terça-feira, 6 de novembro de 2018

A História de Helô - Parte 5

Continuando...

           As irmãs não interromperam e nem questionaram o longo discurso de Socorro.  Estavam atentas para tudo que ela falou. Não perderam uma só vírgula. Essa atenção total só fez com que a curiosidade delas ficasse mais aguçada, tanto que ficaram em alguns bancos no jardim, com a desculpa que estavam descansando do almoço. Parecia que o tempo não passava. De vez em quando olhavam para o corredor para ver se a irmã Angelina estava de volta, mas nada dela aparecer. Quarenta minutos após foi que ela deu as caras. Veio cabisbaixa e pouco falou com as amigas a respeito da conversa com a madre. Com a insistência delas, Angelina arranjou uma desculpa dizendo que não tinha sido nada demais, mas para Socorro isso não desceu muito bem. Olhou para a amiga e disse:
          - Angelina, nada demais? Se fosse nada demais você ia falar! Desembucha! Fala pra gente o que realmente a madre falou com você!
           A irmã Angelina não estava confortável, olhava para Socorro e para as outras irmãs mas não encontrava o que falar. Custou a dizer alguma coisa. Respirou fundo algumas vezes. Parecia que estava tentando arranjar alguma desculpa. Depois de um bom tempo de sofrimento, disse:
         - Como disse, não foi nada demais. Nada mesmo. Ela apenas me deu um pito, sobre como eu cuido das crianças. Disse que o asseio com as meninas está deixando muito a desejar. Isso é pura injustiça. Vocês não acham?
           Ficou claro que ninguém engoliu aquela justificativa. Elas conheciam muito bem a irmã. Quando ela falava, o que saía vinha transbordando firmeza, os seus pensamentos eram claros. Nunca pensava muito para expor seu ponto de vista e aquela explanação não convenceu ninguém, mas nenhuma delas questionou-a. Engoliram letra por letra, mas na esperança de que com o tempo ela dissesse a verdade.
          Três dias já haviam passado desde a reunião das irmãs. A madre habilmente separou-as. Procurou misturá-las com outros grupos, fazendo com que trabalhassem em áreas diferentes. Socorro foi designada para trabalhar com a irmã Elga, com quem nunca teve a menor afinidade, na  limpeza de janelas e vitrôs. Angelina foi cuidar dos porcos e as outras seis para outros pontos diferentes, mas mesmo assim elas ficavam juntas na hora do almoço. Aquilo continuou a incomodar a madre. No quinto dia só se reuniram no almoço, seis. Na saída é que encontraram a irmã Angelina que vinha com uma expressão de dor estampada no seu rosto de cera, lágrimas desciam e pingavam no seu hábito. A irmã Dóroth foi logo ao seu encontro e abraçando-a perguntou já com a voz chorosa:
           - Angelina! Angelina, o que houve? Qual a causa de tanta dor? Fala logo que já estou ficando nervosa!
             Angelina afastou-se um pouco dos braços da amiga, enxugou o rosto e disse soluçante, olhando também para as outras irmãs que tinham se aproximado:
         - Vocês não sabem o que aconteceu.
         - O que foi? – perguntou a irmã Lucia Helena.
         - Foi Socorro. Socorro caiu da escada enquanto limpava uma das janelas. Caiu e ficou desacordada.
        - Mas como foi isso? – perguntou Dóroth.
        - Não sei, Dóroth. Ninguém soube dizer. Não tinha ninguém na hora. Ela foi encontrada pela irmã Elga.
       - Meu Jesus! Onde ela está?
       - Ela foi levada para um hospital na capital. Dóroth, eu estou preocupada. Ela saiu daqui inconsciente. Parecia que já tinha morrido, mas estava com vida porque a irmã Domingas disse que ela respirava e que a sua pulsação estava quase normal.
          - Irmãs, vamos rezar. Vamos para a capela. Pediremos a Jesus pelo pronto restabelecimento da nossa amiga irmã Socorro. Vamos?
          Todas atenderam de pronto a sugestão da irmã Almerinda, a mais idosa do grupo.
          A irmã Socorro chegou ao hospital já em coma. O seu estado era gravíssimo. As esperanças eram praticamente nulas. Para os médicos o estado dela era irreversível. E assim ela ficou durante três dias, vindo a falecer antes de completar o quarto dia.
         A morte da irmã abalou todos no convento. Ninguém conseguia entender o que tinha acontecido. A irmã Angelina comentou que tinha visto a irmã Socorro muito afastada da escada. - Como poderia ela cair tão longe? – comentou com a irmã Dóroth, mas ficou por ali mesmo o comentário.
         No dia imediato ao falecimento da irmã, o tal senhor misterioso chegou cedo ao convento. Encontrou-se com a madre e deixou-a calma. A sua interferência junto às autoridades abafou qualquer investigação que por ventura viesse a acontecer, reforçado com o atestado do médico constando que a irmã Socorro tinha falecido de traumatismo craniano em decorrência da queda.
          Há anos que fatos estranhos aconteciam ali. Era normal uma noviça sumir e voltar um ano depois. A justificativa era sempre a mesma: as meninas, normalmente com quinze ou dezesseis anos de idade, estavam sendo tratadas na capital por problemas de saúde. A doença era sempre a mesma: tuberculose. - Por ser uma doença contagiosa é necessário que as meninas sejam afastadas do convívio das demais. – justificava a madre. Esses laudos confirmando a doença eram dados por um médico que vinha da capital com o padre e o senhor misterioso. Podia não ser sempre mas, com o retorno das meninas, às vezes era deixado na porta do convento um ou dois bebês. Mas um fato que pode ser destacado é que nem sempre todas as meninas que saíam retornavam para o convento.
.......................Continua semana que vem!

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