terça-feira, 2 de maio de 2023

A Minha Casa Não é Essa - Parte 51

 


Continuando...

          Onde Téo e Mohammed estavam, não conseguiram precisar o ponto exato que tinha caído à segunda bomba. No momento da explosão, protegiam as cabeças quase enterradas no chão. Mas sentiram que caíra bem perto. Depois de bom tempo em silêncio, o menino olhou para o sargento e, com a mão tapando um pouco a boca, disse baixinho:

          - Sargento, temos que sair daqui. A próxima bomba vai cair em cima da gente. Eu não estou querendo morrer, não. Vamos procurar outro lugar para nos proteger.

          Dessa vez Téo nem quis argumentar nada, apenas balançou a cabeça dando o seu ok e apontou na direção de um outro monte de entulhos. O menino rapidamente saiu rastejando na direção do novo refúgio. Téo ficou olhando a velocidade que Mohammed deslizava por aquele chão tão irregular que, até em pé, era difícil se locomover.

           O sargento se arriou o máximo que pode e foi ao encontro de Mohammed. Não se arrastou como fez o menino, isso só em último caso faria, pois sabia que estava protegido pelos restos de paredes que os separava do menino. Numa conclusão rápida percebeu que não precisava se entregar a tanto esforço. Ele nunca gostou de se esfregar pelo chão feito uma cobra, só fez algumas vezes que foi realmente preciso. Esse era um bicho que nunca teve afinidade. Achava estranho como alguns colegas de farda, conseguiam pegar uma cobra como se pegasse um gato, um cachorro ou qualquer outro animal não peçonhento. Lembrou-se de um desses soldados, apelidado de Snake, que ia além: pegava cobras e escorpiões e guardava-os para utilizá-los, quando precisasse, em combate. E numa situação de sufoco, onde a munição tinha ficado escassa, ele utilizou-se das cobras e escorpiões, jogando-os, já que não tinham mais granadas, nas trincheiras do inimigo. Com esse estratagema, conseguiu salvar muitos combatentes.  

          O inimigo abandonava o posto e se expunha ao fogo da companhia americana. Com esse ato de heroísmo, Snake, o homem cobra, foi condecorado e agraciado com uma promoção. Téo sorriu dessa lembrança, mas mesmo assim não gostava de se sentir um animal peçonhento feito cobra. Na realidade ele tinha muito medo e nojo, mas não dizia isso pra ninguém. Esse era um segredo seu. Era um soldado extremamente corajoso, menos quando se tratasse de cobras e ratos.

          Mal Téo se aproximou do menino, ele já estava se arrastando para outro local. O sargento ficou observando-o e estava cada vez mais encantado com a sua destreza. Deslizava, lembrando também uma centopeia. Parecia cheio de pernas. O tempo que ficou parado, Mohammed sumiu entre os escombros. Aí se deu conta que estava se expondo ao fogo inimigo. E mal se colocou em movimento, uma granada explodiu a alguns metros de onde tinha saído. Por pura sorte não foi atingido pelos estilhaços, que se espalharam por toda a sua volta. Se não fosse o monte de entulho que se abrigara, não teria mais história nenhuma para contar. 

             O menino, que já estava a alguns metros à frente, parou depois de ouvir a explosão. A primeira sensação que teve, era que o sargento tinha sido atingido. Então voltou um pouco e tentou ver o que tinha acontecido. A princípio não conseguiu ver coisa alguma, porque a poeira era muito densa. O silêncio era tumular. Teve vontade de chamar pelo sargento, mas abortou o grito na garganta.  Deu-se conta que estava preocupado com o americano. Isso queria dizer que estava gostando do ianque, mesmo sabendo que era prisioneiro dele. Um prisioneiro, que não estava muito preso. Acabou sorrindo da situação. Sorriu, mas imediatamente censurou seu pensamento e voltou a colocar na cara um ar de preocupação.

          A poeira continuava se espalhando. Até para o inimigo estava difícil ver alguma coisa. Os terroristas então optaram por esperar a poeira se assentar. Um dos terroristas estava atento com o seu binóculo, varrendo pedaço por pedaço dos escombros, esperando que os americanos deixassem o rabo de fora, e aí então iam eliminá-los um a um. Isso se eles já não estivessem mortos. Mas só poderiam confirmar depois que a nuvem de poeira se dissipasse.

           Mesmo sem enxergar quase nada, os quatro terroristas continuaram caminhando, mas com cuidado, e se espalhando por entre aqueles montes de pedras, tijolos e ferros retorcidos.

          Naquele pedaço da cidade, só se via ruínas. Poucas casas por ali não viraram pó. Somente uma pequena parcela resistiu, parcialmente, aos bombardeios, conseguindo manter algumas paredes em pé. Mas mesmo essas que não foram totalmente destruídas por mísseis, com um outro cômodo preservado, estavam desabitadas. Os moradores fugiram para se livrar daquele inferno, só que poucos sobreviveram na fuga. Mas mesmo assim era melhor arriscar, do que ficar e esperar a morte quase certa. Quem poderia aguentar tanto míssil sendo despejado diariamente na cabeça?

           Um dos terroristas, não entendendo o sinal que um companheiro fizera, lançou mais uma bomba. Aí o que conseguiu mesmo foi criar uma cortina maior de poeira, com isso facilitar uma provável fuga do inimigo.

...........Continua Semana que vem!

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário