Continuando...
Helô nem percebeu o que estava
acontecendo. Como um foguete passou pelo pomar e, quando se deu conta, já
estava dentro do alojamento. Isso tudo se passou em frações de segundos, mas alguns
fragmentos do ocorrido dentro da gruta, mesmo contrariando as palavras da
Madre, balançavam-se dentro da sua memória. Eram pedaços de imagens que, sem
sentido, circulavam na sua cabeça. Só
podia ser sonho. – pensou.
A menina sentiu-se sonolenta. Olhou
para a cama e teve vontade de deitar. Ainda não era noite, mas o seu corpo não
estava resistindo. Então deu uma olhada por todo o alojamento e constatou que
não tinha ninguém, afastou a colcha e se deitou.
Dez dias já tinham se passado desde a
última aparição da Madre Maria de Lourdes. Helô mais uma vez não estava
entendendo o seu sumiço. Na noite do décimo dia, ela apareceu no seu sono.
Chegou, deitou um beijo na sua testa e disse:
- Minha filha, vou ter que me afastar por mais alguns meses.
Nesse período, a penúltima sala onde quero levá-la vai estar muito movimentada,
mas pode ficar certa que estarei lá com mais alguns companheiros, trabalhando
por quem precisar. Nesse período tente não procurar a irmã Amélia. Deixe-a vir
ao seu encontro. Evite criar problemas para ela. Eu sei que a saudade que você
sente dela é muito grande, mas aguente. Faça tudo para que a Madre não volte a
perseguí-la. Fique com Deus, minha filha.
Helô acordou na manhã seguinte e
recordou-se do sonho que tivera, quase nada esqueceu. Ainda estava com a sensação
do beijo na testa. Ficou sentada na cama e tentou avivar o que a Madre tinha
falado. Que sala seria essa? – indagou para si. Depois foi lavar o rosto e
escovar os dentes, em seguida, pegou seus cadernos e livros e, antes das aulas,
foi tomar o café da manhã.
O tempo foi passando e nada da Madre
voltar. Helô já se aproximava dos dezesseis anos. A tal sala que a irmã falou
em sonho não saía da sua cabeça. Sentiu vontade de ir até a gruta sozinha.
Algumas vezes se encontrava frente à entrada, mas quando tentava entrar alguma
coisa fazia com que retrocedesse. Ela já tinha perdido a conta de quantas vezes
tinha tentando. Procurou entrar em contato com a Madre Maria de Lourdes, mas
não teve nenhum sucesso.
Nesse período em que a entidade ficou
sumida, Helô foi voltando à sua vida normal no convento, ou tentava aproximar-se
do normal. Recordando-se do sonho, fez o que Madre Maria de Lourdes lhe falou:
não procurou a irmã Amélia. Realmente seguiu à risca o que foi sugerido, só
estando com ela quando era por ela procurada e percebeu que, agindo assim, a
via mais vezes. Com isso, o tempo passou tão rápido que nem percebeu, mas esse
período não foi curto, pois ela já estava se aproximando dos dezessete anos. Mais
ou menos um ano sem a entidade aparecer.
Os meses correram tão rápido que Helô
só percebeu que mais um ano estava findando, quando já tinha entrado novembro e
estava na véspera do seu aniversário. Isso
porque a irmã Gertrudes, ao abraçá-la, disse na sua orelha:
- Minha menina, já que amanhã é seu
aniversário – dezessete anos!- vou fazer uma surpresa pra ti, guria!
- Ih! É mesmo! Sabe que tinha me
distraído? Que surpresa é essa, irmã?
- Se eu falar vai deixar de ser
surpresa!
- Pode falar. A senhora sabe que não
gosto muito de surpresas.
- Amanhã eu falo. Agora me diga qual o
presente que gostarias de ganhar?
- Ah! Irmã! A senhora sabe que não ligo
muito pra essas coisas, mas não precisa ficar com essa cara de aborrecida. Está
bem: um livro!
- Não é que era isso que tinha pensado!
Como adivinhaste, guria?
Helô não respondeu, ficou olhando na
cara da irmã e caiu na gargalhada. A irmã, não resistindo, fez coro com ela. As
duas quase choraram de tanto rir. Todo aniversário da menina era sempre assim.
O suspense sempre envolvia a hora do presente, mas no final Helô ganhava um
livro. E a surpresa? A irmã Gertrudes
não falou.
Na manhã do seu aniversário, Helô foi
despertada por um canto de pássaro. Não se lembrava de ter ouvido um canto tão
lindo. Aproximou-se da janela, colocou a mão na tramela, mas acabou recuando. O
pássaro continuava cantando. Tentou abrí-la novamente, porém estancou
novamente. Não queria atrapalhar o sono das amigas. Sorrateiramente se dirigiu à
porta, abriu-a, procurando não fazer barulho, e foi até onde estava o
passarinho. Quando chegou ao local, não o encontrou, mas o seu canto continuava
ecoando. Procurou nas proximidades e nada, entretanto o canto estava mais forte,
como se estivesse próximo às suas orelhas. Resolveu voltar para o alojamento.
Quando deu o primeiro passo de volta, o pássaro parou de cantar. Estancou de
repente, ficou parada por alguns segundos e nada do bicho voltar a cantar. Deu
meia volta e aí o canto voltou a tomar conta do ambiente. Era uma melodia suave
que entrava pelo ouvido de Helô deixando-a leve. Fechou os olhos e teve a
sensação que os seus pés estavam perdendo o contato com o chão. Tinha quase
certeza que estava levitando. Abriu os olhos e percebeu que estava no mesmo lugar,
mas estava feliz.
...............Continua semana que vem!
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