terça-feira, 14 de julho de 2015

UM GÊNIO QUE ENCONTROU O PARAÍSO NO ESGOTO - Parte Final

A viagem de volta transcorreu num silêncio total. Os quatros pescadores não paravam de olhar aquela quantidade imensa de peixes e continuavam sem acreditar no que aconteceu. Chegaram e atracaram a embarcação. Tinha alguns pescadores conversando, mas não perceberam a chegada do barco. Viraram as costas e foram embora para as suas casas. João colocou a mão no ombro de Marins e agradeceu pelo que ele tinha feito em seu favor. Marins tocou a mão de João e sorriu dizendo que não tinha feito nada. Que ele sim é que tinha que agradecer. O mestre acompanhou João pisar no cais, mas quando virou para falar com os amigos e voltou, João já tinha sumido. Foi para o cais e tentou achar o garoto, mas João já não podia mais ser visto. Pedro já tinha encoberto João completamente. Marins ficou parado olhando sem entender nada. Resolveu voltar para o barco. Mas quando pisou no convés ficou surpreso, ao ver que não tinha mais peixe nenhum. Gritou para um dos amigos:
- Tinho! Cadê os peixes que nós pegamos?
- Que peixe? Nós hoje não conseguimos nem pro café!
- Eu pensei que... O que foi que eu pensei? Acho que foi essa pescaria merda de hoje que está me deixando meio confuso. Foi uma droga, né Dede?
- João, João, o seu café vai esfriar.
- Oi tia, acho que cochilei.
João olhou em volta e observou que a cantina estava vazia. Consultou o relógio e viu que tinha perdido as aulas. Pegou o café, mas não bebeu. Colocou-o novamente em cima da mesa. Coçou a cabeça algumas vezes. Não estava entendendo o que estava acontecendo. Estava com gosto de café na boca, mas a xícara estava completamente cheia. Pensou com seus botões:
- Tem alguma coisa estranha acontecendo. Ainda estou com gosto de café na boca. Parece que acabei de beber nesse minuto, mas a xícara está cheia. Será que pedi outra? Não pode ser. A tia Élia disse que o café estava esfriando. Mas ele está bem quente. Posso ter bebido na sala do professor.
Nisso, o professor Vander entra na cantina e se aproxima de João, como sempre fazia: ficava em pé, em frente de João e esperava o tempo que fosse, até que ele falasse alguma coisa. Dessa vez João não demorou a falar.
- Oi professor, tudo bem?
- Tudo bem. E com você?
- Mais ou menos. Professor, eu não tomei uma xícara de café com o senhor e seus amigos?
- Café? Amigos? Não estou entendendo. Como você não apareceu na minha sala, eu vim aqui ver o que tinha acontecido.
-Eu não fui? O senhor queria conversar comigo sobre o meu estudo?
- Então, é sobre isso que eu vou aproveitar para falar. Eu analisei o seu trabalho e cheguei à conclusão de que ele está incompleto.
- O senhor acabou de falar que estava me esperando na sua sala... Então eu estive lá antes?
- Não é bem assim. Vá até a minha sala que eu explico. João, o seu estudo é o que já existe. Vá lá. Estou te esperando.
O professor saiu e João ficou olhando-o intrigado se retirar sem muita pressa, até sumir, ao passar pelas caixas de refrigerantes. Nesse pequeno percurso, João cruzou com os olhos de Pedro, que estava atrás do balcão. João ia falar alguma coisa, mas a voz de Pedro ecoou dentro da sua cabeça:
- O que você criou, não vai cair nas mãos do mal. Guarde a sua criação para um futuro onde a energia atômica será usada somente para fins pacíficos.
Quando João acabou de escutar o que Pedro dizia, olhou para o amigo, que piscou um olho para ele. João fechou os olhos e respirou fundo. Quando abriu novamente, Pedro já não estava mais lá. Rapidamente foi até o balcão e perguntou à dona da cantina pelo amigo. Mas ela respondeu que não tinha visto ninguém ali, a não ser o professor Vander.
O livro vermelho ainda estava sobre a mesa. João olhou-o por alguns segundos até pegá-lo. Ficou com ele fechado em suas mãos até que resolveu abri-lo. E abriu na primeira página. De cara o nome do autor saltou aos seus olhos. Em letras negras estava escrito: Karl Marx. Aquilo causou-lhe um grande mal estar. Respirou fundo. Depois soltou o ar bem devagar. Repetiu isso algumas vezes.  Levantou-se e colocou o livro no canto da mesa. Se arrependeu imediatamente e pegou-o de volta. Abriu novamente, mas na página seguinte. Lá estava escrito:-“ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS.”

                                               FIM         

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