Dr.
Anton cruzou a porta principal do hospital, às 07:45 h. Os seus passos ecoavam
nervosos. Estava quase correndo, mas deu uma estancada na pressa, quando umas
das recepcionistas deu um “bom dia doutor”. Parou e retribuiu o cumprimento. E
indagado quanto ao consultório que ia ocupar, respondeu afirmativamente,
dizendo que tinha visto a sala no dia anterior. Deu mais uma vez um bom dia e
foi para a sua sala, que ficava ao lado da do Dr. Justus. Entrou e ficou satisfeito
ao ver o consultório limpo e arrumado. Sentou-se na cadeira, abriu a sua pasta
de couro marrom, que fora presente do pai, conferiu o seu interior, fechou-a e
colocou-a na primeira gaveta. A ansiedade estava estampada na sua fisionomia.
Esfregava as mãos nervosamente. Levantou-se e encaminhou-se até a sala do Dr.
Justus. Bateu levemente na porta e entrou. Encontrou a enfermeira Elga, que o
informou que o Dr. Justus ainda não havia chegado, mas que não demoraria.
Percebendo o ar de decepção do médico, ofereceu-lhe uma xícara de café, que
tinha acabado de passar, e indicou-lhe uma cadeira. Dr. Anton aceitou o café,
sentou-se, e começou a sorvê-lo lentamente. O café estava forte, do jeito que
gostava. O gosto – pensou – lembrava o que a sua mãe fazia. Deu um leve
sorriso, ao lembrar-se da mãe, mas depois franziu o cenho e ficou com o olhar
pregado na parede. A enfermeira percebeu que o médico estava ansioso. Ameaçou
falar alguma coisa, mas freou o seu impulso. Ficaram em total silêncio. Aquilo
estava fazendo com que ela ficasse, também, ansiosa. Abriu a gaveta pegou um
biscoito salgado e foi mastigado com voracidade. O barulho fez com que o Dr.
Anton despertasse do seu devaneio. Olhou para a enfermeira e deu um leve
sorriso. Ela ficou meio envergonhada e ofereceu lhe um. Ele agradeceu e voltou
a olhar para o nada. Elga aproveitou a quebra do gelo e informou-o que seria
ela, temporariamente, a sua atendente. Atenderia simultaneamente a ele e ao Dr.
Justus. Isso enquanto a direção do hospital não indicasse outro profissional.
Ele agradeceu e continuou a beber o seu café lentamente. De vez em quando
olhava para um relógio pendurado na parede. Tinha a sensação que os ponteiros
não se moviam. Parecia que estavam colados. Lembrou-se de que quando o irmão
sumiu no acidente, o minuto, parecia uma eternidade. As informações nunca
chegavam. Nem para sim, nem para não. Veio arrastando essa ansiedade por muito
tempo. Agora estava sentindo a mesma coisa. – E se não fosse ele? – pensava.
Queria que aquilo tudo acabasse logo. Elga percebendo que a aflição no doutor
estava crescendo, tentou acalmá-lo:
- Calma Doutor. Ele vai chegar.
Assombração, digo Antoane, é uma pessoa pontualíssima. Pode ficar certo, que
quando o senhor menos esperar, ele vai entrar por aquela porta ali. Quer mais
um pouco de café?
Dr. Anton tomou o restante do café num
gole só, esticou o braço, esperou que a enfermeira colocasse mais um pouco do
precioso líquido preto, e disse:
- A senhora falou da pontualidade
dele. Meu irmão sempre foi assim: nem um minuto a mais, nem um minuto a menos.
Chegava sempre adiantado ao compromisso assumido, mas ficava esperando até
chegar a hora combinada. Aí sim, se apresentava. Dizia, que se a pessoa tinha
marcado às quinze horas, é porque não poderia atendê-lo antes desse horário.
A enfermeira deu um sorriso e falou
entusiasmada:
- Ele é assim! Ele é assim mesmo! Só
pode ser o seu irmão! É Antoane, com certeza!
Dr. Anton sorriu satisfeito com a
afirmativa de Elga. Sentiu-se mais leve, menos tenso e bebeu o café mais
descontraído. Isso não queria dizer que estivesse completamente relaxado. Isso
não. Continuava ansioso sim, mas com mais esperança. Entretanto a dúvida de vez
em quando teimava em voltar: e se esse rapaz não fosse o seu irmão? Tem pessoas
parecidas, mas que, aparentemente, não são parentes.
O Dr. Justus chegou às 8:30 h e
encontrou o seu colega, dentro da sua sala, andando de um lado para o outro.
Parecia indócil. Olhou-o, sorriu e deu um bom dia sonoro. Foi até a sua mesa,
colocou a sua pasta na gaveta e falou calmamente:
- Calma Doutor. Sente-se aqui, por
favor. Assim o amigo vai infartar. Fica tranquilo. O seu irmão já deve estar
chegando. Mas ele não vai passar por aquela porta, antes das nove horas. Pode
ficar certo que vai bater na porta, alguns segundos antes das nove e vai entrar
no horário combinado. Desculpe-me o atraso. Demorei mais do que devia. Fui
pegar o resultado do exame, encontrei um amigo de infância, também médico, e
nos perdemos em meios a saudades. Confesso que não tinha necessidade de ter ido
buscar o envelope com o resultado, mas a ansiedade não me deixou ficar à
espera. Com certeza trariam aqui na minha sala. Mas... aqui está o destino da
menina, não é?
...Continua semana que vem...
Nenhum comentário:
Postar um comentário