terça-feira, 4 de julho de 2017

Um Anjo na Boleia - Parte 15

Continuando...
                 Quim abre um bocão e fala assustado:
            - O quê? Peraí! A senhora tá dizendo que ela está morta?  É isso?
            - Sim. Infelizmente a minha Angélica já morreu. Seu moço, ela era uma menina tão boa! Penso que agora ela deve está no céu!
            - Não acredito! A senhora me desculpe, mas não pode ser! Quim fala pra ela!
            - Senhora, Toni está certo. Ela está viva. Nós...
            - O senhô não entendeu. Os médico disseram que ela pegou pneumonia. Não resistiu. Moço, ela morreu.
           Quim olha para o irmão, com os olhos arregalados, e fala:
            - Toni, então a gente ficou esse tempo todo com um fantasma? Não posso acreditar! Se eu contar isso pra alguém, com certeza vou ser taxado de maluco!
           - Vocês conheciam a minha filha?
           - Chi, Dona Maria! É uma longa história! A gente conheceu ela, sim!
  Não é Quim? Parece incrível! Sabe que foi ela que trouxe a gente até aqui?
            - Seu moço, não pode ter sido ela! A minha Angélica já morreu! Deve ter sido alguma menina parecida com ela!
           - Nós deixamos Angélica, ainda agora, naquela árvore lá na estrada. Aquela lá da curva.
- Mas ela morreu seu moço.
           - Pra mim ela parecia vivinha! Não é Quim?
           - Muito vivinha! E esperta pra caramba!
          - Quim, será que era só a gente via ela? Você viu lá naquele posto, aquela confusão toda! Lembra que a garçonete só botou dois pratos na mesa? E os bandidos? Eles também não viram a menina! Lembra que ela ficou no meio dos dois uma porção de tempo?
         - Mas eu falei pra você que estava achando tudo muito estranho! Não falei? Mas você não deu muita atenção no que eu estava falando! Toni, como é que ela sabia que tinha uns caras atrás da gente? E o negócio da carreta! Como ela sabia que a carreta estava tombada?  E depois ela soltou a gente e os caras não viram! Era tudo muito estranho!
- É!
         - Seu moço! A minha menina era boa mesmo! Agora que vocês falaram isso tudo, acho que pode ter sido ela mesma! Será que a minha menina virou santa?  Ela voltou pra ajudar a gente! Isso era coisa dela mesmo, seu moço. Estava sempre lá pra ajudar todo mundo. O senhor falou na árvore da estrada. Ela adorava ficar lá nas grimpas. Passava um tempão lá. Mas só depois que ajudava em casa. Sabe! Uma vez ela disse que ia achar o pai dela de qualquer jeito! Se não fosse em vida, seria na morte! Ela achou! Achou e veio avisar a gente!
           Dona Maria estava visivelmente emocionada. Os olhos estavam rasos d´água. Pegou a ponta do avental e secou as lágrimas. Depois passou a mão na cabeça do filho, que estava enroscado na sua perna, e disse:
          - Obrigado. Muito obrigado. Seu moço, ela virou santa. Minha menina virou santa.
          - Dona Maria, eu até comentei com o meu irmão, Quim, que sonhei com a morte do Zé. Agora veio claramente na minha cabeça, que a menina no sonho era Angélica. Ela me avisava da morte dele. E me mostrava o lugar onde ele estava. E ainda me pedia pra eu ir lá, que ele precisava de mim. Como é que eu só lembrei agora? Quim, ela é um anjo! Só pode ser!
          - Toni! Nós ficamos esse tempo todo com um anjo? Olha só! Estou todo arrepiado!
- E eu não tô? Olha só!
          - Foi isso mesmo, seu moço?
          - Foi assim mesmo, dona Maria! Eu lembrava do sonho, mas não lembrava da menina! Ela deve ter apagado isso da minha memória!
         - Com certeza Toni! Já pensou se você tivesse lembrado? Não quero nem pensar!
         - Ia ficar com medo?
         - E você não?
         - Deixa isso pra lá! Acho... Não sei.
         - Toni, acho melhor a gente não demorar. Ainda temos que descarregar o caminhão. Veja só! E eu que achava que era uma porção de tralhas! Mas agora estou vendo que vai servir muito pra eles! Vamos logo lá? Ainda temos uma carga pra entregar! Esqueceu?
