segunda-feira, 25 de abril de 2016

A Menina do Rochedo - Parte 8

Continuando...

Não deu nem tempo para perguntar aonde ela ia! Sumiu. Simplesmente sumiu. O que é que eu vou ficar fazendo aqui sozinho? Mas como sair daqui? Os caras estão lá embaixo me esperando. O que querem comigo? Eu não tenho nada deles. Se tiver alguma coisa, está no meu carro. Mas o carro está com eles. A vista daqui é bonita. Se a gente conseguisse viver aqui, realmente seria uma maravilha. Longe de tudo. Sem aborrecimentos, sem preocupações, sem... sem nada que pudesse causar estresse. Seria o paraíso. Mas e a comida? E a água? Falando em água, estou com sede. Nessa altura toda, não deve existir água. Um bloco de pedra compacto. Pra comer, ter que descer isso tudo... Ter que pescar. Como descer? Essa caverna parece profunda. Parece cheia de mistérios. De repente foi de piratas. Pode ser que tenha uma passagem secreta, lá em baixo. Alguma escada interna. Será que a menina é pirata? Não. Não pode ser. Os piratas têm argolas nas orelhas, piercing no nariz, tatuagens pelo corpo... Não ela não tem nada disso. Mas pode ser um pirata moderno.  O país está cheio deles: usam ternos, gravatas e têm números. Estou cansado de tudo. Dizem que a segurança é a prioridade. Saí para passear e olha no que deu. E se eu ficar doente aqui em cima? De repente não deve mudar muito. Alguém vai dizer para eu procurar um lugar tranquilo, com ar puro, tomar bastante água, para curar a virose e o estresse. “Olha a qualidade de vida!” – alguém vai dizer. Tudo agora tem dois culpados: a virose e o estresse. Cá estou eu pensando besteira. Vou dar uma pequena olhada aqui dentro. Com essa escuridão toda não vou ver nada. Vou entrar. Ué, acendeu uma luz. Meu Deus! Olha só! Geladeira! Está funcionando! Caraca! Mas não tem fio! Está cheia de comida e água! Como pode isso? Porra pra onde foi à garota? Será que não tem nenhuma cervejinha? Estou há muito tempo a fim de molhar o bico. Até que tem. Mas não conheço a marca. Acho que não vou beber. E se tiver alguma coisa dentro? Já caí uma vez, mas não caio a segunda. Aonde essa menina se meteu? Olha só que vista maravilhosa! Daqui dá pra se ver a praia todinha. Acho que foi aquele lugar que eu fiquei. Caraca! O carro sumiu! Se o cara disse que não tinha como tirá-lo dali, como conseguiram fazer isso? Caramba! Será que tem droga, ou ouro dentro dele? Mas porque os caras estão lá embaixo? Existe alguma coisa mais. E essa alguma coisa está comigo. Mas o que será? Olha só. Sorte que não tem como eles subirem. Mas também não tem como eu descer. Será que vou ficar aqui para sempre? Isso aqui é uma prisão. Isso! É uma prisão! Como eu não pensei nisso! A garota me trouxe até aqui e foi embora. Estou lascado. Vou tentar dar uma volta, entorno da caverna. É, parece uma caverna. Mas também é uma casa. Tem quarto, cozinha, banheiro. Tem tudo que uma casa tem que ter, mas não deixa de ser uma caverna. Pra quê questionar isso agora? Vai servir para alguma coisa? Acho que não. Ou não, mesmo. Tenho que tentar circular em torno da caverna. Parece uma missão quase impossível. Ou impossível mesmo. Aqui na frente da caverna só tenho um metro, mais ou menos, para me locomover. Pelo lado, nem um centímetro. Concluindo: estou ferrado. Se eu descer, não sei como, os caras me pegam. Isso é um faz de conta. Vou imaginar que tem uma escada. Eu desço e eles me pegam. Se eu tentar pular pelo outro lado: morro na certa. O que fazer? Só Deus pra me tirar daqui. Falando em Deus, ele já começou a se manifestar. Estou ouvindo um barulho de alguma aeronave. Precisamente de um helicóptero. Está chegando a minha salvação. Olha lá ele! Vou balançar algum pano. A toalha da mesa! Isso! A toalha da mesa! Hei! Olha aqui pra baixo! Hei! Hei! Estou aqui! Meu Deus! Passou direto!  Tenho certeza que o piloto me viu. E viu mesmo! Está atirando em mim! Vou me esconder! Me esconder aonde? Que burrice a minha! Só tem um lugar: dentro da caverna! Lá vou eu! Porra! Acho que me quebrei! Também eu não precisava me jogar. Era só dar um passo e já estava dentro da caverna. Não estou ouvindo mais o barulho do helicóptero. Caramba! Eu devo ser muito importante! Por que será que estou tão importante assim? O que querem de mim? Estou sendo caçado por mar, por ar e... Por que não me pegaram lá na praia? Tenho que sair daqui. Aqui no meio da caverna tem uma escada. É só eu descer e pronto. Mas aí está o problema. Essa escada vertical não me deixa nada, nada confortável. Olha a altura. Olha essa altura! E seu eu cair? 
          - Você não arrisca nada! Só carrega o medo à tira colo. Que vida medíocre, essa tua. Você é digno de pena, sabe?
         - Quem que é que está falando? A minha vida não é medíocre! Tenho medo sim! E quem não tem? Eu queria ver se fosse com você! Estou com medo, é porque o meu está na reta! Bota o seu! Bota!
