terça-feira, 9 de agosto de 2022

A Minha Casa Não é Essa - Parte 13

 


Continuando...

            - Moro num sítio afastado com meus pais e irmãos. Vim até a cidade para arranjar emprego, mas não consegui nada. Estamos passando fome. Meu pai que trabalhava, agora está doente. Então eu, como sou filho mais velho, tenho que conseguir o sustento para casa.

            - Eu também tentei, mas não consegui. Então fui à luta.

            - Você é lutador?

           - Não é esse tipo de luta não. Já que ninguém me deu emprego, para conseguir o dinheiro honesto, eu peguei na marra. Acho que você tem que fazer isso também.

           - Mas isso não é correto.

           - É correto morrer de fome? Se quiser ser meu parceiro, me encontre aqui amanhã nesse mesmo horário. Em dupla vamos conseguir coisas maiores.

           - Vou pensar.

           - Enquanto pensa, leva um pouco dessa comida para casa.

            Ele abriu a sua bolsa a tira colo e tirou um embrulho que tinha um pedaço bom de carne seca e dois pacotes de biscoito. Aquilo ia ser uma festa em casa.

           Caminhou os três quilômetros que separavam a sua casa da cidade. Chegou com pouca comida, mas foi uma festa. Lembrou-se do garoto e soube naquele instante que estava preso a ele pela gratidão. A sua mãe nem perguntou aonde ele tinha conseguido aquele pouco de alimento e nem ele falou. Transbordou de felicidade por ter dado alegria aos seus.

            Levantou antes do sol e disse para a mãe que iria novamente à cidade para trabalhar em algum lugar. Chegou mais cedo que o garoto, mas procurou ficar fora da vista de qualquer curioso. Na realidade chegou muito mais cedo. Tinha que encontrá-lo às quatro da tarde, mas chegou às oito da manhã. O que fazer nesse tempo todo? Não sabia. Então entrou no mato onde tinha se escondido no dia anterior. Caminhou por dentro da vegetação, sem saber por quanto tempo, e chegou num campo vasto, com poucas árvores, e se deparou com um lindo riacho. A água era de uma limpeza que ele nunca tinha visto. Não era igual ao córrego que passava nos fundos da sua casa, que não tinha quase vida, igual à da sua família. Mas qual não foi a sua surpresa: estava cheio de peixes. Durante um bom tempo ficou de cima apreciando-os nadar. Depois se deitou na grama e olhou-os mais de pertinho. – Meu Deus, o Senhor está vendo isso? – Perdeu um tempão ali na mesma posição, encantado com a quantidade de peixes nadando próximo ao seu nariz.  Lembrou-se da família e sorriu. - Ali estava a comida para saciar a fome de todos eles. – Levantou-se e entrou dentro do riacho, sem fazer barulho, e tentou segurar um deles. Para a sua surpresa ele não fugiu. - Eu sempre soube que peixe é arisco! E é   um baita peixe! – pensou, deixando brotar um sorriso de vitória.

             A comida estava garantida para aquele dia. Então correu para casa feliz da vida. Quando a mãe viu aquele peixão, chegou a chorar. Depois deu um beijo nele e pediu desculpa por ter que cozinhá-lo. Ficou todo mundo de barriga cheia e feliz.

             Quase ia se esquecendo do encontro com o garoto. Não podia deixar de ir, era uma questão de gratidão. Mas pecou de novo na decisão. Chegou mais cedo de novo, só que foi apenas meia hora antes. Fez a mesma coisa que tinha feito pela manhã: entrou no mato e ficou lá em silêncio. O menino chegou na hora certa. Êta pontualidade! Nem um minuto a mais, nem a menos: ponteiro cravado às quatro da tarde.

  ...........Continua Semana que vem!  

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