A
Madre Maria de Lourdes aproximou-se de
Helô, colocou um beijo na sua testa e disse:
-
Minha menina, eu não posso. Não me é permitido, mas vou continuar protegendo-a até que a cortina caia. Helô, só você pode
realizar essa tarefa. Eu fui colocada do seu lado para ajudá-la a salvar a instituição.
Que Deus nos ajude!
Helô não sabia o que dizer, mas uma pergunta
ela fez para si:
-
Como uma menina de quinze anos, pode salvar o convento? Salvar do quê?
A
entidade olhou com ternura para ela e falou calmamente:
-
Minha filha, essa pergunta muda, eu tentarei responder. Você está se
questionando. Realmente é um caso incomum, mas é que você não tem só quinze anos.
Pode ter quinze anos agora, mas você tem muito mais. Mais tarde explicarei
sobre isso. Agora, você mesma vai descobrir o que salvará e eu não posso
adiantar nada, entretanto, minha menina, o preço vai ser alto, porém
necessário. Deus escreve tudo certo. Tenha fé, porque coragem você já tem de
sobra, e nunca se esqueça de que estarei sempre do seu lado. Já falei muito.
Temos muito trabalho pela frente. Amanhã recomeçamos. À tarde, depois da aula
de música, vamos pegar de onde paramos.
Helô não interrompeu a Madre. Teve vontade, mas realmente não conseguiu
e acabou ficando só na vontade. Nem depois que a entidade terminou de falar ela
desatou o nó na garganta, apenas deu um sorriso chocho e foi para o alojamento.
A
manhã chegou e trouxe uma correria só. Parecia que os ponteiros do relógio iam
se chocar. Helô com a sua ansiedade fez o tempo voar. Estava tão elétrica que, quando
percebeu, já estava saindo da aula de canto: quinze horas em ponto. Mal colocou
o pé do lado de fora da sala e algumas amigas se acercaram dela, convidando-a a
ir brincar no pomar. Não sabia o que
falar. Tinha marcado com a Madre Maria de Lourdes para ir à gruta. Três delas,
as mais velhas, inclusive mais velhas do que ela, olhavam-na esperando a sua
decisão. Mentalmente pediu socorro à Madre e a resposta veio apenas com um sorriso
meigo e um balançar de cabeça. Então, como a entidade nada falou, ela aceitou o
convite, juntou-se às amigas e foram em direção ao pomar.
Helô, mesmo não sendo a mais velha, conseguia liderar um grupo com as
mais variadas idades. Eram vistas com ela meninas que já beiravam os dezoitos
anos. Era uma liderança natural. As crianças chegavam-se e de repente já a estavam
seguindo. Era uma líder nata, mas isso não era bem visto pela Madre Superiora. Aquela
liderança causava-lhe preocupações, com isso voltou a fazer pressão em cima da
menina. Mesmo com todo o esforço da irmã Amélia, a Madre convocou-a para
comparecer ao seu escritório, no dia da visita do padre Arcanjo e do tal
senhor. Foram três tentativas, porém, em cada uma delas, Helô foi acometida de
febre misteriosa com a temperatura alcançando 41°, causando preocupação em
todos inclusive na própria Madre, mas a sua preocupação estava longe de ser com
a saúde da menina. Estava mais para o medo de ser contaminada por alguma
doença. Com certeza era essa a única coisa que lhe causava medo. Mais nada
fazia tremer aquele coração de pedra.
Por detrás dessa febre “perigosa”, estava a entidade. Foi essa a única
forma que ela encontrou para proteger Helô do trio diabólico e realmente deu
certo. Depois dessa última tentativa, ela desistiu e informou isso à irmã
Amélia, acrescentando:
-
Amélia, vou mandar vir um médico da
capital para examinar a menina Helô. Com
a idade que ela está, tem que estar sadia. Não podemos arriscar. Com essa suspeita
de estar com alguma doença contagiosa, deixa-me apavorada! Não posso apresentá-la
ao... Você sabe!
A
irmã Amélia manteve-se calada. Conseguiu esconder o riso que estava quase
aflorando, mas ficou firme, com a cabeça baixa até que a Madre Superiora a
dispensasse e, quando isso aconteceu, saiu da sala o mais rápido que pode. Do
lado de fora, arreganhou a boca num sorriso farto e falou para si: - Isso só
pode ser coisa de Deus! Deus ouviu as minhas preces! Não vou nem perguntar a
Ele como foi isso! Três vezes ela foi chamada e três vezes ficou febril. Isso
só pode ser coisa de Deus! Graças a Deus!
Helô e as amigas saíram correndo em direção ao pomar. Como acontecia
sempre, ela chegou primeiro e fez o que gostava: subiu rapidamente numa
goiabeira. Depois de acomodada nas grimpas, saboreou uma goiaba enquanto que suas
amigas subiam vagarosamente, contudo,
esse tempo no topo da árvore foi curto. Uma das meninas, sem mais nem menos,
resolveu descer, ato esse acompanhado pelas outras. Somente Helô permaneceu e ficou
olhando, sem entender, a mudança repentina delas. Depois de alguns minutos,
desceu também. Já embaixo ficou sabendo que estavam querendo ir para o
parquinho, entretanto ela preferiu ficar ali. Sem contestação, todas as suas amigas
se dirigiram para os brinquedos.
A
entidade aproximou-se e sorriu. Helô respirou fundo e retribuiu com um arremedo
de sorriso. As duas se olhavam. Helô então entendeu que a Madre Maria de
Lourdes tinha sido a causadora da repentina sensação de repulsa das meninas em
ficar ali. Queria perguntar alguma
coisa, mas a Madre, como num flash, já estava na entrada da mata. Helô
então foi ao seu encontro.
Caminhavam silenciosas por entre os arvoredos. A mata também estava sem qualquer barulho: nem
pássaros, nem grilos, nem sapos, nem ventos, mas Helô sentia uma leve brisa a
roçar no seu rosto. O vento leve chegava, porém sem balançar qualquer tipo de
vegetação. Ela pensava na hipótese de Deus estar soprando no seu rosto. A
entidade, que estava adiante, escutou o seu pensamento e sorriu. Não disse que
sim e nem que não, continuou indo em frente. Helô sentiu que alguém beijava a
sua face. Uma felicidade repentina, como nunca tinha sentido, instantaneamente
fez moradia dentro do seu coração. A Madre parou e sorridente voltou. Chegou
até a menina e fez-lhe um afago.
..............Continua semana que vem!
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