terça-feira, 2 de março de 2021

Nos Escaninhos do Coração - Parte 15

 


Continuando...

          Mesmo negando, desde sempre, Deus, André abriu o seu coração e conversou com Ele. Despiu a sua alma das dúvidas e pediu socorro fervorosamente. Entretanto esse pedido foi em prol unicamente de Luiza, esquecendo-se de pedir socorro para si. E quando terminou a prece, um pedaço de luz iluminou o seu rosto: era um pedacinho do sol, que se esfregava pela montanha e beijava-o suavemente. André de imediato sentiu-se reconfortado.

          O silêncio que havia reinado misteriosamente, começou a dar lugar à vida normal. Ele ouviu um pássaro cantando ao longe, e mais outro bem mais próximo, parecendo que conversavam alegremente. Depois escutou alguma coisa que se arrastava pela mata. Imediatamente pensou em Luiza. Logo uma chama de alegria acordou a sua esperança. Um leve sorriso passou pelos seus lábios inchados e ainda sangrando. Doeu um pouco, mas suportou sem fazer careta. Aquela posição não o ajudava em nada. Era ruim ver qualquer coisa. – O mundo está de cabeça pra baixo! Que droga! – falou baixinho e entre dentes. Tentou erguer um pouco o corpo para chegar até o pé e soltá-lo, mas abortou o movimento. Essa mexida do corpo alertou-o, com a dor que sentiu, de que pudesse estar com algumas costelas quebradas. Então foi com a mão esquerda e apalpou o local. Doeu tanto que quase se urinou. Um suor frio brotou sem avisar. Passou pela sua cabeça que pudesse ter uma hemorragia. Aí quase desmaiou. E o coração aos saltos, queria sair pela boca. Era evidente que não queria morrer. Com a cabeça bem confusa e cheia de medo, não sabia o que poderia fazer. No entanto, no meio desse sufoco todo, apareceu a imagem de Luiza. E, como por encanto, o medo foi se dissipando. Então se apoiou num objetivo: salva-la. Mas para que isso acontecesse, tinha que esquecer a sua dor. E prometeu a si mesmo que ia esquecê-la de qualquer jeito. Mas primeiro tinha que começar a arranjar um jeito de sair daquela posição terrível, e aí sim dar início à procura da amiga, porque o tempo estava passando e cada minuto perdido era a esperança se encolhendo. Precisava se movimentar já.  

          Um vento morno começou a soprar lambendo o seu rosto.  Aos poucos foi aumentando de intensidade, ao ponto de balança-lo, jogando-o de um lado para o outro feito um pêndulo. Aquele movimento levou-o ao tempo de criança, embalando-o na saudade.  Lembrou-se de um balanço que o pai instalara debaixo de uma jaqueira. Não devia passar dos cinco anos de idade. Sorriu apesar da dor que ainda sentia. A saudade fez com que visualizasse momentos tão felizes da sua infância. Àquela era a sua brincadeira preferida. A sua alegria residia ali, principalmente quando Luiza brincava com ele. Na época não desconfiava daquela necessidade de estarem juntos, mas com o tempo, já chegando à adolescência, é que ficou claro na sua cabeça: ele amava Luiza mais do que tudo na vida.

           Em todos aqueles anos, que não se desgrudavam, nunca teve coragem de falar do seu amor, abrir o seu coração. – E se ela não aceitasse e se afastasse dele? – pensava nisso constantemente. Então preferiu guardar o segredo a sete chaves.

           Tinha consciência de que a sua covardia fora a responsável por se calar durante tanto tempo. E agora estava claro em sua mente que o momento não podia ser adiado, não importando a recepção que teria. Era tudo ou nada, mesmo sabendo que se o seu amor fosse rejeitado, pagaria um preço muito alto, pois não tinha dúvida nenhuma de que seria uma tristeza aguda, para o resto da vida. Mas bateu uma incerteza desse resto de vida, pois sabia que não suportaria a rejeição e sucumbiria. Esse resto de vida seria muito curto. – É melhor calar meus pensamentos – pensou.

          O medo voltou a tomar conta da sua alma e então preferiu manter o seu segredo bem guardadinho nos escaninhos do coração, que naquela altura já morria de amor. Decidiu então se fechar novamente, até um dia em que pudesse ter coragem para abrir o seu coração para Luiza.

.................Continua semana que vem!

 

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