terça-feira, 3 de dezembro de 2019

A História de Helô - Parte 60


Continuando...

          Helô resolveu, depois de pensar muito, esperar. Não podia pôr em risco a integridade física da irmã Amélia. Foram dias e mais dias de tristeza, Entretanto, ao pensar no delegado, uma ponta de esperança apareceu. Então o otimismo tomou vulto e ela apostou na hipótese dele aparecer de uma hora para outra. Foi um alento. O seu espírito sossegou um pouco.
         Dezembro estava na porta. Era o último dia de novembro. Especialmente nesse dia ela acordou amargurada. Uma sensação ruim invadiu o seu coração. Não estava entendendo o seu estado. Tinha melhorado bastante. Até o dia anterior era uma pessoa mais otimista, mas agora, uma dor, que nunca tinha experimentado,  alojava-se na sua alma. Só tinha vontade de chorar.
       O seu ritual de toda manhã, ela seguiu na risca, mas o nó na garganta não se desfazia. A Madre Maria de Lourdes, sentindo toda a sua dor, quis se fazer presente, para tentar amenizar o seu sofrimento. Aproximou-se, mas notou que ela não percebeu a sua proximidade. Tentou contato por telepatia, mas foi o mesmo fracasso. Helô estava fechada para se comunicar com o outro plano. Nesses anos todos de intercâmbio com o plano espiritual, essa foi à única vez que esteve com sintonia zerada.  A Madre ficou preocupada. Dos seus olhos desceram gotas de lágrimas. Então  dirigiu-se para o pomar e fez fervorosa prece.
         Como era sábado, Helô já tinha ido até o pomar, ao jardim e em todos os cantos do convento, mas a angustia não passava. Resolveu voltar para o alojamento. Caminhava pelo corredor sem muita pressa, mas antes que chegasse à porta, alguém, que estava escondido atrás de um pilar, puxou-a pelo braço e uma mão forte já tapava a sua boca. Um grito que deveria sair ficou pela garganta. Olhos arregalados, não conseguia  ver quem a tinha agarrado. Quando uma voz, já sua tão conhecida, falou no seu ouvido:
          - Calma, Helô. Não grite. Sou eu.
         A pessoa falou e imediatamente tirou a mão da sua boca. O grito não saiu. Helô respirou fundo e falou quase gaguejando:
          - Puxa, irmã! Que...que susto! Por... por que isso?
          - Calma, Helô. Eu não queria...
          - Não queria o quê?
          - Tem gente esperando-a no alojamento.
          - O delegado chegou?
            Helô falou com tanto entusiasmo que a pessoa ficou curiosa.
          - Não. Não. Conta! Está esperando o delegado por quê?
          - Nada! Nada não! Depois eu explico isso a senhora, mas quem é que está a minha espera?
          A irmã Gertrudes não conseguiu articular nenhuma palavra. Parecia que procurava alguma coisa para dizer, mas não estava achando nada. As palavras certas tinham fugido. Olhava ansiosa para Helô e via a sua angústia. Então desatou o nó da sua garganta e, com muito esforço, conseguiu dizer alguma coisa.
          - Minha menina, sabe...
          - Sabe o quê, irmã?  Fala, irmã! Estou ficando mais angustiada do já estava!
          - Eu vou falar, mas está difícil. Uma parte é fácil. Sabe a pessoa que eu disse que estava a sua espera?
          - Sim. E daí!
          - Essa pessoa é a Madre Joana.
          - Por que tanta dificuldade pra falar isso? O que é que ela quer comigo?
          - Essa é a parte mais difícil, mas vou dizer. Tenha calma que eu vou dizer.
          - A senhora está mais nervosa do que eu! Fala logo!
          - Está bem. A Madre quer falar-lhe uma coisa, mas eu achei melhor me antecipar e falar que... dar-lhe a notícia.
         - Que notícia, irmã? Vai em frente! O que aconteceu com a irmã Amélia?
        - Por que você acha que é alguma coisa sobre ela?
        - Com tanto mistério, só pode ser!
        - Mas eu não sei como falar-lhe! Não sei como dar-lhe a notícia! Eu queria me antecipar, mas estou vendo que está sendo pior!
       - Já sei! Já sei! A irmã Amélia piorou muito, não é isso?
       - Mais ou menos. Na verdade é pior do que isso.
       - Então... ela morreu?
       - Infelizmente, é, minha menina.
       Helô sentou-se no chão e deixou que todas as suas lágrimas, que estavam represadas, desabassem de uma vez só. Nunca tinha chorado tanto na sua vida. Chorou tudo que tinha direito.
          A Madre Maria de Lourdes, sentindo a angústia que tomara conta de Helô, deixou o grupo que protegia a irmã Amélia e voltou rapidamente para o seu lado. O seu estado era realmente precário. Sem perda de tempo começou a mandar jatos de luz para confortá-la e fortificá-la. Essa transfusão de energia ia revigorá-la. A irmã Gertrudes que não se desgrudara dela, percebeu que o seu rosto foi adquirindo um tom rosado.  Em minutos já tinha voltado à sua cor natural. Em seguida, um brilho forte no olhar explodiu do nada e, em seguida, o fluxo de lágrimas que afogava aquela alma tenaz estancou. Num repente ela se levantou, enxugou os olhos e disse:
          - Irmã, onde ela está?
          - Continua na enfermaria.
          - Eu estou indo para lá.
          - Helô passa primeiro no alojamento. A Madre Joana está lá à sua espera, mas não diga... Sabe de uma coisa? Pode dizer! Pode dizer sim!
...........................Continua semana que vem!

Nenhum comentário:

Postar um comentário