terça-feira, 2 de abril de 2019

A História de Helô - Parte 26

Continuando...

Dois anos se passaram.
          O dia acabava de amanhecer. Helô terminava de escovar os dentes. De repente lembrou-se que tinha completado quinze anos na semana anterior e junto veio a lembrança da irmã aparição. Já tinha mais de ano que ela não dava as caras de fato. De vez em quando, num momento de sufoco, entrava no seu sonho: pedia socorro e lá estava a irmã,  mas não passava disso. Entretanto, sem ela esperar, na tarde desse dia, depois das aulas, a irmã deu o ar da sua graça quando Helô se encaminhava para o alojamento. O susto foi enorme. Talvez igual ao da primeira vez.
          A Madre Maria de Lourdes apresentou-se sorridente. Riu com certeza do susto que Helô levou. Lembrou-se claramente da primeira aparição. Helô depois de respirar fundo sorriu também e, em pensamento, exclamou:
          - Puxa, irmã, a senhora sumiu! De repente aparece assim do nada! Tinha que me assustar? Ufa!
          A Madre sorriu mais uma vez e disse:
          - Helô! Precisa ver a sua cara quando se assusta! Até alma de “outro” mundo ri! Sabia?
          Helô sorriu também. Parou a alguns metros do alojamento. Uma de suas amigas, curiosa, aproximou-se querendo saber o motivo do sorriso. Ela rapidamente abortou-o e arranjou uma justificativa, a primeira que veio à cabeça:
     - Manu, estava lembrando quando a Mari colocou uma perereca na bolsa da irmã Júlia. O susto que ela levou dá vontade de rir toda hora que lembro. Foi sinistro!
          A amiga aceitou a justificativa e riu também. Em seguida foi em direção ao alojamento, enquanto Helô retardava os passos até parar definitivamente próximo de uma janela, fingindo que amarrava o seu sapato, sapato esse que não lhe agradava nem um pouco. Sempre desconfiou que esses calçados fossem para meninos, mas, como até as irmãs usavam, acabou se conformando, porém continuou achando que calçava um corpo estranho.
         Helô esperou que a amiga entrasse no alojamento e perguntou mentalmente à aparição:
          - Irmã! O que foi que houve que a senhora sumiu?
          A Madre Maria de Lourdes, antes de responder, aproximou-se de um beija flor que retirava o seu alimento de uma pequena flor, esticou o braço com a palma da mão virada para cima e deixou que o pequeno pássaro pousasse.  A menina arregalou os olhos e nem esperou que a Madre respondesse a sua pergunta e questionou-a novamente:
          - Madre! Como foi isso? Ele está pousado... Eu estou vendo, mas as outras pessoas não vão entender!
          - Não fique preocupada! Ninguém vai perceber nada, só vai enxergar quem tem olhos para ver! Agora, respondendo a sua pergunta inicial, estava trabalhando. Sabia que do outro lado tem muitas tarefas a serem realizadas? O trabalho é constante, não para nunca. Além do trabalho extra, que é realizado aqui na crosta terrestre, minha filha, lá em cima não se tem tempo para a ociosidade.
          - Estranho né, irmã? Não consigo nem imaginar outro mundo! Ainda mais esse, depois da morte!
          - Morrer? “Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma.”
          - Acho que já ouvi isso! O que a senhora quer?
          - Helô, já está na hora de recomeçarmos a nossa tarefa. Vamos retornar à gruta?
          A menina ficou pensativa, demonstrava apreensão, custou a responder, mas depois de torcer o nariz, disse:
         - Madre! Não sei!  Tem hora que tenho vontade, sabe? Depois bate um medo danado!
          - Medo? Mas que medo? Medo do quê? Minha filha, você está sob o meu manto. Você está sempre sob a minha proteção. Não precisa temer coisa alguma. Foi a escolhida porque você está acima, mesmo com a pouca idade que tem, de todos que aqui estão. Como disse, você está protegida.
          Helô ficou em silêncio por algum tempo, estava pensativa, analisava o que a Madre tinha falado. Enquanto cismava, a Madre olhava ternamente para ela com um leve sorriso nos lábios. Então resolveu quebrar o mutismo, procurando alguma coisa para perguntar. Não sabia direito o quê, mas tinha que achar, naqueles pensamentos embaralhados, a pergunta certa. Na realidade eram várias as perguntas que dançavam no seu cérebro. Olhou para a Madre e já tinha o que indagar. A aparição já sabia o que ela ia falar, entretanto esperou que Helô formulasse a pergunta.   
          - Irmã, estou pensando... Puxa! Eu tinha que ter perguntado há muito tempo! Engraçado é que eu sempre esquecia, mas agora eu vou perguntar! Eu estava pensando, se a senhora entra em qualquer lugar, sabe tudo que a gente está pensando e ouve tudo, por que a senhora não me diz logo o que a gente vai fazer lá dentro?
.....................Continua semana que vem!

Nenhum comentário:

Postar um comentário