segunda-feira, 5 de junho de 2017

Um Anjo na Boleia - Parte 11

Continuando...
            Toni e Quim observam o movimento dos três. Os bandidos tinham sumido dentro do caminhão, já a menina continuava em pé, olhando.  O tempo parecia que tinha parado. Nada dos caras aparecerem. Os nervos dos dois estavam em frangalhos. De repente Quim vê quando aparece um deles carregando alguma coisa. Em seguida aparece o outro segurando a outra extremidade. Quim fica pálido. Assustado interroga o irmão:
        - Toni, o que é aquilo? Meu Deus! Estou vendo um caixão? É isso mesmo? A gente estava carregando, esse tempo todo, um defunto?
       - Mano, eu explico. Se der tempo, eu explico. Mas agora não dá.
       - Por que é que você escondeu isso de mim?
       - Ah, você não ia querer carregar! Quim, eu tinha que trazer o Zé pra família dele sepultar!
       - E se a polícia tivesse pegado a gente? Como a gente ia explicar?
       - Não tinha problema nenhum, Quim! Estou com a documentação todinha aqui! Tá tudo certinho! Acho que isso é legal! E o amigo do Zé me disse que o corpo dele já estava preparado pra viagem! Não ia apodrecer, não! Fica tranquilo!
       - Eu acho que isso é ilegal! Essa não! Eu carregando um defunto! 
       - Mano, eu devia essa ao Zé! Ele sempre foi um grande amigo! Amigão do peito, mesmo! Você sabe que antes de trabalharmos juntos, eu trabalhei um tempão com ele! Era um irmão! Igual a você, Quim!
       - Tá bom, Toni! Oh, mas depois a gente vai conversar sobre isso! Vou querer saber tintim por tintim!
         Eles param de conversar e ficam tentando ver o que os bandidos iam fazer com o caixão. Não ouvem o que eles dizem, mas observam que estão com dificuldade de tirar o tampo. Toni cutuca o irmão e fala baixinho:
         - Quim. Olha só. Não estou entendendo o que está acontecendo. A menina continua do lado dos dois caras, mas eles não dão a mínima pra ela. Ela só observa. Mas agora eu desconfio que ela tá junto com eles. Você tem razão.  Acho melhor a gente se mandar. Estou preocupado.      
        - Eu também. A gente sai daqui correndo. A gente se embrenha nesse matagal e some.
             Nisso a menina se vira e manda, com sinal, que os dois fiquem sentados. Quim olha para o irmão e fala:
         - Toni, agora é que o bicho vai pegar! A menina vai avisar para os caras que a gente tá querendo fugir! E agora, mano?
        - Essa não! Como é que ela ouviu a gente falar que ia fugir? Falamos baixinho!
          Pelo instinto de sobrevivência, pressentem que é melhor ficarem no mesmo lugar. Mas atentos aos movimentos dos três. Pois tinham quase certeza que os bandidos viriam até eles. E assim poderiam tentar pegá-los de surpresa. Talvez fosse a única saída. Então esperaram ansiosos e medrosos, mas os bandidos não vieram ao encontro deles. Pelo contrário, tão envolvidos que estavam com o caixão, que parecia que não estavam nem aí para os irmãos.  Arriaram o caixão perto do automóvel e ficaram conversando. Tonhão então sugeriu para Tião:
          - Tião, vamos levar o caixão ali pra perto daquela árvore. Lá você tenta abrir. Isso aí deve tá fedendo pra cacete! Vamos lá? Pega! Isso! Agora, tenta abrir. Vamos lá, deixa de moleza!
         - Pô Tonhão, tá muito duro! Essa droga não quer abrir de jeito nenhum!
         - Como é que não quer abrir? Não tem cadeado! Tá ficando mole, hein cara!
         - Ficando mole, nada! O troço tá é emperrado, mesmo! Ao invés de ficar falando, vem me ajudar! Nós dois juntos, arromba essa droga! Vamos logo!  
        - Tá bem Tião. Tião!
        - O que é?
        - Porra cara! Tem que arrancar esses parafusos! Por isso é que tá duro pra cacete!
        - Num é que você tem razão! Vacilei feio!
           Mas antes que os bandidos começassem a desparafusar, o som de uma sirene corta o silêncio. Os dois olham assustados na direção do som e Tonhão grita para o amigo:
       - Vamos nessa Tião! Sujou! Vamos pegar o caixão e botar no carro! Temos que ser rápidos! Acho que o carro de polícia está um pouquinho longe! Ainda temos um tempinho! Vamos acelerar e tirar o time de campo!
      - Tonhão e os caras? O que é que a gente faz com eles?
      - Deixa os caras pra lá! Já temos o que a gente quer! Vamos sair logo, antes que a polícia chegue! Se a gente der um tiro, vai ser uma merda! Aí eles pegam a gente fácil! Entre logo! Vamos nessa!
      Quim vendo a movimentação dos bandidos comenta com o irmão:
     - Ué Toni! Viu só? Os caras botaram o caixão no carro e saíram numa tremenda disparada!
     - Esqueceram da gente, graças a Deus! Ué, a menina ficou, Quim! E agora? Levaram o corpo do Zé!
     - Toni, ele já estava morto! Eu acho que não estão interessados no corpo, não! Mano, deve ser alguma coisa que está junto com o defunto! Você, por um acaso, sabe o que é?
        - Como é que eu vou saber? Sei lá, Quim! O que eu sei, é que Zé está lá dentro do caixão! E a minha missão, era levar ele para os familiares enterrarem! Tem também alguns pertences seus! Ah! E também...
Ih, Quim! Lá vem a menina! É melhor a gente se levantar! Os caras foram e deixaram ela! Agora que não entendi nada!
       - Toni, de repente ela não estava, mesmo, com os caras. Pra eles largarem ela por aqui, né? Ou então, ela é a sanguinária. E só ficou pra eliminar a gente. 
       - Não sei. Não posso acreditar nisso. Mas às vezes fico na dúvida, como agora. Não! Não! Ela não vai fazer isso com a gente! Ou vai? Viu alguma arma com ela?
       - Não. Não vi nada.
       - E eu também não. Sem arma ela não vai poder fazer nada. Vai ficar mais fácil pra gente pegar ela. Você vai ver só. Puxa,Quim!
       - O que foi?
       - Mano, do jeito que ela está andando, parece até que eu já vi essa cena, antes! Não é esquisito?
          Mal Toni termina de falar e Angélica já está praticamente do lado deles, quesó percebem a sua presença, quando ela fala:
         - Falando mal de mim, hein! Estão com medo de morrer! São dois cagões, sabiam? Quem falou pra vocês que estou com aqueles dois? Vamos embora? Está tudo bem, agora! Vamos em paz! Graças a Deus!
         Olha um para a cara do outro e um sorriso, de quem não acredita muito no que está ouvindo, encosta de leve nos seus lábios. Toni, muito sem jeito, olha para a menina e fala:
          - Eu acho que a gente está com um tremendo problema. Os caras levaram o caixão. Eu estava levando o corpo do meu amigo para a família do finado. O que é que eu vou dizer pra eles?
         - Tem problema não! O importante é que ele já está descansando lá em cima!
         - Mas... Mas como é que eu vou explicar o que aconteceu com o corpo do Zé?
                    Continua semana que vem...


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