quarta-feira, 10 de maio de 2023

A Minha Casa Não é Essa - Parte 52


 

Continuando...

           Téo aproveitando o erro do adversário correu em direção de Mohammed, mas não o encontrou, porque o menino já tinha saído dali. Ele teve vontade de gritar por ele, mas desistiu, tendo em vista que o seu esconderijo seria descoberto.  Tentou procura-lo no meio daquela cortina de poeira, mas foi em vão. Era uma massa branca compacta, que não deixava que se visse a um palmo na frente do nariz. Não sabia o que fazer: ficar ali ou tentar ir mais à frente, mesmo que tateando. Pensou e decidiu pela segunda hipótese. Entretanto a sua decisão tinha um risco: encontrar algum terrorista pelo caminho. Ele não sabia se os bandidos tinham ficado onde dispararam o tiro de morteiro ou se entraram pelos escombros. Era um risco, mas tinha que arriscar. Todavia ao dar o primeiro passo, uma mão agarrou-lhe a perna. A sua reação foi de apontar a arma e atirar. Mas uma voz surgiu, quase sussurrando, no meio da poeira:

           - Sargento! Sargento! Sou eu! Não vai me matar, né? Tira essa arma da minha cabeça, por favor!

           - É você, Mohammed? Seu maluco! Quase que te mato! – falou ofegante Téo e tremendo dos pés à cabeça.

          - Desculpe Sargento. Mas com essa poeira toda, está difícil de enxergar qualquer coisa à frente do nariz. Vem comigo, acho que encontrei alguma coisa um pouco mais à frente.

          - O que foi? – Téo perguntou demonstrando bastante ansiedade.

          - Só vendo. Pode ser a nossa salvação.

          - O que é que você está falando? – perguntou, mas sacudindo nervosamente o menino.

          - Calma, sargento! Assim o senhor vai deslocar o meu ombro! Só me segue.

          - Mas nessa poeirada toda? Não se consegue enxergar nada, Mohammed!

          - Vem no meu calcanhar. Vem sargento. Está ruim pra gente, mas também está ruim pra eles. Vamos aproveitar.

          Mohammed nem esperou que o sargento falasse mais alguma coisa, saiu de novo, se esfregando no chão, feito cobra. Téo não teve mais nenhuma alternativa, a não ser segui-lo. E não saiu realmente do seu calcanhar, até chegar onde ele parou e apontou para o chão. Ele olhou para onde ele apontava, mas não entendeu. Viu apenas uma placa de granito num tom bem escuro. Depois olhou para o menino, com uma bruta interrogação na cara, dando de ombro e fazendo um bico estranho.

           O menino achou engraçada a cara que o sargento fez e deixou escapar um sorriso. Em seguida, sem falar nada, arrastou a pedra de granito para o lado, deixando a amostra uma tampa redonda, parecida com as que tapam as tubulações   de esgoto. Depois colocou um dos dedos numa cavidade da tampa, destravando-a. Com esse procedimento, conseguiu que ela fosse aberta. Só que a tampa desceu, ficando pendurada e presa numa das laterais. Então surgiu na frente do sargento um buraco completamente negro, parecendo sem fim. A curiosidade bateu forte e ele não deixou – claro - de perguntar o que era aquilo. Imediatamente o menino, deixando uma pitada de sarcasmo, respondeu:

          - Ué sargento! Isso? Isso é um buraco!

          O sargento olhou-o com uma cara de poucos amigos e falou ríspido:

          - Está querendo me sacanear? Vou deixar claro: não gosto de certas brincadeiras! Não me provoca!  É bem fácil eu jogá-lo aí dentro e tapar o buraco! Não passa dos limites! Estamos conversados?

          - Claro sargento. Não estou fazendo troça, não. Longe de mim, faltar com o respeito ao senhor.

           Respondeu Mohammed, escondendo o ar de gozação que dirigira a ele.

           Téo se aproximou mais um pouco e olhou para dentro do buraco. Nada conseguiu ver. Com cuidado pegou a sua lanterna e direcionou o foco de luz para o seu interior. Se surpreendeu com o que viu. Bem debaixo dos seus olhos uma tubulação que brilhava como um aço polido, dava para passar uma pessoa facilmente. A princípio pensou que fosse duto de esgoto, mas depois descartou essa possibilidade, pois não viu nenhum detrito e não exalava qualquer mau cheiro. Observou também uma escada soldada, para facilitar a descida. O fundo ele não conseguia ver, mas institivamente, pela sobrevivência, sabia que tinha que descer. Nem esperou que o menino falasse alguma coisa, simplesmente foi descendo, mas de repente parou no meio do caminho e olhou para cima. A consciência pesou.

          - Mohammed, você é que tem que descer primeiro. Vou subir pra você descer na minha frente, ok?

          - Porque, sargento?

          - Acabei deixando você exposto. E vou ter que fechar esse buraco. Você desce que eu vou trancar essa tampa. Não sei como, mas vou dar um jeito. Senão eles vão abri-la por fora, como você fez.

          Téo saiu, o menino imediatamente entrou no buraco, desceu até mais ou menos a metade da escada, acendeu a lanterna e direcionou o foco para cima. Mas teve o cuidado de iluminar apenas a parede da tubulação, para que a claridade não fosse percebida pelos terroristas. O sargento então, cautelosamente, foi puxando a pedra até que tapasse o buraco. Depois pediu para que o menino direcionasse o foco para a tampa. E assim Mohammed fez. Com tudo claro, Téo observou que a tampa tinha uma cavidade no centro e que no seu interior tinha um tubo torneado, de um material desconhecido para ele, com duas peças em cruz, do mesmo material, parecendo com uma torneira. Não pensou duas vezes, foi lá e torceu-a para o lado direito. Imediatamente duas varas de aço – achou que era -  saíram das laterais e se encaixaram em duas argolas que estavam presas no topo da tubulação, trancando imediatamente a tampa. Téo ainda confirmou se realmente ela estava fechada. Respirou aliviado. Mas a sua cabeça foi invadida pela dúvida: -“ Poderiam se sentir seguros? E se jogassem uma bomba em cima da tampa? ” - Engoliu em seco só em pensar nessa possibilidade. 

.......Continua Semana que vem!

 

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