         Mas não é a menina que está falando. Quem será? Eu sei que estou ficando cada vez mais enrascado. 
         - Quem é você?
         - Eu sou você.
         - Engraçado. Você está falando e diz que sou eu. Estou com um medo danado! Isso é tortura mental! Agora estou entendendo! Isso tudo faz parte de algum plano! Estão querendo que eu fique maluco? Não é isso? Tenho que sair daqui! Senão eu vou enlouquecer!
         Ele não respondeu. Vou lá pra fora. Tem que ter um jeito de sair daqui. Não vou arriscar descer por essa escada. Mas antes vou tentar alguma comunicação com quem eu não sei quem é.
         - Hei! Está me escutando? Se não estiver, vou falar assim mesmo! Estou achando isso tudo muito esquisito.  Sou um cara que não devo nada a ninguém. Pago meus impostos. E não são poucos. Veja só. Mesmo se eu não pagasse imposto, eu já estaria pagando. Então eu pago além do que devia. Isso é simples de mostrar. Vá comprar uma simples bala! O que tem de imposto ali naquele açúcar! Eu acho que aqui é o único país no planeta que um sonegador, fica frustrado. Ele simplesmente não consegue sonegar nada. Percebeu? Então, eu sou um certinho. Não devo nada a ninguém.
        - Aí é que está o problema. Você é certinho demais. A sua vida é sem emoção. Você leva uma vida insossa.
        - Quem é que está falando agora?
        - Você. Só você fala e responde, não respondendo. Porque você não vai lá pra fora e tenta derrubar o helicóptero.
        - Eu? Como? Acho que você está maluco! Acho não! Tenho certeza! Está de sacanagem comigo? Aonde já se viu, sem arma, derrubar uma máquina voadora? Hei! Derrubar com quê? Responde essa!
       - Derruba com a sua língua afiada. Derruba com a sua falta de fé. Derruba com a esperança que você não tem.
       -Cara! Você não sabe o que está falando! Eu espero...
       - ...tudo cair no seu colo. Não é isso? Vai lá fora e resolva a sua vida. Já que você tem medo de descer pela escada, pula.
       - Está maluco? Vou lá fora sim, mas... Vou dar um jeito! Não quero nem perguntar mais, quem é você.
           Se eu contar isso para alguém, vão achar que estou ficando maluco. Vou lá fora. Pra sair daqui, só se tivesse asa. Só voando. Até agora o helicóptero não apareceu. Vou dar uma olhadinha lá pra baixo. Porra! Os caras continuam lá! Ué! Tem alguém subindo! Caraca! É Omar! Ou não? É uma caveira, com certeza! Se não for Omar, eu estou frito! Olha só que facilidade que ele sobe! Parou. Olhou pra mim! E não é Omar! Agora o bicho vai pegar! Quem será essa caveira? Com quem ela se parece?  Agora não dá tempo pra perguntar e nem colocar um nome. É o inferno! Isso! Ali está o inferno! Vou descer pela escada. Mas ela vai me pegar no meio do caminho. Vou seguir a sugestão da voz... Mas mais uma vez está me faltando coragem. Pensando bem, nem um corajoso pularia daqui. Olha só essa altura! Só um maluco! Morrer por morrer, eu morro encarando a caveira. Quantos dias eu estou aqui? Não sei. Não me lembro de ter dormido. Às vezes a gente nem percebe. Fiquei lá na praia... Também não sei quantos dias. Tem hora que acho que estou sonhando. Isso só pode ser um sonho. Eu me sinto como se tivesse pisando em ovos. Às vezes parece que estou flutuando. Mas é real. Os caras atiraram em mim. Aconteceu alguma coisa no bar. Botaram alguma coisa na minha bebida e me trouxeram pr’aqui.  Aqui estou e tenho que me virar para acordar desse pesadelo. Agora que estou precisando da garota, ela sumiu. Tenho que pensar rápido. A caveira já está perto. Vou tentar dar a volta na caverna. Mas só tem poucos centímetros para apoiar os meus pés. Vou arriscar. Não posso olhar pra baixo. Vou encostar a barriga na parede da caverna. Pelo menos já consegui me deslocar alguns centímetros. Ufa! Pareceu uma caminhada de quilômetros.  Até que a inclinação da pedra está me ajudando. Pelo menos alguma coisa tem que jogar ao meu favor. Vou em frente. Ih!  Meu Deus! Acho que estou sentindo câimbra! Ficar na pontinha do pé, está sendo uma missão quase que impossível!  Cara! Como dói! Porra! Calma. Respirar fundo. Já estou até suando.  Vou tentar ficar numa perna só. Graças a Deus só está doendo uma perna. Tenho que conseguir alongar. Não sei como, mas vou ter que arranjar um jeito. Isso. Está aliviando. Ufa! Sabe que já consegui andar um bom pedaço? Não estou nem acreditando. Tenho que focar... Não posso desviar a minha atenção. Até que já passou a câimbra. Vou alongar a outra panturrilha também. Agora vou tentar pisar com a parte externa do pé. Como é difícil! Assim não dá! Assim não dá! Opa!  Pensei que fosse cair!
       - Aí babaca! Quase caiu!
       - Babaca é a...
Continua semana que vem...

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