quarta-feira, 13 de abril de 2016

A Menina do Rochedo - Parte 6

Continua...
Esse cara é meio vaidoso. Olha só, está se achando. Vai pra lá. Vem pra cá. Até parece que é dono do mar. Agora eu nem tenho Omar para conversar. Ele está pensando que não vou conseguir fazer o que ele está fazendo, está completamente enganado. Vou mostrar pra ele quem eu sou. Aquilo parece mole, mole. O mais difícil vai ser me equilibrar. Depois vai ser fácil. Será que foi esse cara que matou Omar? Eu devo ter cochilado e ele tirou a ossada sem que eu percebesse. Tenho que ficar atento. O cara apareceu do nada. Deve estar interessado em alguma coisa. Falou do meu carro. Isso mesmo! Deve ser o carro! Ele disse que o carro pode ter chegado pelo mar. Mas como? E pra quê? Que é estranho é, e isso eu não posso negar. Tem que ter uma explicação para eu ter chegado até aqui. Aquele carro está muito limpo para ser o meu. Mas a placa é a mesma. Está com cheiro de novo. Pode ser clonado. Mas podem ter lavado lá no posto e eu esqueci. Será que tomei um porre? Olha só como o cara é um babacão! Vai babaca, vai acabar caindo! Porra que velocidade! Até que o cara se equilibra bem. Está indo bem longe. Caraca!  Quase não dá pra vê-lo! Também aquele olho de sol na minha cara, fica difícil ver alguma coisa! Vou aproveitar para dar uma olhadinha por ai. Quem sabe não tem alguma marca que esclareça essa minha chegada! Estranho. Realmente é muito estranho. Onde está o carro deveria ter marcas do pneu pelo chão. Mas não tem. Na areia também não. Será que desci de para quedas? O cara já está voltando. Parece que é realmente bom. Chegou.
    - E aí, gostou?
    - Muito bom mesmo! Parece profissional!
    - Parece não! Eu sou profissional! Cara hoje eu sou o vice- campeão Brasileiro! No ano passado eu era campeão! Eu só não fui bi, porque sofri um pequeno acidente e não pude disputar duas competições. Se não fosse isso, não tinha pra ninguém! Eu sou é bom!
     - Você não é nada humilde, hein?
     - A humildade é para quem não tem competência. No meu caso... Eu sou realmente o melhor!
     - O seu ego é maior do que esse mar. Cuidado para você não se afogar nele.
     - Deixa de papo furado. Quer curtir um pouquinho esse mar, em cima da prancha? Aproveita que eu estou generoso hoje. Estou realmente a fim de ensinar isso a você. Vamos lá?
     - Não sei. Estou encucado com o que você falou, sobre o carro. Como realmente eu cheguei aqui? Aquela extensão toda  de chão de barro batido  e não tem uma marca sequer  de pneu. Nem aqui na areia. Não tem marca em lugar nenhum. Não é estranho?
     - Cara eu não sei como você e o seu carro vieram parar aqui. Mas uma coisa é certa: você foi ou está sendo usado por traficante. O tal bar que você parou, na beira da estrada, é um antro. É um covil de bandidos e de prostitutas. Cara você conseguiu sair vivo. Pelo menos parece. Não sei se depois...
     - O que é que você quer dizer com “se depois”.
      - Sei lá cara! Mas uma coisa é certa: esse carro tem alguma coisa.
      - Que coisa?
      - De repente... Sei lá!
      - Você deve saber de alguma coisa. Abre o jogo.
      - Abrir que jogo? Tudo bem. Pode ser uma suposição. De repente usaram o seu carro e os seus documentos porque você está limpo. É mais fácil para eles carregarem toda a muamba. Você não é suspeito de nada. É um cara limpo. Agora... Como é que você foi parar num lugar daquele?
      - Eu estava com fome. Naquele horário, só tinha mesmo aquele lugar aberto.
      - Porra cara, que azar! Mas pode ficar tranquilo que se der tudo certo, eles vão devolver o seu carro são e salvo. De repente limpinho, brilhando.
     - Você faz parte disso?
     - Claro que não! Eu sou atleta! Estou dizendo essas coisas, porque já vi acontecer com outras pessoas! Fica tranquilo que eles vão te devolver o carro. 
     - Mas aqui? Como é que eu vou sair? Então esse carro não é o meu?
     - Relaxa. Depois eu mostro o caminho pra você. Aparentemente o carro é o seu. Mas pode não ser. Na atual conjuntura não vale a pena se estressar. Vamos para o mar. Deixa as coisas acontecerem.
     - Pra você é fácil. Pensa bem: não faz sentido eles pegarem o meu carro e me deixar num local deserto, de aceso quase impossível. Podiam pegar o meu carro e me tirar de circulação. Ou me prender. Faziam o que tinham que fazer e depois me soltavam ou me matavam. Eu não entendi esse carro mais novo. Carro novo é limpo. 
