terça-feira, 23 de março de 2021

Nos Escaninhos do Coração - Parte 18

 


Continuando...

          Enquanto tentava encontrar uma forma de ir ao seu encontro, pensamentos diversos, das aventuras que curtiram juntos, invadiram a sua cabeça. As lembranças vinham para confortá-lo. A princípio, todas só de momentos alegres. Mas os pensamentos às vezes são cruéis com a gente. Dão-nos rasteiras e mais rasteiras. E não é que no meio dessa alegria, de momentos agradáveis, surgiu um de total sufoco?

         

HÁ UM ANO E MEIO ATRÁS...

 

         André tentou lembrar-se do nome do lugar que havia ido com Luiza. Mas não conseguiu. Como esquecemos, às vezes, coisas que nos fizeram tão mal. Pelo menos o estado lembrou-se: Espirito Santo.

        Uns meses antes saíram com alguns colegas para acampar em uma praia, no sul da Bahia. Lá conheceram algumas pessoas. Dentre essas haviam três que praticavam o mesmo esporte: montanhismo. Eram dois rapazes e uma menina. A afinidade foi recíproca. O entrosamento foi imediato. Pela conversa que rolou, André percebeu que os três tinham mais tempo de estrada. Luiza empolgada com o grupo perguntou se tinham alguma escalada à vista. Um deles, que parecia o líder, disse que sim. E que seria no Estado do Espirito Santo. Imediatamente se convidaram. E logicamente foram aceitos.

         André não conseguia lembrar-se dos nomes. Começou a puxar pela memória. - Um deles tinha um nome esquisito. – matutou. De repente falou: - Bordélo! Isso! Bordélo! – Sorriu por ter conseguido trazer à tona um nome tão estranho. Aí foi ficando fácil. Lembrou-se da menina. Principalmente dos seus olhos. Eram de um azul marcante. Brilhavam como as estrelas. O seu nome era Karen. De sorriso tímido, mas constante. O outro, o terceiro, parecia um índio. Falava bem enrolado. E era o que sempre pegava a dianteira. Aparentemente não era brasileiro. Mas não soube de onde era. Na época não perguntou. Só mais tarde foi saber de onde ele era. Mas o nome era Luiz. Os três eram pessoas da melhor qualidade.

          O tempo de convívio foi curto, mas de um bom entrosamento. O objetivo eles não alcançaram, que era o de escalar uma montanha. Mas a emoção... Emoção?  Também não. Puro desespero.

        A caminhada já durava mais de uma hora. Pararam próximos de um rio. Luiz reuniu o grupo e sugeriu que descansassem um pouco. Mas que só atravessariam, se houvesse segurança. Já tinha observado a formação de nuvens pesadas rio acima. Ele era conhecedor de longa data daquele rio. Então não podia facilitar. Algumas vezes já passara maus bocados tentando atravessá-lo. Quem não o conhecia, olhava aquela aparente calmaria e metia a cara. Aí sofria o diabo. A sua falsa tranquilidade reservava muitas surpresas. Na região era conhecido como traíra. Mas não era em homenagem ao peixe. Era pelo extremo perigo que se escondia por baixo daquelas águas cristalinas.

                Depois de muito rodar pela região, Luiz passou a conhecer os poucos pontos menos perigosos. Na realidade só tinha mesmo um único ponto que se poderia confiar. E ele distava dali, uns três quilômetros rio acima. E nesse ponto havia uma ponte. Mas como a escolha da montanha era muito distante dali, o melhor era enfrentar o perigo. E colher emoções. E era o que realmente interessava.

          André deu uma sondada no local e viu que, um pouco à frente, tinha uma queda considerável. Devia ter mais de dez metros de altura. Comentou com Luiz a respeito. Ele então deixou claro que ali ainda era o melhor lugar de travessia. Inclusive por ser mais raso. Todas aquelas pedras espalhadas antes da chegada da queda, funcionavam como uma pequena barragem. As pessoas tinham como se segurar. A correnteza diminuía. Mas deixou claro que mesmo assim não era fácil. O cuidado era fundamental. Nada de ser afoito. Porque a maioria das pedras era escorregadia. Então, atenção redobrada. Qualquer queda, além de causar alguns hematomas, poderia ser fatal.

....................Continua semana que vem!

 

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