Visitas? Quem?

           - Os bandidos ou guerrilheiros. Não sei mais que são.

           - Como assim? Eles descobriram a gente aqui?

           - Infelizmente descobriram. Mas nós conseguimos achar uma passagem para nossa fuga. – ele olhou para Mohammed e depois ratificou. – Mohammed foi quem encontrou.

            - É mesmo? Agora que percebi. Vocês tinham que descer aqui pela escada, não é?  

           - Não. Não sei como, mas eles descobriram a gente escondidos aqui dentro. Por isso que colocamos uma pedra pesada broqueando essa entrada. – o sargento falou olhando para cima.

          - E agora, sargento?

          - Agora? Nós vamos sair por onde viemos agora. Só temos essa opção, mesmo não sabendo onde vão dar essas tubulações. E vamos rápido. Nem pensar em tentar subir essa escada e abrir aquela portinhola. Eles, com certeza, estarão esperando a gente.

         - Sargento e John?

         - Ele ainda não acordou?

         - Não. Ele está ferrado num sono só!

         - E a febre?

         - Graças a Deus a febre não voltou.

.......Continua na Semana que vem!

 

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