terça-feira, 9 de março de 2021

Nos Escaninhos do Coração - Parte 16

 


Continuando...

De repente se meteu no meio das suas recordações, o velho amigo Toni. Amigo desde os tempos das fraldas. Tinham a mesma idade e foram vizinhos por muito tempo. Ele sempre desconfiou do amor de André por Luiza. Uma vez ou outra o incentivava a se declarar. Mas ele se esquivava e saía pela tangente. Nunca afirmou para Toni que realmente amava Luiza.

          André, Luiza e Toni eram carne e osso. Raramente não estavam juntos. Até que Toni foi morar em outra cidade muito distante e o laço foi rompido. Esse golpe do destino deixou-os bem entristecidos. Nessa época eles tinham em torno de dez anos.

           A distância foi enfraquecendo a amizade dos três, pois Toni fizera amizades novas e os velhos amigos foram engolidos pelo esquecimento. Mas André e Luiza continuaram colados, feito irmãos siameses, não se desgrudando nunca.

          Depois da partida de Toni, André se pegara várias vezes pensando na partida do amigo. E quando isso acontecia, batia uma insegurança tão grande que lhe deixava totalmente descontrolado. Esse medo extremo que invadia o seu coração era por pensar na hipótese de Luiza ir também morar em outra cidade. Isso ele não podia aceitar.  Então batia o pé e dizia para o seu medo:

          - Ela nunca se afastará de mim. Se ela se mudar, eu vou atrás. Não cruzarei os meus braços, nunca. Se ela for, eu vou junto!

          Ele se sentia parte do seu corpo. O seu amor era tão grande, que acabava não se arriscando em declarar-se.  Bastava só estar com ela. O medo deixou-o cego. E ele nunca percebera que também Luiza jamais se desgrudava dele. A sua razão de viver, era ele. Na verdade os dois sofriam do mesmo mal: medo. Com isso foram levando a vida juntos, mas separados. Um achava que conhecia o outro, mas ao coração os dois não tinham acesso.

        Apesar de a dor ter diminuído bastante, após o sopro que percorrera por todo o seu corpo, não podia se arriscar a exagerar nos movimentos, principalmente o braço direito quebrado e a costela, que não sabia se era uma, duas ou mais fraturadas.

         O vento continuava embalando-o. De vez em quando sentia uma pontada na costela, ou costelas, não conseguia identificar quantas estavam fraturadas, e nesses momentos fazia uma careta. Mas aguentava a dor sem demonstrar desespero. Na realidade, em relação ao início, agora era uma dor bem mais suave. Dava para respirar e sentir um alívio quase que imediato. E a cada respirada, pensava na amiga. E então procurava encontrar alguma saída para aquela situação. Mas de cabeça para baixo estava sendo muito difícil pensar em alguma coisa.

        O tempo foi passando e a dor fininha continuava e continuava também a falta de solução. Nada apontava para uma saída. Porém a determinação de salvar a amiga, não diminuíra em nada. Estava certo de que a solução viria com certeza, mas não cogitava no tempo que levaria, pois naquela hora não se poderia fazer qualquer programação de resgate. Ele só sabia que ia até onde ela estava e a salvaria. Simples assim. Simples assim?

        - O vento não está muito forte, mas continua sem dar um descanso, uma trégua. – pensava André. Mas ele não percebeu que o vento só estava em cima dele. Jogava-o, vagarosamente, de um lado para o outro. Era um ir e vir sem parar. Com o tempo teve a sensação de que alguém o embalava. Num flash passou pela sua cabeça a imagem da mãe balançando-o no berço. Logo duas lágrimas grossas despencaram dos seus olhos.

          O vai e vem que era constante, de repente se espaçou.  No período que voltava, lançava-o um pouco mais longe. André não percebeu isso, pois continuava pensando que a mãe o balançava. E o seu corpo continuava de um lado para o outro. Numa dessas vezes que foi para o lado em que estava Luiza, sem ele ter certeza, observou uma saliência na pedra. Pensou, depois de esboçar um sorriso:

           - Puxa! Se eu chegasse até lá conseguiria, mesmo com a mão esquerda, segurar-me naquele ressalto!    

          A distância não era muita. Mas do jeito que ele estava, qualquer centímetro tendia para o infinito. Entretanto cabia o sacrifício. E também não existia mais nenhuma alternativa possível. Era tentar ou tentar. Tinha que aproveitar o embalo do vento e se esforçar mais até chegar ao ponto que poderia ser um atalho para se aproximar de Luiza. Mentalmente pediu que Deus o ajudasse.

          André de repente percebeu que alguma coisa, além do vento, empurrava-o até bem próximo ao pequeno relevo no costão de granito.  Então pensou:

           - Se eu conseguisse dar uma mãozinha ao vento, lá chegaria. Estou bem perto. Só mais um pouquinho. O vento e mais alguma coisa? Seja lá o que for, tenho que fazer a minha parte. Vou chegar lá de qualquer jeito.

 

.............Continua semana que vem!

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