terça-feira, 28 de julho de 2015

FESTA DE SÃO JOÃO - Parte 2

Continuando...

                No dia seguinte o sol veio bater à janela do rapazinho, mas já entrava sem pedir licença. Mundinho acordou sorridente. Ia falar com pai logo pela manhã. Aproveitaria à hora do café. Único horário que conseguia falar com ele. E já sabia de cor e salteado que se demorasse muito não ia conseguir encontrá-lo. O pai saia cedo para o campo para fazer sua vistoria diária. Sabia que ele não confiava muito no capataz. Na verdade, não confiava em ninguém. Então ia ele mesmo conferir como iam os trabalhos nas suas terras. Não perdoava quem não estivesse em seu posto. E tinha de estar com as ferramentas de trabalho nas mãos e trabalhando a terra. Se não o tempo fechava. Tinha que encontrar todo mundo na lida. O contrário, a coisa ficava preta. E ficava mesmo. Quando ele aparecia em cima do seu cavalo alazão, tremia até o pé de açaí. – Vem o patrão aí! - dizia um. E a correria era geral. O bicho era brabo mesmo. Mundinho ouvia falar sobre isso, mas não tinha certeza se realmente ele era assim. Mesmo o pai tratando-o com grosseria, achava que era por falta de instrução. Seu avô foi uma pessoa rude e não deu nenhuma educação para o seu pai. Mas com toda ignorância do seu Justino, ele ainda colocou o filho para estudar. Queria que Mundinho fosse doutor. E o garoto correspondia nos estudos.

                 - Vem seu pai aí, patrãozinho! – falou Das Dores, quase segredando. O garoto se ajeitou no banco e esperou o pai, para tomarem o café juntos. Justino chegou e achou estranho. Raramente via o filho de pé àquelas horas. – Bença pai! – disse Mundinho com a cabeça um pouco baixa, num misto de medo e respeito. Para variar Justino não respondeu. Mas perguntou. – Deu furmiga na sua cama, moleque? – Mundinho respondeu baixinho: – Não senhor. Eu queria conversar com o senhor. – Desembucha logo que tô com pressa! – disse Justino com rudeza. Nisso Das Dores, que já havia colocado o café para o patrão, pediu licença e se afastou para deixar os dois sozinhos. Mundinho respirou fundo e foi logo ao assunto: – Pai eu e Das Graças estamos namorando... - fez uma pausa e aguardou para sentir se o terreno estava firme para continuar a prosa. O pai olhou pra ele e falou: – E daí? Isso todo mundo já sabe! Tô gostando, porque tô vendo que você não é frorzinha! Já tava preucupado! Vá se divertindo! Vá se divertindo! Só num deixa a cabrita embuchá! - Mundinho ficou mudo e completamente vermelho de vergonha. Não sabia como continuar a conversa. As palavras não passavam da garganta. Mas tinha que ir em frente. O momento era aquele e não podia retroceder. Respirou fundo, procurou olhar o pai na cara, se entendeu com a coragem e foi em frente: – Pai eu e Das Graças... Sabe... À gente se ama. Se ama de verdade, pai. Eu queria pedir ao Senhor permissão pra eu me casar com ela. - Justino olhou para o filho, deu um sorriso de escárnio e falou: - Ôce tá brincando! Si diverti com a cabrita, ôce podi! Ôce podi e tem direito! Aqui dentro das nossa terra a gente manda e dismanda! E todo mundo tem de obedecer! A gente pega a muié qui quisé! As casada a gente inté respeita! Quais sorteiras, essas a gente qué, a gente toma! Mais casá, nunca!  
                  O filho ficou olhando assustado para o pai. A princípio nem conseguiu falar. Na verdade nem sabia o que falar. Convivia com o pai, mas não o conhecia. Enquanto ele tentava se restabelecer do susto, Justino continuou a falar:
                  - Mais uma coisa é certa: casá com impregada nossa, nunca! Quando fô pra casá, vai sê cum muié rica qui nem nois! E eu vô arranjá! I não si fala mais nissu! Tamus conversado?
                 Mundinho tentou argumentar, entretanto Justino virou às costas, pegou o chicote em cima da mesa, saiu porta afora, montou o seu cavalo e partiu em disparada. O menino voltou para o seu quarto e chorou um bocado de tempo. Mais tarde procurou pela namorada. Não a encontrou no lugar de costume: debaixo de um pé de jabuticaba, atrás do casarão. Voltou para a cozinha e perguntou à Das Dores onde estava Das Graças.  Ela respondeu que a filha estava no quarto, muito triste. Tinha ouvido tudo que o pai dele havia falado. Mundinho disse que iria conversar novamente com o pai e depois com Das Graças.  Das Dores balançou a cabeça e falou:
                - Meu filho! Eu já tinha falada com a minha menina que o namoro de ocês era pirigoso! Ela não mi escuitô! E deu nissu! Seu pai num vai nunquinha permiti o amor de ôces !  É meió ocês esquecer issu tudu! Deixa Das Graça no cantinho dela! Dispois ocê cunversa com ela! 

                                  Continua semana que vem...

Nenhum comentário:

Postar um comentário