        - Calma Quim! Estamos com tempo! O tempo tá sobrando! Fica calmo! Ainda vamos tomar o cafezinho!
        - Tá bom. Ih! Toni, você não disse que tinha um envelope pra entregar? 
        - Ih! Quim! Isso mesmo! Já ia esquecendo!
           Enquanto Toni procurava nos bolsos, dona Maria gritava pra filha:
        - Leonor! E o café?
 - Játôcuando, mãe!
           Finalmente Toni encontra o envelope e entrega a dona Maria. Ela abre, passa a vista rapidamente, mas devolve. Meio sem graça, pede que ele leia. Toni pega, mas questiona:
         - A senhora não vai ler?
         - Di uns tempo pra cá, meus olhos tão vendo tudo embaralhado. Essas letra miúda, faz muita confusão.  Lê o senhor.
         - Está bom. Ih! Aqui na carta diz onde ele está enterrado! Ué! Eu pensei... Quim, a gente carregou um caixão vazio! Não estou entendendo nada! Agora... Dona Maria, aqui está escrito que tem uma conta corrente. Com cartão e tudo. E tem também uma chave de banco. Está tudo numa caixa de sapato, junto com algumas fotografias e o atestado de óbito.
         - Toni você viu essa caixa?
         - Tá no caminhão. Eu botei dentro de uma caixa grande. Acho que não esqueci, porque estava com um bilhete pra eu guardar com cuidado. Vou lá buscar.
            Toni vai até o caminhão, pega a caixa e leva até o casebre.  Retira a tampa, pega a caixa de sapato e coloca em cima da mesa. Por algum tempo ficam os três olhando. Quim ameaça abrir, mas é impedido por Toni, que oferece para dona Maria. Ela ameaça, mas pede para Toni abrir.
       - Distampa o senhor. Eu prefiro. O senhor não abriu antes?
       - Não. Não senhora. Do jeito que eu peguei, eu guardei. Então eu vou abrir agora. Com a sua permissão. Tá aqui. Olha só o cartão. Aqui tá a senha nesse papel. Esse outro papel, dobrado no meio, deve ser o atestado de óbito. E é. Olha a chave aqui também. Aqui tem o número. Deve ter alguma coisa importante dentro desse armário. O banco é lá da cidade aonde ele foi sepultado.
      - Mas Toni, o que será que tinha naquele caixão?
       - Sei lá! Nem desconfio! Mas parecia muito pesado. Do jeito que os caras fizeram força pra carregar ele! O que será que eles queriam? Devia ser alguma coisa que estava no caixão. Se seguiram a gente, é porque alguém sabia...
       - Sabia o que, Toni?
       - Eles sabiam o que a gente estava carregando ou pensavam que sabia. Alguém deve ter dito que no corpo tinha alguma coisa de valor. Dona Maria, Zé estava trabalhando com o quê?
      - Ele dizia que ia ficar rico. Acho que foi atrás de ouro, diamante... Só isso que eu sei.
      - Aí, Toni! Ele deve ter achado alguma coisa! Alguém ficou sabendo! No garimpo é difícil esconder algum achado grande! Por isso que os caras vieram atrás da gente, achando que estava escondido alguma coisa no corpo!
      - Pode ser Quim! Pode ser! 
      - Mano, tem outra coisa: quem sabe alguém espalhou isso, de propósito! Aqueles bandidos vieram secos atrás da gente! Eles sabiam o que estavam procurando! E o que era, estava dentro do caixão! Eles nem perderam o tempo de revistar a gente! Toni, você já conhecia o cara que você foi encontrar?
      - Eu não! Nunca tinha visto o cabra! O encontro foi rápido! Dona Maria a senhora conheceu algum Loureço? Esse era o nome do cara! Agora me lembrei!
      Dona Maria para e parece que fica vasculhando a memória. Passa a mão na cabeça, coça a nuca e fala:
     - Esse nome! Acho que não!
     - Pensa mais. Alguma carta do Zé. Pensa, dona Maria.

     - Seu Toni. Espera aí. Eu tenho uma carta sim. Nesse tempo todo, Zé só mandou duas carta. Mas eu não me alembro se falou em algum amigo. Deve ter uns dois anos que ele mandou a última. Eu vou pegar.
Com sua licença.
              Continua semana que vem...

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