terça-feira, 23 de agosto de 2022

A Minha Casa Não é Essa - Parte 15

 


Continuando...

           Peguei o biscoito que ele me ofereceu e fomos andando pela rua principal. Chegamos à praça e nos sentamos num banco, e comemos o biscoito tranquilamente. Não tinha quase ninguém na rua. Acho que quem passou pela gente nem se deu conta da nossa presença. Comecei a ficar tenso com a demora de começar a trabalhar. Eu ainda nem sabia aonde era o serviço. Quando eu ia perguntar, ele me mandou ficar calado. A sua atenção era única e exclusiva na igreja. Olhou para o seu relógio de pulso algumas vezes, até que sorriu quando um senhor saiu da igreja. Bateu na minha perna e disse:

            - Está na hora. É agora que vamos começar a trabalhar. Vem comigo. E não me faça nenhuma pergunta. Nenhuma mesmo.

            Segui-o sem questioná-lo. Entramos pela lateral da igreja e fomos para os fundos. Lá chegando ele me deu uma touca preta e mandou-me enterrá-la pela cabeça até o pescoço. Mas antes ele colocou a dele. Só ficaram os olhos de fora. Achei estranho, mas continuei sem fazer perguntas. Ele olhou para cima e eu acompanhei o seu olhar. Parou numa janela, que estava semiaberta. Olhou para o meu tamanho e mandou-me encostar na parede. Eu nessa época – Tá escutando, Deus! – já tinha mais de um metro e oitenta. Não sei de onde saiu essa minha altura. Agora já passo até dos dois metros. Meus pais eram pequenos e os meus irmãos também. Não sei mesmo o que aconteceu comigo, depois de passar tanta fome na vida e ainda crescer!  Estranho, né? Continuando. O meu amigo falou baixinho:

            - Acho que vai dar certo. A sua altura, somado a minha, mas que não dá pra comparar com a sua, deve dar pra chegar até aquela janela.

            Até ali continuava sem saber que trabalho era aquele. O amigo mandou-me entrelaçar as mãos, fiz sem pestanejar. Depois ficar de lado, obedeci sem fazer pergunta. Aí percebi o que ia fazer e me preparei para suportar o seu peso. Rapidamente colocou um pé na minha mão e subiu para o meu ombro. Depois ele pediu para que eu empurrasse os seus pés para cima. Mesmo novo, eu sempre fui muito forte, então foi fácil empurrá-lo para cima. Quando dei conta, ele já tinha sumido pelo vão da janela. Esse período que ele entrou até aparecer de novo foi curto. Ele botou a cara na janela e jogou uma bolsa de couro. Eu a peguei e deixei-a encostada na parede. De repente ouvi um tiro, seguido de um silêncio assustador. Pouco tempo depois comecei a ouvir vozes, que a princípio vinham como sussurro, depois foi aumentando gradativamente até virar um falatório. Já estava assustado. Aí tentei chamar o amigo, que até hoje não sei o nome, mas a voz não saiu. O medo tomou conta de mim completamente, não vou negar. Então não pensei duas vezes: peguei a bolsa de couro, pulei num pequeno córrego, que não tinha mais a água limpa de outrora, e saí correndo até sumir do centro da cidade. Por sorte ninguém me viu. Corri em direção ao mesmo lugar que tinha me escondido antes. Mas antes tirei a touca - depois eu fui saber que chamavam de ninja - e guardei dentro da bolsa. E qual não foi a minha surpresa: estava cheia de dinheiro. Quase caí para trás. Meu primeiro impulso foi levar de volta e devolver.  Mas depois eu pensei bem e cheguei à conclusão que eles poderiam me prender por ter participado do roubo. Eu sabia que mesmo se eu dissesse que não fizera parte do roubo, eles não iam acreditar. Mas eu participei sem saber. – Deus, está me ouvindo ainda?  

.........Continua Semana que vem!

 

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