quarta-feira, 22 de julho de 2015

FESTA DE SÃO JOÃO - Parte 1

E começaremos hoje a publicar mais uma história...

FESTA DE SÃO JOÃO
                                      - José Timotheo -
              Bela Vista: cidadezinha do interior, encravada na base de uma serra. Lá onde o sertão se arrasta para o norte. E a seca, naquele pedacinho do nordeste, fica muito distante. Lugar de clima bom. Água em abundância. Terra boa. Lá o que se planta dá. E onde se vê um bom gado leiteiro se fartar com um bom pasto. E fartura, lá tem de sobra. Infelizmente para poucos. Essa é a verdade. Lá o trabalhador se arrasta sol a sol ano inteiro. Produz riqueza. Mas não se enrica. O boi, as vacas, os cabritos e cabras comem mais do que ele. Mas vai levando a vida assim mesmo. Não é como Deus quer, com certeza. Isso é coisa do homem. Entretanto, apesar das adversidades, consegue levar a vida em cantoria. Uma roda de viola aqui. Outra ali. Acompanhada com uma pinga de rolha. Essa não pode faltar! Mas isso, depois da lida é claro! E assim, vai se levando a vida.

             Como quase toda cidade do interior nordestino, são comandadas por uma ou duas grandes famílias. E essa cidadezinha não podia ser diferente. Lá morava Mundinho: rapazinho de família abastada. E Das Graças: menina moça, filha da cozinheira da família de Mundinho. Os dois beiravam os quinze anos. O amor explodiu num olhar. O namorico começou sem eles perceberem. Quando deram conta, já estavam no primeiro beijo. O grude foi imediato. Onde um estava lá se achava o outro. E os dias iam passando e o amor crescia igual à massa de bolo: parecia que tinha fermento. Das Graças, menina recatada, não era daquele tipo fácil. Bem orientada pela mãe, Das Dores. Mulher trabalhadeira. Pessoa de bom caráter. De moral elevada. Viúva fazia tempo. Mas nunca, depois da passagem do marido, se interessou por outro homem.  Dedicava-se integralmente a filha. Mesmo muito humilde, de pouca instrução conseguiu passar para ela bons ensinamentos. Menina prendada estava ali! A mãe se orgulhava disso. Dizia: - Quem casasse com a sua menina, estava casando com a felicidade.  E Mundinho viu e sentiu isso em Das Graças. Menino bom, também estava ali. Mesmo sendo filho de Coroné rico e prepotente, era menino respeitador. Perdeu a mãe muito cedo. Mas o pouco tempo que esteve sob os seus cuidados, conseguiu absorver a retidão do seu caráter. Mas depois ficou sob os cuidados da má educação do pai. Entretanto essa má influência ele conseguiu não assimilar. Até aquela idade conseguiu ter o coração bom. Mas ele sabia que naquelas bandas, quem tinha mais, achava que podia tudo. E esse tudo era como se fosse sua propriedade. Mas ele já era, nos seus quinze anos, peça rara na região. E, graças a Deus, não tinha a mesma índole do pai, que não respeitava nada e ninguém. O seu filho por ter um jeito fino, educado, tratava bem todos empregados da fazenda, era maltratado por ele. O tempo foi passando e os dois iam conseguindo manter o namoro as escondidas. Só que já estava ficando difícil se alimentarem somente de beijos. O corpo pedia mais. O desejo já explodia até nos sonhos. Das Graças tinha medo. Mas tinha desejo. E Mundinho com o grande amor que sentia por ela, sabia que não deveria magoá-la. Ele queria fazer as coisas certas. Pensou e só achou uma solução: casar. Naquela altura já havia passado um ano. Tinha os dezesseis completos. Mas com essa idade, para casar, tinha que ter autorização do pai. Sabia que ia ser difícil. Mas não tinha outra saída, ia falar com ele. Achou estranho seu pai e a mãe da namorada não perceberem que eles namoravam. Há um ano o namoro deles era às escondidas, mas com certeza algum empregado já devia ter visto os dois aos beijos. E, com mais certeza ainda, já devia ter caído nas orelhas do pai dele e da mãe dela. Mundinho conversou com Das Graças e pediu a mão dela em casamento. Foi um chororô só! A menina não tinha onde guardar tanto contentamento! Perdeu até as contas de tanto beijo que deu no futuro marido. Já se achava quase casada. Ele custou a continuar a conversa. Mas conseguiu adiantar que ia falar com pai dele e depois falar com a mãe dela para pedir sua mão em casamento. Tudo combinado. A alegria dos dois explodia nos olhos, com tanto brilho, que parecia fogos de artifício. 
                                 ...Continua semana que vem...

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