terça-feira, 10 de dezembro de 2019

A História de Helô - Parte 61



Continuando...

Ela procurou equilibrar-se emocionalmente. Mesmo não estando cem por cento, procurou esticar-se, frear o coração e ir em frente ao encontro da Madre Joana no  alojamento.  Percebia que os seus passos não estavam muito firmes. Na verdade sentia-se um pouco trôpega. Quem a olhasse caminhando, juraria que estava bêbada. Brigava com o imponderável, pois, em alguns momentos, juraria que não pisava o chão. Entretanto, mais à frente a sensação era de que o chão virara um imenso buraco e que só não se despencava dentro dele, pois alguém a amparava.  Isso que sentia fez com que olhasse ao redor. E foi só girar o pescoço e deu de cara com a Madre Maria de Lourdes, que ao seu lado emitia fachos de luz carregados com energias reparadoras.  Mentalmente agradeceu à Madre Maria de Lourdes pelo apoio. Parou em frente ao alojamento, mas não entrou logo, primeiro aprumou-se, mexeu nos cabelos, olhou a sua saia e passou a mão para esticá-la um pouco, respirou fundo e aí sim é que entrou e  de cabeça erguida.
          A Madre Joana já estava à sua espera, acompanhada de uma irmã, que no momento ela não reconheceu. – Era mais uma escudeira. – pensou. Foi até onde a Madre estava. Ela se levantou e, sem falar nada, abraçou-a. Helô estremeceu. Sentiu um mal estar que jamais sentira antes. Aquele contato deixou-a com o coração aos saltos e batendo descompassado. Precisou que a Madre Maria de Lourdes interviesse, emitindo raios de luz medicamentosos. Logo os batimentos cardíacos foram voltando ao normal. Helô então, delicadamente, foi-se afastando daquele contato. A Madre Joana, simulando uma emoção que não tinha, pegou um lenço e passou nos olhos, enxugando uma lágrima que não caíra. Então, com fingida docilidade, deu a notícia da morte da irmã Amélia. Helô recebeu a notícia, deixou a cabeça escorregar até o peito e manteve-se em silêncio respeitosamente. Depois ergueu a cabeça e mostrando equilíbrio nas emoções, sem derramar uma gota de lágrima sequer, perguntou:
           - Madre, ela morreu de quê?
           - Foi um mal súbito, minha filha. Estávamos conversando no meu escritório e ela caiu ali mesmo.
          - A senhora disse que foi um mal súbito.
          - Sim, Helô.
          - Posso vê-la?
          - Claro. Venha comigo.
          Helô saiu dali acompanhada da Madre e da irmã, que ela não conhecia. Chegaram à enfermaria e foi logo conduzida, pela irmã Celeste, até onde estava o corpo da Irmã Amélia. Lá chegando, conseguiu engolir toda emoção que estava sentindo. Não queria demonstrar fraqueza na presença daquela criatura do mal. Foi até a cabeceira da cama e, quando ia tirar o lençol que cobria a sua mãezinha, olhou para a irmã Celeste e pediu para ficar sozinha. A escudeira da Madre Joana não lhe respondeu, mas virou as costas e saiu da enfermaria. Helô a princípio ficou olhando para aquele corpo coberto. Teve um momento de dúvida. Não estava com medo, isso ela sabia. O problema era ver em que tinha se transformado a irmã Amélia. Pensou, pensou e concluiu que não devia fugir. Ela se conhecia bem. Se não visse o corpo, levaria o resto da vida se punindo.  Sem mais demora, descobriu-o. Para  sua surpresa a irmã Amélia estava com uma expressão tranquila. Não percebeu qualquer traço de dor. Respirou aliviada. Carinhosamente passou a mão pela sua cabeça, que estava com os cabelos à mostra. Nunca tinha visto os seus cabelos. Viu que a irmã tinha muitos cabelos brancos. Não podia imaginar que uma pessoa tão nova, pudesse estar com os cabelos tão grisalhos. – Foi de tanto sofrimento. – pensou.
          Helô resolveu também observar o corpo, para ver se tinha alguma marca de violência, mas dessa vez não encontrou nada que atestasse maus tratos. Voltou novamente para o rosto. Quando o olhava, sentindo que não podia mais guardar a dor que dilacerava a sua alma, viu quando uma lágrima desceu pelo rosto da morta. Instintivamente enxugou-o com a ponta do dedo e nesse mesmo instante as suas lágrimas também desceram aos borbotões. Abraçou-se ao corpo de Amélia e extravasou toda a sua dor.
          A Madre Maria de Lourdes, que continuava ao seu lado, tentou falar mentalmente com ela, mas não teve retorno. Queria amenizar a sua dor e insistiu novamente.
       - Minha filha, está me ouvindo?
        Helô não dava o menor sinal de ter ouvido, mas ela continuou tentando manter contato. Só que dessa vez, emitiu raios de luz azulada em sua direção. De repente a Madre recebeu um sinal, mesmo que muito fraco, de Helô. Ela pediu-lhe socorro.
         - Madre, onde a senhora está? Me socorre! Pelo amor de Deus!
         - Estou aqui, minha filha. Do seu lado, meu amor. Eu não saí daqui.
         - Eu quase não entendo o que a senhora fala! E não consigo vê-la!
         - Helô, fique calma. Ore, minha filha. Ore. Eleve o pensamento ao altíssimo.
          Ela então escutou a palavra ore. Ouviu e concentrou-se o máximo que pode. Puxou Jesus para o seu coração e pediu a Ele forças para suportar aquele momento difícil e que recebesse a irmã Amélia no Seu reino. Orou com o fundo da alma. Uma oração cheia de humildade e pureza de sentimentos. De repente, mesmo com os olhos fechados, viu brotarem luzes de matizes variados por toda a enfermaria. Abriu os olhos e sentiu-se dentro do sol. À sua frente a Madre flutuava. Então chorou emocionada. A conexão estava reatada. A Madre sorria satisfeita. Helô transbordando de emoção, falou:
          - Madre, a senhora é uma santa! É um anjo! Deve estar no céu ao lado de Jesus!
          A Madre sorriu e balançou a cabeça em sinal de negação. Apagou um pouco a sua luz e se postou ao lado de Helô. Beijou a sua face e depois disse:
         - Minha filha, eu agradeço todos esses títulos que você gentilmente me emprestou: de santa e anjo. Além de me arranjar um lugar de destaque ao lado de Jesus. Meu amor, eu não sou nada disso. Sou apenas um aprendiz do bem. E, meu amor, eu não fui para céu nenhum. Continuo agarrada ao nosso planeta. Vou te falar um segredo: quando parti pensei que fosse para um lugar que não precisasse fazer nada. Só curtir as belezas do céu. Aí começou a minha decepção. No primeiro lugar que cheguei, era tão feio! Mas tão feio! Feio igual aos defeitos que carregava!  Por isso fui pra lá! Depois de muito tempo é que fui entender isso. E Jesus? Eu não vi, mas uma coisa eu posso garantir: Ele me via em todo momento. Nunca me deixou só. Eu fui socorrida com autorização sua. 
......................Continua semana que vem!

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