terça-feira, 1 de setembro de 2015

FESTA DE SÃO JOÃO - Parte 7

continuando...
           
          Ao apagar das luzes os noivos caminharam para os pontos determinados. Caminhavam praticamente pelo extinto. Iam escorregando pelo meio do povo. Batia em um.  Chocava-se com outro. Mas não podiam emitir nenhum som. Era todo mundo mudo. Uma pisada aqui, outra ali, e o infeliz contemplado com uma pisada, tinha que agüentar firme.
          Todos a postos, a cortina se abriu. Imediatamente as luzes do galpão se acenderam. A expectativa estava no ar. Centenas e mais centenas de olhos grudavam no palco. Ninguém se lembrava de olhar em volta para ver quem não estava mais ali. De repente uma voz cortou o ar. Era o Sr. Zeca da Padaria, o outro membro da comissão.
           - Sras., Srs., meninos, meninas... Vocês vão conhecer agora os noivos da nossa festa. Em seguida vamos começar o nosso tradicional e único casamento da roça. O mais original que existe. E com certeza vai ser um sucesso, como foram todos os outros. Primeiramente vou anunciar o nome, ainda o fictício, da noiva e pedir para que ela retire a capa e o capuz que a está cobrindo. Em seguida ela anunciará o seu verdadeiro nome. Tudo explicado e lá foi ele: Abelhinha solitária!
          A menina subiu ao palco.  Retirou a capa que cobria todo o seu corpo e em seguida o capuz, que escondia quase que totalmente o seu rosto. Por baixo ela já estava vestida com a roupa de noiva. E bastante maquiada, que não dava quase para ser reconhecida. Finalmente anunciou o seu nome.
          - O meu nome é Maria. A Abelhinha Solitária, inscrição nº322.
         Quem já conhecia a menina, aplaudia com bastante entusiasmo. Os outros apenas por educação. Isso devido à frustração de não terem sidos contemplados. Mas mesmo assim foi uma bela saudação.
          Em seguida foi anunciado o noivo.
         - Dono da Esperança.
          Lentamente um rapaz foi subindo a escada que dava para se chegar ao palco. Pisava timidamente. Um calafrio tomou conta do seu corpo. Teve vontade de voltar atrás e sair dali. A noiva tinha subido quase que correndo. Mas ele vacilava. Se arrastava. Os pés pareciam que pesavam toneladas.  Entretanto alguma coisa empurrava-o.  Algo dizia dentro dele para não desistir. Finalmente conseguiu pisar em cima do palco. Ficou algum tempo em silêncio. Mas acabou falando. Se bem que quase balbuciando.
          - Meu nome é Raimundo.
          - O Sr. podia falar mais alto? - pediu o Sr. Zeca. Ele foi e repetiu com mais vontade. – Meu nome e Raimundo Donato! O Dono da Esperança. Nº12. - João foi o primeiro a reconhecer o amigo. Gritou e aplaudiu ao mesmo tempo. Os irmãos seguiram-no com o mesmo entusiasmo. O restante da platéia ficou em silêncio. Ninguém reconhecia o moço. Foi preciso o Sr. Zeca pedir uma salva de palmas para o noivo. Foi um aplauso caloroso, mas mecânico. Entretanto Mundinho nem percebeu se aplaudiam somente com a mão ou se também com o coração. Naquela altura não fazia muita diferença. 
          Começaram a armar o casamento. Mundinho tomou o seu lugar. Mas parado feito estátua e com a cabeça enterrada no chão. A noiva que havia descido subiu com o pai de brincadeira. Lentamente foi se aproximando do noivo. O padre já estava a postos. Os padrinhos também. O delegado marcava a sua presença, mas meio escondidinho, esperava a sua hora de entrar em cena. E assim todo o elenco já estava pronto. A noiva continuou a sua caminhada em direção a Mundinho. Este finalmente, depois de um toque do padre, levantou a cabeça. Quando os seus olhos se cruzaram com os da noiva, o seu coração quase saiu pela boca. Da parte da noiva foi a mesma emoção. Como imã um se chegou ao outro. Mundinho finalmente conseguiu balbuciar alguma coisa - Das Graças! Meu amor! - E o mesmo aconteceu com a menina: - Mundinho é você mesmo? Meu bom Deus, eu não acredito! Amor da minha vida! É você?
            Sem ninguém entender o que estava acontecendo, presenciaram um abraço longo e um beijo que parecia que não ia terminar nunca. A paixão explodia. Alguns já estavam até achando que aquela cena fazia parte do texto. Nem os amigos de Mundinho e nem de Das Graças sabiam o que estava se passando. Nunca houve em tempo algum um casamento da roça com tanta veracidade. Foi preciso que os organizadores interrompessem o colóquio amoroso. Depois das explicações ao pé do ouvido, foi dada continuidade a festa. O casamento foi um sucesso. Dizem que foi o mais bonito de todos os tempos. E os dois foram presenteados com os potros. Saíram do palco sem se desgrudarem. A mãe de Das Graças já estava esperando pela filha. Ao confirmar quem era o rapaz, com lágrimas nos olhos, se abraçou aos dois. Foi um chororô só. Nisso chegou João e os irmãos, sem entender ainda o que estava acontecendo. Quando foi lhe contada à história da vida dos dois, se emocionou também, juntamente com os irmãos. Tentaram esconder as lágrimas, mas a emoção foi mais forte. Ai a choradeira uniu a todos num único abraço. Quem estava de fora nada entendeu. Mas não precisava. O importante era o reencontro daquelas duas almas. Alguns anos de separação que eles arrastaram pareceram uma eternidade.   A alegria tomou conta de todo o grupo. Só precisavam mesmo era comemorar. Até o pau de sebo, comentado por João, ele nem ousou subir. Mais nada interessava a ele. Só mesmo ficar com Das Graças. – Essa era a graça da sua vida. - Riu quando pensou nesse trocadilho que pensara. A sua cabeça fervilhava de planos. E o plano principal era casar com a sua amada. Um casamento já havia feito, mesmo sendo de brincadeira para o público, mas pra ele sentiu como se tivesse sido verdadeiro. Aproveitou o ambiente que estava propício e pediu a mão de Das Graças para a sua mãe, Das Dores. Foi aceito. Ali mesmo ficaram noivos. Mesmo sem alianças, no meio dos seus amigos e dos amigos dela, o noivado foi verdadeiro e de fato.
        Depois desse dia, não se separaram mais. Meses depois, sem Mundinho comunicar ao pai, se casou com Das Graças. Deixaria para comunicar ao chegar à fazenda. E a sogra iria com eles. Já estava formado e era só assumir o trabalho na fazenda.
          Voltou à casa de João para pegar os potros, a sogra e se despedir dos amigos. O pai de João convidou-o, caso o pai não aceitasse o seu casamento, a trabalhar na fazenda dele. Um lugar estaria reservado para ele. E não seria só de empregado não! Com certeza seria também como um filho. Convite apoiado por todos, já que eles consideravam-no membro da família. A emoção foi muita. Num abraço gigantesco envolvendo toda a família, as lágrimas lavaram o chão e a alma daquele grupo irmanado na terra e no céu.
         Mundinho, depois das despedidas, pegou estrada rumo a sua casa, sem certeza se lá seria o seu lar.    
                                                     Fim                  
      



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