terça-feira, 30 de outubro de 2018

A História de Helô - Parte 4

Continuando...

Algumas irmãs já tinham notado a predileção do padre Arcanjo pela menina Amélia. Uma das irmãs, de nome Maria do Rosário, de idade avançada, observou algumas vezes ele acariciando Amélia e comunicou à madre sobre esses exageros do padre, entretanto a madre desconversava, dizendo:
           - Oh irmã, o padre Arcanjo é um anjo! A menina Amélia é como se fosse mais uma filha! Mais uma filha em Jesus!  Vai com a paz de Deus, irmã!
           E assim despachava a irmã, antes que ela fizesse mais algum comentário.
           Quase todas as irmãs comentavam, apenas entre elas, sobre as visitas a portas fechadas do misterioso senhor, do padre Arcanjo e dos seus amigos, mas ninguém tinha coragem de fazer qualquer tipo de comentário com a madre superiora. Quase todas tinham muito medo dela. Apenas uma das irmãs, de nome Socorro, que era tida como um “detetive de hábito”, disse que iria investigar aqueles misteriosos encontros e tentar descobrir o nome do tal senhor.  Alguns meses atrás, ela já tinha descoberto que a madre era de origem francesa, só não conseguiu ouvir o seu nome verdadeiro. Com o seu ouvido atrás das portas, ouvia sempre algum segredo. Ouvia e espalhava para as outras irmãs.
           Realmente os traços da madre e o seu jeito de falar lembravam bem alguém de origem francesa. Essa suspeita aumentava com um leve sotaque, mas que ela tentava esconder.  Era uma mulher bonita, os traços fisionômicos eram suaves, um par de olhos azul celeste brilhantes e misteriosos.  A sua idade ninguém sabia ao certo pois além dela não falar ninguém tinha coragem de perguntar. Nem mesmo para a irmã Celeste, a sua aliada mais próxima, ela revelou. Parecia uma loteria entre as irmãs. As apostas eram sigilosas, mas deviam ser santinhos. As opiniões variavam, iam de 35 anos a 50 anos. As que arriscavam próximo dos 50 deviam ser míopes pois, com uma pele do rosto que parecia maçãs, a madre estava mais para os trinta anos. Mas na verdade não poderia, pois já estava ali há vinte anos.
           Algumas irmãs mais antigas, secretamente, questionavam o fato de uma irmã tão nova ser a madre superiora. Elas sempre achavam estranho o fato dela ter chegado de repente e assumido o posto vago pela morte da irmã Maria Dulce. Ela chegou primeiro que o comunicado da sua indicação. Esse tempo todo ali foi sempre só de mistérios. Quase ninguém sabia dos movimentos da madre. Pouquíssimas irmãs tinham acesso direto a ela. Com a sua chegada, poucos dias depois, apareceram um padre sorridente e brincalhão de nome Arcanjo e um senhor sisudo, que ninguém sabia o nome. Em todos esses anos, era apenas conhecido como paizinho.
          Uma manhã ensolarada trouxe a irmã Socorro sorridente. Chegou saltitante, quase não conseguindo segurar a língua na boca e chamou as irmãs, que naquele momento pegavam um pouco de sol no jardim, para uma conversa debaixo de um frondoso pé de flamboyant. As irmãs, em número de oito, ansiosas deslocaram-se rapidamente ao encontro da irmã Socorro, que já estava do outro lado do jardim à sombra da árvore.  Elas sabiam, quando isso acontecia, que vinha alguma revelação. Rapidamente uma irmã, de nome Dóroth, foi logo indagando sobre as investigações.
         - Socorro, fala! Descobriu alguma coisa? Conta pra gente!
         Como era do seu jeito, antes de falar alguma coisa fez um suspense. Sorriu levemente, levantou e abaixou as sobrancelhas, pegou a irmã pelo braço e puxou-a para próximo de si, depois mandou que as outras se aproximassem mais. Quando estavam todas ao seu redor, falou:
          - Já descobri alguma coisa sim.
            Falou e ficou em silêncio olhando as amigas, como sempre acontecia, para chamar atenção. Sabia que a curiosidade delas era infinita. Sempre alguém, e esse alguém era sempre a irmã Louise, parecia a mais ansiosa do grupo, pois na realidade era a fofoqueira mor só perdendo para a irmã Socorro. Com a pausa ela perguntou:
          - O que foi, Socorro? O que foi?
          - Calma! Já vou contar tudo. Fiquei na espreita. Quando o senhor entrou, rapidamente colei a orelha na porta. Aí fiquei preocupada por alguém me encontrar ali. Dei a volta e fui até a janela que fica do outro lado.
        - Eu sei! Eu sei! – interrompeu a irmã Louise, ansiosa.
        -Calma! Posso continuar? Irmã, vê se não me interrompe! -Continuando... fiquei ali uma porção de tempo. Pouca coisa eu escutei, essa é a verdade. Mas... ( fez uma pequena pausa) escutei alguma coisa. E acho que foi importante. Não descobri o nome do senhor, mas descobri o que ele é. Escutei a madre chamá-lo de senador.
         - É mesmo? É mesmo, irmã Socorro? – perguntou, com cara de espanto, a irmã Angelina.
           As irmãs continuaram no mesmo lugar, conversando à boca miúda. De vez em quando um riso contido era ouvido. O assunto devia ser outro, já que a irmã Socorro pouco descobriu nas suas investigações. Enquanto conversavam, não perceberam que eram vigiadas. Do outro lado da alameda um par de olhos azuis estava na espreita. Como sempre, a madre superiora desconfiava de qualquer ajuntamento. E essa reunião, em particular, deixou-a com uma pulga atrás da orelha, tanto que, após o almoço, mandou chamar a irmã Angelina ao seu gabinete. O chamado causou curiosidade nas outras irmãs, principalmente as do grupo que tinha se reunido no jardim, já que eram as irmãs que andavam sempre juntas. Socorro ficou ensimesmada. As amigas ficaram curiosas com aquele silêncio. Doroth não resistiu e perguntou:
          - Socorro, o que é que você está pensando?
          - Eu estou pensando... Estou achando isso muito estranho. Ela mandar Angelina ir até o seu escritório. Pra quê, né? A não ser que tenha visto a gente conversando. Pode ser, já que ela não pode ver mais de duas pessoas juntas e logo logo quer saber do assunto. Isso é coisa de gente doida, vocês não acham? Penso que ela pensa que pode ser conspiração! Que todo mundo está tramando contra ela! Eu sempre achei essa madre estranha. Isso foi imediato. Desde o dia em que botei os meus olhos em cima dela, achei-a suspeita de alguma coisa, mas nós não estamos tramando nada contra ela. Estamos só querendo saber de algumas coisas. Isso não é pecado, ou é?  Deixa isso pra lá. Vamos esperar por Angelina. Ela vai esclarecer tudo.
...................Continua semana que vem!

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