terça-feira, 11 de agosto de 2015

FESTA DE SÃO JOÃO - Parte 4

Continuando...
               Mês de junho corria a todo vapor. Pra variar, Mundinho estava colado nos livros. As provas finais já se aproximavam. Era o penúltimo semestre. Ele já tinha passado direto. Mas mesmo assim não abria mão de fazer essas benditas provas. Um amigo de nome João, um dos que dividia o apartamento com ele, passou pela porta do seu quarto e pedindo licença entrou, e já se desculpando pela interrupção. Mundinho como gostava muito desse amigo, não se aborreceu, pelo contrário recebeu-o com um sorriso e convidou-o a sentar-se. Era um dos poucos que também se dedicava de corpo e alma aos estudos. E como Mundinho, já estava aprovado antes das provas finais. E a prosa foi sendo desfiada pelos dois, feito lã crua. Conversa boa de se ouvir. Dois corações de uma grandiosidade sem condições de ser medidos. E o papo foi rolando. Num determinado momento Mundinho perguntou ao amigo se não seria esse final de semana que ele iria visitar a família. João confirmou e tirou do bolso uma carta enviada pela sua mãe. Comentou então partes do seu conteúdo. Num determinado trecho, a mãe avisava ao filho sobre a festa junina da cidade. Mundinho ficou entusiasmado. Uma das poucas coisas que ele gostava, eram esses festejos juninos. Interrogou o amigo como era a festança:  se a festa era tradicional, ou se já estava modernizada. De antemão foi falando para o amigo que preferia às tradicionais. Àquelas bem do estilo antigo. Àquelas que não podia faltar um bom sanfoneiro. João percebendo o entusiasmo com que o amigo falava, resolveu convidá-lo a ir com ele. A princípio a recusa foi automática. Colocou mil empecilhos. O principal seria o estudo. Aí João rebateu e fez vê-lo que dois, ou três dias não iriam fazer qualquer diferença. Nem pra ele e nem para o amigo. Ambos já estavam aprovados. E que a família dele ficaria muito feliz em recebê-lo, já que o conhecia por seu intermédio. Naqueles anos todos que se conheciam, falava sempre dele para a sua mãe, pai e irmãos. Então não era uma pessoa estranha para entrar na sua casa. Mundinho ficou pensativo durante alguns minutos. Depois perguntou pela distância. – São duzentos e cinqüenta quilômetros, mais ou menos, até lá. - respondeu o amigo. E acrescentando: - a gente pode sair às 14h, aproximadamente! Hoje não vai ter mais aula mesmo! Só o tempo pra gente arrumar as nossas roupas e tomar um banho. O carro já está preparado. E é só a gente pegar estrada. -  Depois pensou, enquanto arrumava a sua mala: -Há muito tempo não via Mundinho com um sorriso solto. Ou talvez, nunca tinha visto. Essa era a certeza mais certa. - Acabou deixando escapulir um sorriso. Olhou para ver se o amigo não tinha visto o seu sorriso escondido. Mundinho nesta hora estava de costas, arrumando também a sua mala.
           Pegaram estrada. Mundinho não sabia porque o seu coração transbordava de emoção. Não era a mesma coisa quando voltava para casa: o seu coração pesava. Era sempre aquela tristeza querendo estrangulá-lo. Seus olhos ficavam sempre cheios d’água. Quando podia, adiava a sua volta. E era o que fazia mais. Os seus pensamentos nem deixaram perceber que o caminho era longo. O tempo voou. Já anoitecia, essa sexta-feira, quando entraram na cidade, que na verdade, era um lugarejo. Foram passando devagar pelo centro. Observaram que já estava quase tudo arrumado para começar a festa. Muita gente envolvida na organização, dava os últimos retoques. Dali há pouco, a festa começava. Nesse primeiro dia seria mais um pré-festejo. Aquele pedaço de noite, não era considerado o início. Era só um aperitivo. A festança mesmo seria no sábado. Começaria logo pela manhãzinha! Mundinho notou no centro da praça um pau de sebo. Ai comentou para o amigo que ele iria subi-lo com facilidade. João olhou pra ele e deu um sorriso maroto, lançando uma pecha de dúvida na afirmativa do amigo. – Você duvida? - arrematou Mundinho com um sorriso desafiador.

           Chegaram à casa de João. A recepção não poderia ser melhor.     Mundinho se sentiu logo à vontade. Parecia que já conhecia àquela família há muito tempo. Foi acolhido pelos pais de João como se fosse uma pessoa da família. E com os dois irmãos e a irmã, não foi diferente. A conversa rolou espontaneamente. Parecia que já se conheciam de há muito... Logo, logo já estava acomodado num quarto. E um quarto só para ele. Dava pra se notar a satisfação que brotava dos seus olhos. Há muito tempo ele não se sentia leve. Rapidamente fez a comparação entre a família de João e a sua. - Que diferença! - pensou. Àquela era uma família bem estruturada. Ali percebeu que existia amor. Quando se lembrou do pai, ai não conseguiu segurar as lágrimas. Falava com  ele esporadicamente e por obrigação. E a vontade era sempre nenhuma. Falava por falar. Procurou tirar àquelas lembranças de dentro da sua cabeça. Sacudiu-a, como se fosse lançá-las para bem longe dali Queria voltar a sentir o que estava sentindo ao entrar no quarto. Respirou fundo. Enxugou às lágrimas e forçou um sorriso. Nesse meio tempo bateram à porta. Era o amigo pedindo para que se arrumasse rápido, pois ele e os seus irmãos já estavam todos prontos para darem umas voltas pela cidade. Mundinho solicitou ao amigo mais alguns minutos. A noite estava agradável. Era lua cheia. Céu limpo. Temperatura amena. Tudo conspirava a favor.
                                              Continua semana que vem... 

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