terça-feira, 11 de outubro de 2022

A Minha Casa Não é Essa - Parte 22

 


Continuando...

            Ele se explicou, mas sem esperar a resposta do sargento, e foi caminhando em direção ao homem caído. Parou ao seu lado, arriou e quando foi virar o seu rosto, para ver se o conhecia, qual não foi a sua surpresa: o defunto, ainda não era defunto, pois estava de olhos bem abertos, e que rapidamente virou-se, trazendo na mão uma pistola pronta para atirar. Mohammed se assustou, mas gritou para alertar os militares americanos, enquanto, numa rapidez impressionante, chutava o queixo do sujeito e se jogava para o lado, para não ser atingido pelos tiros dos americanos.  

            Depois de uma saraivada de balas, Téo caminhou até onde o homem tinha tombado. Mesmo convicto que o combatente estava morto, cautelosamente virou-o e ficou surpreso, depois de um exame rápido, ao constatar que ele sobrevivera a todos os tiros. A roupa estava em frangalhos, mas um tiro sequer conseguiu passar pelo colete à prova de balas. Respirava normalmente. Estava apenas desacordado. Mas não soube dizer se foi pelos tiros ou pelo chute que Mohammed deu no seu queixo.   

            O sargento, depois de informar a Peter que o homem estava vivo, deu uma geral a procura de alguma arma escondida, mas nada encontrou. Depois olhou para o menino, sorriu e esticou a sua mão, num gesto de agradecimento por ter salvado a sua vida e a de Peter. Mohammed esticou o seu braço e aceitou o aperto de mão, e confirmou o gesto com um sorriso amigável. Entretanto repentinamente o sorriso desapareceu dos seus lábios, dando lugar a uma expressão de preocupação. Téo achou estranho àquela mudança de comportamento e perguntou o que tinha acontecido. Antes de responder Mohammed se abaixou e olhou bem perto da cara do sujeito. Coçou a cabeça e finalmente disse, com ar assustado:

           - Meu Deus!  Meu Deus!

           - O que foi? – perguntou Téo.

           O menino ficou em silêncio por alguns segundos, olhando a cara do homem. Depois falou entredentes:

           - Vocês estão com uns dos chefes da milícia. 

           - Não entendi. – falou Téo – Pode repetir?

           - Ele é um chefe da milícia local, sargento.  

           - Como você sabe?

           - Eu o vi na casa do senhor que compra os nossos produtos garimpados. Uma vez eu escutei a conversa deles e descobri que ele era um chefe. Pensei que fosse Talibã, mas depois descobri que não era. Era um bandido. Um chefe de uma milícia. Foi só uma vez que o vi.

           - Você tem certeza?

           - Claro que tenho! Eu vejo uma cara e nunca mais a esqueço. É igual às línguas que eu falo: em algum momento eu escutei e não esqueci mais. Não me pergunte como acontece isso. Vou dizer que não sei. E não sei mesmo.

            Enquanto os dois conversavam, não perceberam que o homem estava acordando. Mas por sorte, Peter que não tirava o olho de cima dele, viu-o meter a mão dentro da bota, então não pensou duas vezes: atirou acima do pescoço, isso para não ter dúvida do óbito. Mas mesmo assim foi confirmar se o tinha acertado mortalmente. E também conferir se realmente ele ia pegar alguma arma. Como suspeitou ele tinha um pequeno revólver. Mesmo estando há alguns anos naquela guerra, matando para não morrer, ele sentiu um aperto no coração ao confirmar a morte do homem. Mesmo achando que era um bandido, em primeiro lugar era um ser humano. Suspirou fundo, virou às costas e se dirigiu para a saída sem trocar uma palavra sequer com o sargento. Téo já o conhecia bem e preferiu deixa-lo ir em frente.

             Enquanto o sargento ia conferir se realmente não estaria sendo enganado de novo pelo homem, examinou-o mesmo sabendo que ali não existia nem mais um sopro de vida, tendo em vista que a cabeça estava quase fora do corpo.

             Mohammed acompanhou o sargento e tentou puxar a arma que estava debaixo do corpo do chefe da milícia, mas foi interrompido por ele.

.............Continua semana que vem!

 

        


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