quarta-feira, 19 de julho de 2017

Um Anjo na Boleia - Parte 17 (Penúltima parte)

Continuando...
Os dois saem do casebre com os olhos cheios d’água. Disfarçadamente, enxugam com as costas das mãos, as lágrimas que já desciam pelo rosto. E se dirigem para o caminhão, em silêncio. Mas antes de entrar, Quim faz um comentário:
       - Ué, Toni! Nem tinha percebido que você tinha feito à manobra no caminhão!
      - Enquanto você foi levar a última caixa, eu manobrei pra gente não perder tempo. Agora a direção é sua.
      - Tá bom. Deixa comigo.
         Os dois entram no caminhão, mas antes de partir dão um adeus para dona Maria e as crianças, que os acompanharam até o portão. Quim liga o motor e vai saindo lentamente. Parecia que o pé dele estava sem força para acelerar. O caminhão foi se arrastando até a árvore. Parou. Ele colocou a cabeça para fora e ficou olhando para a copa da árvore. O irmão ficou curioso e perguntou:
      - Ué, Quim! O que é que você está fazendo?
      - Eu? Só estou olhando para ver se a menina está lá em cima da árvore!
      - Mas como ela vai estar lá em cima? Você tem cada uma!
       - E se ela estivesse? A mãe não falou que ela gostava de ficar em cima da árvore? Então, de repente ela estava lá em cima!
       - Pra quem estava aparentando estar com medo, até que me surpreendeu!
      - Que medo o quê!
      - E se soubesse antes, Quim?
       - Eu... Aí ia se esquisito! Claro que eu ia ficar com medo! E você também ia! Não adianta nem dizer que não!
       - É. Tá legal. Vamos embora, que temos ainda alguns quilômetros de poeira pela frente. 
      Quim dá a partida no veiculo, mas não consegue dar velocidade. O caminhão vai se arrastando por alguns metros e para. Toni fica sem entender o que está acontecendo e reclama:
      - O que é que está havendo? Não consegue andar, não? Vai me dizer que estamos enguiçado!
      - Não sei Toni! Não estou conseguindo apertar o acelerador! Que coisa estranha!
      - Então deixa eu levar Gertrude!
      - Pra chamar a nossa carreta de Gertrudes, é porque está com muita raiva! Só pode ser! Você me proibiu de chama-la por esse nome!
      - É mesmo! Quando eu me lembro daquela filha da mãe! Hum! Você botou esse nome, só pra me sacanear! Vamos embora! Estou te achando muito devagar! Estou descendo!
    Toni desce, mas de repente, ainda com a porta aberta, fala para o irmão, quase sussurrando:
- Quim, olha lá prá´trás. A menina está em pé lá perto da árvore. No mesmo lugar que deixamos ela.
     - É mesmo! Olha só!Ainda está mandando beijo pra gente! Será que ela está morta mesmo? É igualzinho a uma pessoa viva! Por que será que ela não apareceu pra mãe?
     - Sei lá! Sei lá! De assombração eu não entendo! Ih, Quim! Ela sumiu!
     - Não deixou nem vestígio! Eu pensei que fantasma deixasse algum rastro! Tipo uma fumacinha!
    - E lá alma de outro mundo é fumaça? Não tô sabendo disso não! Quim, deixa eu pegar na direção!
    - Peraí,Toni. Volta lá pro seu lugar. A direção é minha.
    - Mas, Quim! Você não está conseguindo apertar o acelerador!
    - Já passou! Meu pé agora está firme! Naquela hora é que não entendi! Será que foi a menina?
    - Pode ser. Depois disso tudo que aconteceu com a gente! Acredito até que o homem possa mandar uma nave para o sol, e os astronautas vão até tomar umas cervejinhas bem geladas, por lá!
    - Você é muito engraçadinho, Toni!  Vai brincando, vai! Sobe logo aí! Estou doido para pisar nesse acelerador! Vou pisar! Mas antes, quero falar uma coisinha, Sr. Toni!
- Ih, qual é Quim? Esse negócio de me chamar de senhor! O quê que é?
    - O quê que é? Viu a enrolada que você meteu a gente? A gente podia ter morrido! Tinha que ter falado antes comigo!
    - Falar com você? Quim, se eu tivesse falado com você, a gente não ia fazer nada do que fizemos!

    - Mas é claro, que a gente não ia ter feito nada! Porque eu não ia entrar nessa canoa furada! Aonde já se viu transportar defunto! Quando penso nisso, fico todo arrepiado! 
                          Semana que vem acaba essa estória!!

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