terça-feira, 16 de abril de 2019

A História de Helô - Parte 28

Continuando...

A entrada da gruta, pela primeira vez, estava livre de vegetação. Parecia que alguém estivera ali e fizera uma faxina. A entidade entrou na frente e foi clareando-a. A luminosidade era de uma lâmpada de 100 W, parecia dia. Helô seguiu a Madre demonstrando muita tranquilidade. Estava tão confiante que foi direto para a rosa vermelha. A entidade apenas observava, não interferiu um minuto sequer nos seus movimentos, deixou a menina tomar toda a iniciativa. Helô estava ali frente a frente com a rosa vermelha, esticou o braço e com as pontas dos  dedos deu um leve giro na rosa. Imediatamente a porta foi-se abrindo. Como das vezes anteriores, o interior estava completamente engolido pela escuridão, mas dessa vez ela não recuou, foi cortando o negrume do cômodo. Com certeza estava confiante na presença da entidade. Já tinha penetrado alguns passos, de repente parou, virou-se e falou com a Madre:
          - Irmã, o que é aquilo lá dentro? Mesmo nessa escuridão toda, parece que tem alguma coisa se mexendo. Estou ouvindo alguns gemidos. O que é isso?
          A Madre Maria de Lourdes pousou uma das mãos no seu ombro e disse:
          - Calma, minha menina, sua visão e sua audição estão melhorando. Você já está conseguindo perceber e sentir a presença de entidades do outro plano, já começou a subir o primeiro degrau. Essa escada é infinitamente grande, mas é um bom começo.
          - Mas o que é aquilo? Têm muitas sombras indo de um lado para o outro!
          - Minha filha, têm muitas irmãs que ainda não conseguiram se libertar desse ambiente. Aquelas sombras são meninas que perderam a vida terrena aqui. A maioria continua procurando pelos seus filhos que também acabaram fazendo a passagem, só que elas não sabem que eles também morreram e que já estão em outras paragens. Na verdade nem  sabem que não  fazem mais parte do seu mundo, Helô. Não precisa ter medo, faça uma oração por essas meninas, pede a Deus que as liberte. Vamos fazer juntas, depois entramos.
         Helô não sabia bem o que fazer. Aquela coragem inicial parecia que tinha ido embora. Queria perguntar alguma coisa, mas não conseguia, olhava para a Madre e engolia o excesso de saliva que enchia a boca. Isso acontecia sempre que estava com medo. Até pegar coragem para falar com a entidade, engoliu mais de uma vez a saliva.
          A Madre olhava e esperava pacientemente Helô se refazer. Sabia que era uma situação nova e dificílima para a menina. Como uma criança com apenas quinze anos de idade poderia encarar uma situação daquele porte? Até que ela conseguiu se sair muito bem, desde que iniciou a sua incursão pela mata densa até chegar ao interior daqueles cômodos escondidos debaixo da terra. Ela esperou por mais alguns minutos, até que resolveu falar por telepatia com ela:
       - Calma! Fique calma, minha filha! Vou clarear o ambiente para que você espante esse medo, pelo menos você não verá mais nenhum espírito. Já estou pedindo ajuda para que levem essas irmãs daqui. Pode vir.
          Helô instantaneamente foi-se acalmando. Mal viu a claridade, o coração voltou a bater mais devagar, mas tentou articular alguma palavra e nada conseguiu. Depois tentou andar, mas parecia que tinha os pés colados no chão. Ficou assim por algum tempo, até que com muito esforço conseguiu sair da inércia, arrastando vagarosamente os pés. Aos poucos foi adentrando a sala que tanto já conhecia, enquanto tentava aproximar-se da Madre. Conseguiu falar com ela mentalmente.
           - Madre, sabe que ainda continuo vendo essas coisas se movimentando? A senhora disse que eu não ia ver, mas continuo tendo as visões. Estou vendo nesse momento alguns vultos claros, mas também têm muitos escuros rodando pela sala. Viu?
          - Minha filha, isso tudo vai passar. Eu sei que essa situação é muito difícil pra você, mas... Escute-me com atenção: você me vê com muita clareza, não é isso? Então, com essa sua vidência, aqui você verá muitas meninas que já fizeram a passagem.
          - Mas, irmã, eu não sei se eu quero isso não! Estou com medo, irmã, muito medo! Irmã, eu não quero ver fantasmas, não!
          Mal terminou de falar e um espírito veio em sua direção com os braços abertos. O seu pranto era de dar dó. Helô estava com o espanto cravado na cara, não sabia se corria, se gritava. O susto foi tamanho que as pernas ficaram presas. O grito, que pensou dar, ficou travado na garganta. Olhos arregalados, tentava pedir socorro à Madre. O espírito continuava vindo, mas por sorte ele caminhava com dificuldade, arrastava pesadamente os pés pelo chão. Com isso, Helô conseguiu se desvencilhar um pouco do medo e, depois de muito esforço, virou-se para pedir socorro à irmã.  Assim ela fez, porém o pavor que estava sentindo bloqueou os canais de comunicação, contudo a Madre, percebendo o seu descontrole, foi socorrê-la imediatamente, cobrindo-a com o seu manto e isolando-a de todo e qualquer contado com a aparição, principalmente as vibrações deletérias. Então, como por encanto, Helô voltou a ter total controle sobre os seus nervos. A Madre Maria de Lourdes falou docemente:
          - Que bom, Helô, você conseguiu se acalmar. Não tema nada. Estou do seu lado, protegendo-a.
          Helô nem esperou para ver se a irmã ia falar mais alguma coisa, ainda com uma ponta de ansiedade, disse:
          - Irmã! Irmã! Aquela sombra...eu reconheci! É Helena! Ela sumiu no ano passado! Disseram que tinha ficado doente! Ela morreu, irmã?
          - Sim, minha filha, essa irmãzinha fez a passagem há pouco mais de um ano. Infelizmente ainda não conseguimos ajudá-la. Ela e mais algumas ainda não sabem que não estão mais encarnadas, outras já conseguimos encaminhar para hospitais emergenciais na espiritualidade.
          - Hospitais? Depois a senhora me explica isso, está bem? Madre, como aconteceu a morte dela? Ela tinha ido para São Paulo e depois ninguém soube de mais nada. Como é que ela voltou e ninguém soube?
          - Minha filha, ela não fez a passagem lá, foi aqui mesmo que aconteceu o seu desencarne.
          - Aqui? Mas como? Estou com medo, irmã! Vou embora! Não quero ficar vendo fantasmas, não! Já estou vendo outro! Olha ali! E tem alguém lá do outro lado, vestido de preto, me olhando! Olha só o tamanho dos olhos! Meu Deus!
          - Calma, minha filha, você não vai ver mais nada. Feche os olhos, espere alguns segundos e depois pode abrir. Agora, está vendo alguma coisa?
          - Não. Agora não, mas neste instante passei a ouvir gente chorando e gemendo também! Ih! Tem gente rindo, irmã! Madre,  vou embora! 
          - Fique onde você está. Você não vai ver e nem ouvir mais nada, pode ficar tranquila. Você não confia em mim?
         - Sim, irmã, eu confio, mas tudo isso é de assustar! Acho que... Acho não, tenho certeza, não estou preparada pra isso, não! De repente tem gente mais velha que está mais preparada!
         - Helô, você foi a escolhida. Você é a pessoa que está preparada para essa missão e não se fala mais nisso, está bem? Confia e vai em frente. Deus vai nos ajudar. 
.............Continua semana que vem!

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