terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Assombração - Parte 12

Continuando...
Dr. Anton cruzou a porta principal do hospital, às 07:45 h. Os seus passos ecoavam nervosos. Estava quase correndo, mas deu uma estancada na pressa, quando umas das recepcionistas deu um “bom dia doutor”. Parou e retribuiu o cumprimento. E indagado quanto ao consultório que ia ocupar, respondeu afirmativamente, dizendo que tinha visto a sala no dia anterior. Deu mais uma vez um bom dia e foi para a sua sala, que ficava ao lado da do Dr. Justus. Entrou e ficou satisfeito ao ver o consultório limpo e arrumado. Sentou-se na cadeira, abriu a sua pasta de couro marrom, que fora presente do pai, conferiu o seu interior, fechou-a e colocou-a na primeira gaveta. A ansiedade estava estampada na sua fisionomia. Esfregava as mãos nervosamente. Levantou-se e encaminhou-se até a sala do Dr. Justus. Bateu levemente na porta e entrou. Encontrou a enfermeira Elga, que o informou que o Dr. Justus ainda não havia chegado, mas que não demoraria. Percebendo o ar de decepção do médico, ofereceu-lhe uma xícara de café, que tinha acabado de passar, e indicou-lhe uma cadeira. Dr. Anton aceitou o café, sentou-se, e começou a sorvê-lo lentamente. O café estava forte, do jeito que gostava. O gosto – pensou – lembrava o que a sua mãe fazia. Deu um leve sorriso, ao lembrar-se da mãe, mas depois franziu o cenho e ficou com o olhar pregado na parede. A enfermeira percebeu que o médico estava ansioso. Ameaçou falar alguma coisa, mas freou o seu impulso. Ficaram em total silêncio. Aquilo estava fazendo com que ela ficasse, também, ansiosa. Abriu a gaveta pegou um biscoito salgado e foi mastigado com voracidade. O barulho fez com que o Dr. Anton despertasse do seu devaneio. Olhou para a enfermeira e deu um leve sorriso. Ela ficou meio envergonhada e ofereceu lhe um. Ele agradeceu e voltou a olhar para o nada. Elga aproveitou a quebra do gelo e informou-o que seria ela, temporariamente, a sua atendente. Atenderia simultaneamente a ele e ao Dr. Justus. Isso enquanto a direção do hospital não indicasse outro profissional. Ele agradeceu e continuou a beber o seu café lentamente. De vez em quando olhava para um relógio pendurado na parede. Tinha a sensação que os ponteiros não se moviam. Parecia que estavam colados. Lembrou-se de que quando o irmão sumiu no acidente, o minuto, parecia uma eternidade. As informações nunca chegavam. Nem para sim, nem para não. Veio arrastando essa ansiedade por muito tempo. Agora estava sentindo a mesma coisa. – E se não fosse ele? – pensava. Queria que aquilo tudo acabasse logo. Elga percebendo que a aflição no doutor estava crescendo, tentou acalmá-lo:
          - Calma Doutor. Ele vai chegar. Assombração, digo Antoane, é uma pessoa pontualíssima. Pode ficar certo, que quando o senhor menos esperar, ele vai entrar por aquela porta ali. Quer mais um pouco de café?
          Dr. Anton tomou o restante do café num gole só, esticou o braço, esperou que a enfermeira colocasse mais um pouco do precioso líquido preto, e disse:
          - A senhora falou da pontualidade dele. Meu irmão sempre foi assim: nem um minuto a mais, nem um minuto a menos. Chegava sempre adiantado ao compromisso assumido, mas ficava esperando até chegar a hora combinada. Aí sim, se apresentava. Dizia, que se a pessoa tinha marcado às quinze horas, é porque não poderia atendê-lo antes desse horário.
          A enfermeira deu um sorriso e falou entusiasmada:
          - Ele é assim! Ele é assim mesmo! Só pode ser o seu irmão! É Antoane, com certeza!
               Dr. Anton sorriu satisfeito com a afirmativa de Elga. Sentiu-se mais leve, menos tenso e bebeu o café mais descontraído. Isso não queria dizer que estivesse completamente relaxado. Isso não. Continuava ansioso sim, mas com mais esperança. Entretanto a dúvida de vez em quando teimava em voltar: e se esse rapaz não fosse o seu irmão? Tem pessoas parecidas, mas que, aparentemente, não são parentes.
           O Dr. Justus chegou às 8:30 h e encontrou o seu colega, dentro da sua sala, andando de um lado para o outro. Parecia indócil. Olhou-o, sorriu e deu um bom dia sonoro. Foi até a sua mesa, colocou a sua pasta na gaveta e falou calmamente:

          - Calma Doutor. Sente-se aqui, por favor. Assim o amigo vai infartar. Fica tranquilo. O seu irmão já deve estar chegando. Mas ele não vai passar por aquela porta, antes das nove horas. Pode ficar certo que vai bater na porta, alguns segundos antes das nove e vai entrar no horário combinado. Desculpe-me o atraso. Demorei mais do que devia. Fui pegar o resultado do exame, encontrei um amigo de infância, também médico, e nos perdemos em meios a saudades. Confesso que não tinha necessidade de ter ido buscar o envelope com o resultado, mas a ansiedade não me deixou ficar à espera. Com certeza trariam aqui na minha sala. Mas... aqui está o destino da menina, não é?
      ...Continua semana que vem...

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