terça-feira, 25 de agosto de 2015

FESTA DE SÃO JOÃO - Parte 6

Continuando...
             Enquanto esperavam pelo sorteio os cinco foram para o galpão onde já estava sendo iniciada oficialmente a festa, ou o pré - festejo, como eles gostavam de dizer.  Este galpão estava localizado num terreno bem tratado, que ficava por trás da praça, e lá foram eles se juntar a multidão que já rodeava as barracas de comes e bebes e de jogos. O povo já tomava conta de todo o espaço. Quem visse Mundinho não ia reconhecê-lo. Há muito tempo ele não se sentia tão à vontade. Estava tão descontraído que ele mesmo tomou a iniciativa e comprou cervejas e salgados para os amigos. Só Maria Isabel não aceitou a cerveja, preferiu tomar um licor de cerejas.
           Observando à distância, dava para sentir que a alegria estava de mãos dadas com a ansiedade. Mesmo a maioria participando de brincadeiras, a descontração não era muita. Com certeza o ambiente só iria ficar isento de tensão, depois do sorteio. Assim mesmo o fantasma da curiosidade não deixaria o galpão. E o horário do sorteio se aproximava. Algumas pessoas, que pareciam fazer parte da organização do evento, começavam a se dirigir para o palco. Os olhares quase não se desgrudavam da direção dessas pessoas. Só se revezavam com o relógio. Eram momentos finais nervosos. O som já começava a ser testado. Dois membros da comissão já se colocavam sentados em volta de uma mesa. Um pegou o microfone e anunciou que precisamente em cinco minutos o sorteio seria realizado. Após o anúncio dois rapazes trouxeram duas urnas cheias de envelopes. O conteúdo de cada urna foi derrubado em recipientes separados. Pareciam duas piscinas de plástico. Uma das mulheres e a outra dos homens.
             Um dos membros da comissão chamou ao palco o Sr. Tonico e Dona Dolores. Eram os dois mais idosos da cidade. Pessoas de famílias tradicionais e respeitadas. Cada um se postou em frente a uma piscina de plástico. Dona Dolores foi a primeira a tirar um envelope. Pegou e entregou ao Sr. Manoel Durão, um dos membros da comissão, que antes de abrir o envelope, olhou de ponta a ponta do galpão, imprimindo um ar de suspense. 
          - O nome da noiva é Abelhinha Solitária. Número 322. – Isso falando numa vagarosidade tal, que parecia que dizia letra por letra, deixando o público com os nervos a flor da pele. E aproveitando para olhar nas caras, principalmente que estivesse mais próxima, e observando se alguém iria se delatar.  Para o pessoal que lotava o galpão parecia que o Sr. Manoel estava olhando um por um. Ai os olhares se cruzavam, mas ninguém deixava escapar quem poderia ser a sorteada.
          O Sr. Tonico se abaixou e tirou também um envelope. O Sr. Manoel já estava próximo dele e pegou-o da sua mão. Abriu-o. Fez o mesmo procedimento anterior, um silêncio proposital, antes de anunciar o noivo. Ninguém despregava os olhos dele. Rasgou lentamente um lado e não satisfeito, o outro também. Finalmente retirou o papel onde estava escrito o candidato a noivo e anunciou o ganhador.
          - O nome do noivo é Dono da Esperança. Número 12.
          Como aconteceu com o sorteio na noiva, se repetiu com o do noivo. Era um silêncio tumular. Um buscava o olhar do outro para ver ser alguém se delatava. Mas nada. Eram somente olhares nervosos e ao mesmo tempo curiosos.
         O Sr. Manoel avisou para os sorteados que se apresentassem no dia seguinte, cinco minutos antes do início do casamento, que seria às dezessete horas, à comissão, com o comprovante da inscrição. O noivo entraria pela direita do palco e a noiva pela esquerda. Nisso Mundinho questionou o amigo.
          - João, me diz uma coisa: como vai ser mantido sigilo sobre a identidade dos noivos se cinco minutos antes eles têm que se apresentar? Você me disse que a gente só vai saber na hora que começar o casamento, é ou não é?
          - E vai ser isso mesmo! Acontece que quando faltar cinco minutos, a luz do galpão é apagada. Você vai ver o breu que vai ficar. Somente uma penumbra é mantida nas entradas onde os noivos vão entrar. Lá dentro, depois de identificados, eles vão ficar cobertos. Apenas a comissão fica sabendo quem são os sorteados. Depois eles sobem para o palco e quando a cortina é aberta, já com todo o elenco a postos, é que a luz é acesa. Aí sim é que vamos conhecer os noivos.
          - João, mas quando os sorteados se dirigirem para o local determinado, as pessoas não podem identificá-los?

        - Tem uma norma que eles vão anunciar daqui a pouco. É o seguinte: todos terão que se afastar um do outro e ficarem em silêncio. A partir do momento que a luz é apagada, ninguém pode falar mais nada. Os eleitos poderão se movimentar tranquilamente pelo meio da galera. Você vai ver só: ninguém consegue enxergar um palmo na frente do nariz!
                                          Continua semana que vem...

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