     - Mas o nome não. Cada um faz do seu jeito. De repente dá mais emoção fazendo desse jeito. Sei  lá!
     - Você acha que eles podem me matar?
     - Como vou saber?
     - De repente essa caveira que eu achei, pode ter sido... Será que eles mataram Omar?
     - Não pensa nisso. O importante é que você está vivo. Está tão vivo que eu vou ensinar você a praticar esse esporte maravilhoso! Vamos lá?
     - Tenho escolha?
     - Claro que tem! E a escolha melhor é essa! Vamos lá! Vamos botar emoção nessa vida!
     - Mais emoção do que eu tenho tido nesse – ou nesses? – dia, é impossível! Eu não sei se estou aqui desde ontem ou anteontem. De repente eu cheguei hoje mesmo. Não tenho certeza nenhuma. Mas tem uma coisa engraçada nisso tudo: não estou tendo fome.
     - Mas isso não tem importância. Ou tem? Sei lá!
     - Como não tem importância? É claro que tem importância!
       - Tudo bem. Você está sem fome, porque te deram alguma droga. Você ainda deve estar adormecido, cara! Te doparam e depois te trouxeram pr’aqui. Foi isso. Você é um cara de sorte. Podia ter morrido nessa história. A mulher deve ter simpatizado com você.
       - Como é que você sabe que tinha uma mulher?
       - Palpite! Só palpite! Sempre tem mulher na história. Eu também estou achando você um cara legal. Mas vamos ao que interessa. Vamos pra água?
      - Tudo bem. Fazer o quê! Amigo, tenho medo de mar. Com água até o pescoço, fica difícil.
       - Vamos com calma. Com água até a cintura fica bom. Deita em cima da prancha. Isso. Agora fica em pé. Está indo bem. Segura a vela e levanta. Estava indo bem. Caiu, mas isso não é motivo para desistir. Vamos de novo.
      - Cara, se equilibrar aqui é que é o ó! E se eu ficar deitado?
      - Isso aqui não é prancha de surfe. Vamos lá. Eu vou de ajudar. Pega a vela novamente. Isso. Sem medo. Eu estou te segurando. Está chegando um vento legal. Se equilibrou? Então eu vou largar você. Cara se segura. Você está indo legal. Não fica tremendo. Se equilibra. Muita calma. Vou te largar.
      - Hei! Isso aqui está voando! O que é que eu faço?
      - Está indo bem! Está parecendo profissional! Está engraçado! Você parece um profissional! Vai se equilibrando!
      - Como é que eu paro isso? Cara! Cara! Estou indo pra longe!
      - Vá em frente! Você está indo muito bem!
      - Acho que vou cair! Está difícil me equilibrar!
      - Você está parecendo profissional! De repente você bate um recorde! Quem sabe você não chega a Portugal?
     - Você está me sacaneando! Vou cair! 
                E agora! Tenho que me segurar de qualquer jeito. Vou tentar subir nessa droga. Olha só o fdp está rindo de mim! Ele armou pra eu me ferrar! Vou tentar subir na prancha. Um, dois, três... Falhei. De novo. Um, dois, três, quatro... Agora vai. Consegui. Levantar é que vai ser difícil. Vou ficar aqui deitado. Olha lá! Olha lá! Está chegando uma lancha! O filho da mãe conhece os caras! Está levando eles para o meu carro! O que será que querem? Porra! Estão arrancando os para-lamas! Estão depenando o meu carro! Hei! Hei! Não estão me ouvindo. Hei! Hei! Ivon! O que é que vocês estão fazendo com o meu carro?
      - Marrento, dá um susto nele. Mas não precisa matá-lo. O cara é inofensivo. Eu acho que é completamente maluco. Sabe o que ele me disse? Eu nem acredito. Disse que achou uma caveira e que ela era amiga dele. Pode isso? Nem tive coragem de acabar com ele.
      - Ivon, me deixa mandar ele pru espaço. Maluco, não faz falta nenhuma!
      - Não. Não precisa matar o cara. Olha só. Parece que está falando sozinho. Dá um tirinho só. Mas não acerta o cara. O mar depois se encarregará de fazer o serviço. Vai acabar morrendo mesmo.
     - Deixa comigo. Lá vai chumbo.
                Porra! O cara está atirando em mim! E agora? É bandido mesmo! Vou pra dentro d’água de novo!
     - Porra cara! Eu acho que você acertou nele!
     - Não! A bala caiu bem antes! Ele deve ter se assustado e caiu. Pode ficar certo que a bala não pegou nele. Quando é para acertar, eu acerto. Nesse caso era para errar e eu errei. Fica tranquilo que o cara está vivo. Não estou te entendendo. Cheio de peninha do cara.

    - Não é peninha. O cara parece ser gente boa. Só acho desnecessário matá-lo.
            Continua semana que vem...

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