terça-feira, 18 de agosto de 2015

FESTA DE SÃO JOÃO - Parte 5

Continuando...
          Do lado de fora da casa os quatros irmãos conversavam animadamente. Sentados num banco tosco, no meio de um jardim, com uma vegetação harmoniosa, que emprestava sua beleza para compor o design da casa, eles botavam o papo em dia, enquanto esperavam Mundinho. A curiosidade dos três irmãos de João era muita. Queriam saber tudo sobre a cidade grande. O papo só foi interrompido quando finalmente Mundinho chegou. Eles não resistiram e deram uma salva de palmas pelo atraso do amigo. Mundinho ficou vermelho. Envergonhado pediu desculpas. Mas em seguida foi abraçado por João e seus irmãos, já caindo na gargalhada ao notarem como ele ficou desbundado. Mundinho acabou se descontraindo e riu com eles.
           A cidadezinha só tinha uma rua principal. Era um minúsculo lugarejo. Mas muito agradável. E Mundinho sentiu um bem estar logo na chegada. Até se lembrou de onde morava e que também não era muito grande, mas ficou menor depois que Das Graças foi embora. O astral do lugar não ficou nada bom. Mas ele tentou afastar essa lembrança, se fixando na praçinha, à direita na entrada, que era um cartão postal de tão bem cuidada, como ele nunca tinha visto outra igual. As flores pareciam que vinham abraçar o visitante, derramando o seu perfume pelo ar. A praça da sua cidade - voltou ele a comparar - era sem graça. As flores não conseguiam embelezar nada. Já tinha dúvidas se realmente existia alguma flor ou jardim. De repente nem praça tinha. Se não a saudade traria a tona algum perfume.  Não se lembrava se elas exalavam algum cheiro. Tinha quase certeza que não. Depois que Das Graças foi embora as árvore perderam até o seu verde.  Ficou tudo pálido. No fundo ele nem fazia questão de olhar o que acontecia em sua volta. Pra ele nem o galo cantava mais às cinco horas da manhã. Não escutava. Não via. Não sentia cheiro algum. A não ser, o cheiro dela que trazia na saudade. E essa saudade ele carregava de mãos dadas com a esperança.
          João chamou o amigo de volta. Sabia que ele estava viajando no seu silêncio. A irmã dele se achegou e deu o braço para Mundinho. Foram descendo rua abaixo. Não sei se poderia se chamada assim, pois era completamente plana. O lugar ficava numa planície, mas quando eles iam de casa para a pracinha, usavam essa expressão “descer rua abaixo.”

           Os irmãos de João estavam animados com a festa.  Não só pela festa em si. O que mais empolgava a cidade inteira era o casamento na roça. Eles contaram para Mundinho que ali faziam um casamento na roça diferente. Ele ficou curioso em saber qual era essa diferença. Porque ali, diziam eles, só iam conhecer o casal na hora do casamento. Era um mistério para todo mundo. Até o próprio casal só ia se conhecer, também, no momento do matrimônio. Isso porque no ato da inscrição, o candidato tinha que colocar um pseudônimo na ficha de inscrição que continha um número.  Nem a pessoa que recebia o envelope sabia quem era o inscrito. Esse envelope era lacrado e colocado numa urna. Mas o candidato ficava com uma filipeta que continha o mesmo número da ficha. Esse número ele apresentava na hora do casamento. Mas na ficha tinha umas normas. Na verdade uma só era importante. Onde dizia que a pessoa sorteada tinha que se manter no anonimato. Caso fosse descoberta, seria eliminada. E seria feito outro sorteio na hora do enlace matrimonial.  Ela só podia ser conhecida no instante do casamento. Mas o restante do elenco: o pai, mas que também não conhecia a filha, o padre, os padrinhos, o delegado, etc. Entretanto ficava tudo nos conformes. Mundinho entendeu o esquema.  Mas achou difícil aquilo dar certo. Chegaram à praça, sentaram-se num banco e foram explicar mais alguns pormenores, que na verdade não tinha nada demais. – O restante do elenco é praticamente o mesmo dos outros anos. Alguns participam há mais de cinco anos, com o mesmo papel. Já estão para lá de ensaiados! Mas mesmo assim ensaiam por um período bom, antes da festa! - comentou Leandro, irmão mais novo de João, que por sua vez, falou para o amigo: – Mundinho a cidade toda se inscreve para ser o noivo e a noiva. Daqui a pouco as inscrições começam. Pode olhar no relógio: precisamente às dezenove horas. E terminam nem um minuto a mais nem a menos das vinte horas. O sorteio começa às vinte e uma horas, com certeza! Você vai ver a cidade em peso aqui. Isso é só para os jovens. Mas é bastante gente. Eu e meus irmãos, todo ano, nos inscrevemos. Minha irmã já foi sorteada uma vez! Foi à noiva mais bonita que tivemos aqui! Mundinho o sorteio é honesto. Pode acreditar. E você vai comprovar isso! E tem prêmio! E não é ruim não, hem! No ano passado dois fazendeiros, doaram dois novilhos. O noivo levou um e a noiva o outro. - Mundinho continuou surpreso, pois nunca tinha ouvido falar em sorteio para a escolha de noivos para festa junina. João olhou para ele e disse para que não ficasse com cara de incredulidade. Ai apontou para ele, uma faixa que estava pendurada próximo ao local das inscrições, onde dizia o prêmio daquele ano: dois potros. Um para a noiva sorteada e o outro para o noivo, também sorteado. Naquele ano um dos doadores era o próprio pai do amigo. Os irmãos de João se adiantaram para o local de inscrição. João foi atrás com Mundinho. Foram logo os primeiros da fila. Levaram um bom tempo para convencer Mundinho a também participar. Mas finalmente conseguiram: estavam todos inscritos e sorridentes. Mundinho questionou com o amigo se por acaso fosse sorteado, fato que aconteceria mais tarde, como ele iria participar no dia seguinte sem a vestimenta de caipira? A irmã de João falou para Mundinho ficar tranqüilo, pois o que não faltava na casa deles era a tradicional roupa. – Mas tem um porém. - falou Mundinho. – E qual é o porém? - Interrogou Maria Isabel, irmã de João. – Se por um acaso eu for sorteado, tenho que manter segredo. Certo? E aí! Como é que fica a minha situação? - É simples: de qualquer jeito nós vamos arranjar uma caipira para você. Então você não vai precisar quebrar o silêncio. Se por um acaso eu ou meus irmãos formos sorteados, nós também não vamos falar nada. É segredo total! Assim é que funciona a nossa festa. A graça está na surpresa. – Mundinho foi todo ouvido com as explicações e ponderações de Isabel. Sorriu e aceitou tudo que ela disse, sem mais questionamentos.
                              Continua semana que vem...

Nenhum comentário:

Postar um comentário