terça-feira, 4 de agosto de 2015

FESTA DE SÃO JOÃO - Parte 3

Continuando...
           Aquele dia foi de total tristeza. Mundinho foi para o seu quarto e não deu às caras durante aquele dia todo. Não comeu. Ficou curtindo a sua mágoa. Já noite, cansado de tanto ficar triste, acabou dormindo. No dia seguinte o sol entrou por uma fresta e foi acordá-lo. Abriu o olho de má vontade. Virou para o outro lado, mas já era tarde: não ia mais conseguir dormir. Ai veio à imagem de Das Graças1 na sua cabeça. Apareceu então um rasgo de alegria. Sorriu e falou baixinho para o seu coração: – Vou falar com Das Graças, que a esperança está viva! Vou falar de novo com meu pai! De repente ele muda de opinião! - Se arrumou rápido e foi para a cozinha. Estava vazia. Procurou Das Dores e não achou. Procurou pelo pai, esse também não estava. Mas a mesa estava posta para o café. Resolveu fazer seu desjejum. Constatou que o café e o leite estavam frios. Achou tudo muito estranho. Pensou novamente em Das Graças. Tomou coragem e foi até o seu quarto. Lá chegando ficou surpreso ao ver o cômodo vazio. Não havia roupa nenhuma da namorada e nem da mãe dela. Estava tudo deserto. – Só podia ser coisa do pai! Mandou-as embora! Com certeza! - pensou ele. Ficou desesperado. Correu para fora e foi até a estrebaria e pegou um cavalo. Saiu em disparada. Foi à procura do pai. Encontrou-o a alguns quilômetros no canavial. Estava completamente desorientado. Falou grosso com ele. Se estivesse em sã consciência jamais falaria num tom mais alto.
            - Pai! O Sr. está maluco? Como pôde fazer isso comigo? Mandou embora a mulher que eu amo e a mãe dela, que, inclusive quando a minha mãe morreu, cuidou de mim!
                O pai não falou nada. Simplesmente pegou-o pelo braço e arrastou-o para distante dos empregados. Quando achou que já estava bem afastado, parou e deu uma sacudidela no filho:
                -U qui é que ocê tá pensando, muleque? Qué apanhá na frente dus empregado? Tá fartando é uma boa sova!   
                - Desculpe pai! Eu fiquei desesperado quando não encontrei Das Graças! E constatei que ela tinha ido embora! E...
                  Antes que ele dissesse mais alguma coisa Justino interrompeu-o.
                - E ocê pensô que fui eu? Casá cum ela eu não ia deixá nunca! Gostu muito da minina. Issu eu inté gostu! Ocê pode inté ficá si enroscando cum ela puraí! Mais casá? Nunquinha! Nunquinha!
                - Pai! Mas eu gosto dela!
                - Disgosta! Disgosta! Quandu fô pra casá, a gente arranja uma muié bem de situação. Tem qui sê do nosso nivi!
                  Depois dessa conversa toda, Justino explicou ao filho que ao acordar encontrou a mesa posta. Ao tomar o café, achou muito estranho, pois ele já estava morno. E Das Dores sabia que ele só gostava de café pelando. Mas como tinha que ir vistoriar o que os empregados estavam fazendo, deixou melhor reclamar com ela depois. E acrescentou dizendo, se ela foi embora com a filha era porque sabia que ele jamais permitiria que os dois se casassem.   

                    Mundinho ficou triste, mas não falou mais nada. O pai era uma pessoa bronca, mas não era mentiroso. Pediu licença e a benção e foi para o quarto. O que podia fazer? Preferiu então chorar as suas mágoas. No dia seguinte, com a cabeça mais fresca, iria tentar descobrir o paradeiro delas. Naquele dia o pai não sairia mais da sede e com isso ficaria difícil ele sair à procura delas. No dia seguinte quando o pai voltasse para as plantações ele poderia investigar. Quem sabe algum empregado não saberia para onde elas tinham ido! 
                   Levantou um pouco mais tarde para não encontrar com Justino. Tomou um gole de café feito por Maria, mulher de João Boiadeiro. Um dos peões mais antigos da fazenda e de confiança. O café não era tão bom como o de Das Dores, mas dava para tomar.
                    Rodou a fazenda. Viu o pai de longe e evitou que ele o visse. Encontrou um ou outro empregado. Perguntou aqui e ali e nada. Ninguém tinha visto as duas. Ou tiveram ordem para não falar nada. Essa busca ficou por muitos dias. E nada. O tempo passou a galope. Os dias foram sendo engolidos pela tristeza. Como não tinha remédio tentou se conformar. Mas jurou que não iria se casar com mais ninguém. O coração estaria sempre ocupado por Das Graças.
                     Continuou se dedicando aos estudos como nunca. Transferiu todo o seu amor que sentia pela menina, pelo conhecimento. Como o lugar não tinha mais como continuar os estudos, o pai então que queria o filho um doutor, enviou-o para a capital. Lá ele ia estudar agronomia. E lá foi Mundinho. Entrou de corpo e alma na carreira que escolhera. E sempre se destacando. Aluno aplicado. Mas um bom amigo também. Pois todos os colegas de turma gostavam muito dele. Mesmo achando-o um grande cdf. Mas era a ele que recorriam às vésperas das provas. E lá estava ele ajudando os amigos. E o tempo foi passando. Já estava no último ano. Cinco anos de dedicação exclusiva aos livros. Os colegas muitas vezes tiravam sarro com a cara dele. Diziam entre outras coisas que ele tinha, já que se mantinha celibatário, de entrar logo para um seminário e seguir o caminho religioso. Mundinho apenas sorria. Era um sorriso triste, isso era! Mas ninguém sabia da dor que carregava no peito. Era uma saudade que ele não conseguia se desvencilhar. Que corroia o seu coração. Que moía a sua alma, fazendo constantemente, às escondidas, ela gotejar pelos seus olhos. A culpada disso, era a danada da esperança que se enroscava em todo o seu despertar. O pior é que ele acreditava piamente que um dia ia encontrar o amor da sua vida. E tinha uma certeza tremenda que ela estava esperando por ele. E tem mais: virgem como ele.
                                        Continua semana que vem...

2 comentários:

  1. Estou me divertindo muito com a História Festa de São João, a linguagem da roça me remete a minha infância e tenho rido a valer. Espero ansiosa a próxima publicação. Parabéns pelo trabalho. Compartilhei no face para meus amigos rirem também. Abraços.

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    1. - Obrigado pelo comentário. Fico contente que o texto esteja agradando. Isso só me faz ir em frente. Um grande abraço.

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