quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

A História de Helô - Parte 63


Continuando...
Minha filha, essas duas, e não pode ser adiado para a eternidade, vão ter que se entender. A evolução não para. Nessa encarnação, Amélia conseguiu crescer e Mirna vai ter que aprender o perdão para avançar também. A bondade tem que crescer dentro do seu coração, mas um dia ela vai conseguir.
          - Madre, depois a senhora tem que me explicar tudo isso. A senhora fala a quase todo o momento sobre reencarnação, mas é uma coisa muito difícil para eu entender. Nunca acreditei nisso. Como acreditar se aqui sempre nos ensinaram que, ao morrermos, iremos para o céu e ponto final?  Isso, quando a gente anda sempre no caminho do bem. Se a pessoa não é legal, faz o mal para as outras pessoas, acaba nas chamas do inferno. Foi isso que sempre escutei.
          A senhora falou alguma coisa de realizar. Realizar o quê?
          A Madre antes de responder, de imediato, essa última pergunta, disse:
         - Minha filha, são tantas informações que temos ao longo da vida que muitas não nos servem de nada. Podemos, sem dúvida alguma, jogar no lixo. Nós temos que utilizar somente aquelas que vão nos fazer uma pessoa melhor.  Se você seguir essa máxima que Jesus falou: “eu não desejo aos outros, o que não quero para mim” – já é meio caminho andado. Esse tem ser um grande foco. Agora, a sua preocupação maior no momento foi a palavra realizar? O realizar,a que eu me referi, foi em relação ao trabalho que viemos fazendo até aqui. Temos que completar o que já realizamos até esse momento. Só isso.  Helô, vamos andar rápido. Em instantes vão tirá-la daqui. Minha filha, olhe o antebraço de Amélia, do braço direito.
          Prontamente ela atendeu. Arregaçou a manga do hábito, que cobria todo o braço, e olhou-o de cima a baixo, encontrando realmente, onde a Madre indicou-lhe, três picadas de agulha. Depois foi para o outro braço, mas a Madre soprou-lhe que não precisava, mas que olhasse a mão. Ela então observou que essa mão estava fechada. Não tinha visto porque o hábito cobria-a toda. Tentou abrí-la, entretanto os dedos já estavam enrijecidos. Ia desistir, mas a Madre mandou-a continuar. Forçou, forçou e acabou conseguindo uma pequena abertura. Por ali conseguiu ver que tinha um pedaço de papel amassado. Tentou mais um pouquinho e aí sim deu para tirá-lo. Além de bem amassado, ainda tinha um pedaço rasgado. Abriu-o e conseguiu ler o pouco que tinha escrito. Era uma letra muito tremida e com falhas na grafia. Nesse pedaço dizia:
          - “Helô, minha querida, quando você ler este bilhete, vai descobrir tudo. Você é a mi...”
          Esse era o único pedaço que restava do bilhete. Quando ela ia perguntar alguma coisa à Madre, a irmã Celeste adentrou a enfermaria e, nada cortês,mandou-a retirar-se, pois o médico acabara de chegar para dar o atestado de óbito.
         Antes de sair, Helô beijou a testa da irmã Amélia. Depois caminhou em direção à porta que dava acesso ao corredor. Saiu dali abraçada à tristeza e foi passo a passo segurando as lágrimas até onde desse, mas caminhou pouco. Logona primeira pilastra encostou-see deixou que as lágrimas transbordassem sem freio. Depois foi andando, mas sem prestar atenção em nada e em ninguém. Olhava e nada via. A Madre Maria de Lourdes caminhava ao seu lado, ajudando-a a carregar a sua dor, mas sabia que ela não podia ficar assim por muito tempo. Tinha que trazê-la à razão. Depois de andar bastante agarrada a Helô, ela disse:
          - Minha filha, vamos para o pomar. Lá ninguém vai lhe incomodar.
Ela escutou e mudou os passos, indo em direção ao pomar. A Madre sabia que ali era onde Helô se sentia melhor. Sentaram-se debaixo de uma amoreira, onde, desde criancinha, ela se refugiava. Depois de acomodadas a Madre lhe falou:
          - Helô, está perto de você descobrir a verdade da sua vida. Esse tempo todo eu nunca pude falar, mas tem uma pessoa que pode lhe dar esse presente, e essa pessoa é o delegado Rodolfo, ou você mesma.
          - Por que ele? E eu também posso?
          - Você só vive cheia de porquês! O seu repertório é vasto: porque disso, porque daquilo. Por quê? Por quê? Minha filha,quandoeu não posso falar, eu não falo. Se eu estou aqui na sua companhia é porque me foi permitido, mas existem limitações. Quando disse que você pode resolver o mistério da sua vida, é porque você pode. Entretanto eu não posso me intrometer. Se assim foi escrito, eu não posso apagar e mudar o texto. Você não está com o pedacinho do bilhete? Então, pegue-o e analise-o.
  A Madre de repente silencia, fecha os olhos e se afasta um pouquinho de Helô. Ela já tinha visto isso acontecer mais de uma vez. Então esperou até que resolvesse falar novamente e isso não demorou nem dez segundos. Ela abriu os olhos e disse:
          - Helô, o médico está chegando. Quando ele entrar na sala da Madre Joana, você vai ficar bem próxima da porta e, com uma orelha colada, escutar toda a conversa. Sei que sem ajuda você não vai conseguir. Essas portas são muito espessas. Então vou melhorar a sua audição. Vamos andando.
          Elas saem do pomar e se dirigem ao corredor que dá acesso ao escritório da Madre Joana. Estrategicamente, Helô coloca-se atrás de um pilar. De onde estava, via todo o movimento, mas não era vista por ninguém. Um arbusto decorativo plantado dentro de um vaso de cerâmica ajudava-lhe a manter-se camuflada. Do esconderijo até a porta do escritório era uma distância curta e, a qualquer sinalização da Madre Maria de Lourdes, ela, em poucos passos, chegaria à porta rapidamente. Ficou ali de plantão por alguns minutos, mas numa espera nervosa.
...............Continua semana que vem!!

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