terça-feira, 9 de abril de 2019

A História de Helô - Parte 27

Continuando...

          A Madre Maria de Lourdes  aproximou-se de Helô, colocou um beijo na sua testa e disse:
          - Minha menina, eu não posso. Não me é permitido, mas vou continuar protegendo-a  até que a cortina caia. Helô, só você pode realizar essa tarefa. Eu fui colocada do seu lado para ajudá-la a salvar a instituição. Que Deus nos ajude!
          Helô não sabia o que dizer, mas uma pergunta ela fez para si:
          - Como uma menina de quinze anos, pode salvar o convento? Salvar do quê?
          A entidade olhou com ternura para ela e falou calmamente:
          - Minha filha, essa pergunta muda, eu tentarei responder. Você está se questionando. Realmente é um caso incomum, mas é que você não tem só quinze anos. Pode ter quinze anos agora, mas você tem muito mais. Mais tarde explicarei sobre isso. Agora, você mesma vai descobrir o que salvará e eu não posso adiantar nada, entretanto, minha menina, o preço vai ser alto, porém necessário. Deus escreve tudo certo. Tenha fé, porque coragem você já tem de sobra, e nunca se esqueça de que estarei sempre do seu lado. Já falei muito. Temos muito trabalho pela frente. Amanhã recomeçamos. À tarde, depois da aula de música, vamos pegar de onde paramos.
           Helô não interrompeu a Madre. Teve vontade, mas realmente não conseguiu e acabou ficando só na vontade. Nem depois que a entidade terminou de falar ela desatou o nó na garganta, apenas deu um sorriso chocho e foi para o alojamento.
          A manhã chegou e trouxe uma correria só. Parecia que os ponteiros do relógio iam se chocar. Helô com a sua ansiedade fez o tempo voar. Estava tão elétrica que, quando percebeu, já estava saindo da aula de canto: quinze horas em ponto. Mal colocou o pé do lado de fora da sala e algumas amigas se acercaram dela, convidando-a a ir brincar no pomar.  Não sabia o que falar. Tinha marcado com a Madre Maria de Lourdes para ir à gruta. Três delas, as mais velhas, inclusive mais velhas do que ela, olhavam-na esperando a sua decisão. Mentalmente pediu socorro à Madre e a resposta veio apenas com um sorriso meigo e um balançar de cabeça. Então, como a entidade nada falou, ela aceitou o convite, juntou-se às amigas e foram em direção ao pomar.
         Helô, mesmo não sendo a mais velha, conseguia liderar um grupo com as mais variadas idades. Eram vistas com ela meninas que já beiravam os dezoitos anos. Era uma liderança natural. As crianças chegavam-se e de repente já a estavam seguindo. Era uma líder nata, mas isso não era bem visto pela Madre Superiora. Aquela liderança causava-lhe preocupações, com isso voltou a fazer pressão em cima da menina. Mesmo com todo o esforço da irmã Amélia, a Madre convocou-a para comparecer ao seu escritório, no dia da visita do padre Arcanjo e do tal senhor. Foram três tentativas, porém, em cada uma delas, Helô foi acometida de febre misteriosa com a temperatura alcançando 41°, causando preocupação em todos inclusive na própria Madre, mas a sua preocupação estava longe de ser com a saúde da menina. Estava mais para o medo de ser contaminada por alguma doença. Com certeza era essa a única coisa que lhe causava medo. Mais nada fazia tremer aquele coração de pedra.
          Por detrás dessa febre “perigosa”, estava a entidade. Foi essa a única forma que ela encontrou para proteger Helô do trio diabólico e realmente deu certo. Depois dessa última tentativa, ela desistiu e informou isso à irmã Amélia, acrescentando:
          - Amélia,  vou mandar vir um médico da capital para  examinar a menina Helô. Com a idade que ela está, tem que estar sadia. Não podemos arriscar. Com essa suspeita de estar com alguma doença contagiosa, deixa-me apavorada! Não posso apresentá-la ao... Você sabe!
          A irmã Amélia manteve-se calada. Conseguiu esconder o riso que estava quase aflorando, mas ficou firme, com a cabeça baixa até que a Madre Superiora a dispensasse e, quando isso aconteceu, saiu da sala o mais rápido que pode. Do lado de fora, arreganhou a boca num sorriso farto e falou para si: - Isso só pode ser coisa de Deus! Deus ouviu as minhas preces! Não vou nem perguntar a Ele como foi isso! Três vezes ela foi chamada e três vezes ficou febril. Isso só pode ser coisa de Deus! Graças a Deus!   
         Helô e as amigas saíram correndo em direção ao pomar. Como acontecia sempre, ela chegou primeiro e fez o que gostava: subiu rapidamente numa goiabeira. Depois de acomodada nas grimpas, saboreou uma goiaba enquanto que suas amigas subiam vagarosamente,  contudo, esse tempo no topo da árvore foi curto. Uma das meninas, sem mais nem menos, resolveu descer, ato esse acompanhado pelas outras. Somente Helô permaneceu e ficou olhando, sem entender, a mudança repentina delas. Depois de alguns minutos, desceu também. Já embaixo ficou sabendo que estavam querendo ir para o parquinho, entretanto ela preferiu ficar ali. Sem contestação, todas as suas amigas se dirigiram para os brinquedos.
          A entidade aproximou-se e sorriu. Helô respirou fundo e retribuiu com um arremedo de sorriso. As duas se olhavam. Helô então entendeu que a Madre Maria de Lourdes tinha sido a causadora da repentina sensação de repulsa das meninas em ficar ali. Queria perguntar alguma  coisa, mas a Madre, como num flash, já estava na entrada da mata. Helô então foi ao seu encontro.
          Caminhavam silenciosas por entre os arvoredos.  A mata também estava sem qualquer barulho: nem pássaros, nem grilos, nem sapos, nem ventos, mas Helô sentia uma leve brisa a roçar no seu rosto. O vento leve chegava, porém sem balançar qualquer tipo de vegetação. Ela pensava na hipótese de Deus estar soprando no seu rosto. A entidade, que estava adiante, escutou o seu pensamento e sorriu. Não disse que sim e nem que não, continuou indo em frente. Helô sentiu que alguém beijava a sua face. Uma felicidade repentina, como nunca tinha sentido, instantaneamente fez moradia dentro do seu coração. A Madre parou e sorridente voltou. Chegou até a menina e fez-lhe um afago. 
..............Continua semana que vem!

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