Continuando...
Helô resolveu, depois de pensar
muito, esperar. Não podia pôr em risco a integridade física da irmã Amélia. Foram
dias e mais dias de tristeza, Entretanto, ao pensar no delegado, uma ponta de
esperança apareceu. Então o otimismo tomou vulto e ela apostou na hipótese dele
aparecer de uma hora para outra. Foi um alento. O seu espírito sossegou um
pouco.
Dezembro estava na porta. Era o último
dia de novembro. Especialmente nesse dia ela acordou amargurada. Uma sensação
ruim invadiu o seu coração. Não estava entendendo o seu estado. Tinha melhorado
bastante. Até o dia anterior era uma pessoa mais otimista, mas agora, uma dor,
que nunca tinha experimentado, alojava-se
na sua alma. Só tinha vontade de chorar.
O seu ritual de toda manhã, ela seguiu
na risca, mas o nó na garganta não se desfazia. A Madre Maria de Lourdes, sentindo
toda a sua dor, quis se fazer presente, para tentar amenizar o seu sofrimento.
Aproximou-se, mas notou que ela não percebeu a sua proximidade. Tentou contato
por telepatia, mas foi o mesmo fracasso. Helô estava fechada para se comunicar
com o outro plano. Nesses anos todos de intercâmbio com o plano espiritual,
essa foi à única vez que esteve com sintonia zerada. A Madre ficou preocupada. Dos seus olhos desceram
gotas de lágrimas. Então dirigiu-se para
o pomar e fez fervorosa prece.
Como era sábado, Helô já tinha ido até
o pomar, ao jardim e em todos os cantos do convento, mas a angustia não
passava. Resolveu voltar para o alojamento. Caminhava pelo corredor sem muita
pressa, mas antes que chegasse à porta, alguém, que estava escondido atrás de
um pilar, puxou-a pelo braço e uma mão forte já tapava a sua boca. Um grito que
deveria sair ficou pela garganta. Olhos arregalados, não conseguia ver quem a tinha agarrado. Quando uma voz, já
sua tão conhecida, falou no seu ouvido:
- Calma, Helô. Não grite. Sou eu.
A pessoa falou e imediatamente tirou a
mão da sua boca. O grito não saiu. Helô respirou fundo e falou quase
gaguejando:
- Puxa, irmã! Que...que susto! Por...
por que isso?
- Calma, Helô. Eu não queria...
- Não queria o quê?
- Tem gente esperando-a no
alojamento.
- O delegado chegou?
Helô falou com tanto entusiasmo que
a pessoa ficou curiosa.
- Não. Não. Conta! Está esperando o
delegado por quê?
- Nada! Nada não! Depois eu explico
isso a senhora, mas quem é que está a minha espera?
A irmã Gertrudes não conseguiu
articular nenhuma palavra. Parecia que procurava alguma coisa para dizer, mas
não estava achando nada. As palavras certas tinham fugido. Olhava ansiosa para
Helô e via a sua angústia. Então desatou o nó da sua garganta e, com muito
esforço, conseguiu dizer alguma coisa.
- Minha menina, sabe...
- Sabe o quê, irmã? Fala, irmã! Estou ficando mais angustiada do
já estava!
- Eu vou falar, mas está difícil. Uma
parte é fácil. Sabe a pessoa que eu disse que estava a sua espera?
- Sim. E daí!
- Essa pessoa é a Madre Joana.
- Por que tanta dificuldade pra falar
isso? O que é que ela quer comigo?
- Essa é a parte mais difícil, mas
vou dizer. Tenha calma que eu vou dizer.
- A senhora está mais nervosa do que
eu! Fala logo!
- Está bem. A Madre quer falar-lhe
uma coisa, mas eu achei melhor me antecipar e falar que... dar-lhe a notícia.
- Que notícia, irmã? Vai em frente! O
que aconteceu com a irmã Amélia?
- Por que você acha que é alguma coisa
sobre ela?
- Com tanto mistério, só pode ser!
- Mas eu não sei como falar-lhe! Não
sei como dar-lhe a notícia! Eu queria me antecipar, mas estou vendo que está
sendo pior!
- Já sei! Já sei! A irmã Amélia piorou
muito, não é isso?
- Mais ou menos. Na verdade é pior do
que isso.
- Então... ela morreu?
- Infelizmente, é, minha menina.
Helô sentou-se no chão e deixou que
todas as suas lágrimas, que estavam represadas, desabassem de uma vez só. Nunca
tinha chorado tanto na sua vida. Chorou tudo que tinha direito.
A Madre Maria de Lourdes, sentindo a
angústia que tomara conta de Helô, deixou o grupo que protegia a irmã Amélia e voltou
rapidamente para o seu lado. O seu estado era realmente precário. Sem perda de
tempo começou a mandar jatos de luz para confortá-la e fortificá-la. Essa transfusão
de energia ia revigorá-la. A irmã Gertrudes que não se desgrudara dela,
percebeu que o seu rosto foi adquirindo um tom rosado. Em minutos já tinha voltado à sua cor natural.
Em seguida, um brilho forte no olhar explodiu do nada e, em seguida, o fluxo de
lágrimas que afogava aquela alma tenaz estancou. Num repente ela se levantou,
enxugou os olhos e disse:
- Irmã, onde ela está?
- Continua na enfermaria.
- Eu estou indo para lá.
- Helô passa primeiro no alojamento.
A Madre Joana está lá à sua espera, mas não diga... Sabe de uma coisa? Pode
dizer! Pode dizer sim!
...........................Continua semana que vem!
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