Mês de junho
corria a todo vapor. Pra variar, Mundinho estava colado nos livros. As provas
finais já se aproximavam. Era o penúltimo semestre. Ele já tinha passado
direto. Mas mesmo assim não abria mão de fazer essas benditas provas. Um amigo
de nome João, um dos que dividia o apartamento com ele, passou pela porta do
seu quarto e pedindo licença entrou, e já se desculpando pela interrupção.
Mundinho como gostava muito desse amigo, não se aborreceu, pelo contrário
recebeu-o com um sorriso e convidou-o a sentar-se. Era um dos poucos que também
se dedicava de corpo e alma aos estudos. E como Mundinho, já estava aprovado
antes das provas finais. E a prosa foi sendo desfiada pelos dois, feito lã
crua. Conversa boa de se ouvir. Dois corações de uma grandiosidade sem
condições de ser medidos. E o papo foi rolando. Num determinado momento
Mundinho perguntou ao amigo se não seria esse final de semana que ele iria
visitar a família. João confirmou e tirou do bolso uma carta enviada pela sua
mãe. Comentou então partes do seu conteúdo. Num determinado trecho, a mãe
avisava ao filho sobre a festa junina da cidade. Mundinho ficou entusiasmado.
Uma das poucas coisas que ele gostava, eram esses festejos juninos. Interrogou
o amigo como era a festança: se a festa
era tradicional, ou se já estava modernizada. De antemão foi falando para o
amigo que preferia às tradicionais. Àquelas bem do estilo antigo. Àquelas que
não podia faltar um bom sanfoneiro. João percebendo o entusiasmo com que o
amigo falava, resolveu convidá-lo a ir com ele. A princípio a recusa foi
automática. Colocou mil empecilhos. O principal seria o estudo. Aí João rebateu
e fez vê-lo que dois, ou três dias não iriam fazer qualquer diferença. Nem pra
ele e nem para o amigo. Ambos já estavam aprovados. E que a família dele
ficaria muito feliz em recebê-lo, já que o conhecia por seu intermédio. Naqueles
anos todos que se conheciam, falava sempre dele para a sua mãe, pai e irmãos.
Então não era uma pessoa estranha para entrar na sua casa. Mundinho ficou
pensativo durante alguns minutos. Depois perguntou pela distância. – São
duzentos e cinqüenta quilômetros, mais ou menos, até lá. - respondeu o amigo. E
acrescentando: - a gente pode sair às 14h, aproximadamente! Hoje não vai ter
mais aula mesmo! Só o tempo pra gente arrumar as nossas roupas e tomar um
banho. O carro já está preparado. E é só a gente pegar estrada. - Depois pensou, enquanto arrumava a sua mala:
-Há muito tempo não via Mundinho com um sorriso solto. Ou talvez, nunca tinha
visto. Essa era a certeza mais certa. - Acabou deixando escapulir um sorriso.
Olhou para ver se o amigo não tinha visto o seu sorriso escondido. Mundinho
nesta hora estava de costas, arrumando também a sua mala.
Pegaram estrada. Mundinho
não sabia porque o seu coração transbordava de emoção. Não era a mesma coisa
quando voltava para casa: o seu coração pesava. Era sempre aquela tristeza
querendo estrangulá-lo. Seus olhos ficavam sempre cheios d’água. Quando podia,
adiava a sua volta. E era o que fazia mais. Os seus pensamentos nem deixaram perceber
que o caminho era longo. O tempo voou. Já anoitecia, essa sexta-feira, quando
entraram na cidade, que na verdade, era um lugarejo. Foram passando devagar
pelo centro. Observaram que já estava quase tudo arrumado para começar a festa.
Muita gente envolvida na organização, dava os últimos retoques. Dali há pouco,
a festa começava. Nesse primeiro dia seria mais um pré-festejo. Aquele pedaço
de noite, não era considerado o início. Era só um aperitivo. A festança mesmo
seria no sábado. Começaria logo pela manhãzinha! Mundinho notou no centro da
praça um pau de sebo. Ai comentou para o amigo que ele iria subi-lo com
facilidade. João olhou pra ele e deu um sorriso maroto, lançando uma pecha de
dúvida na afirmativa do amigo. – Você duvida? - arrematou Mundinho com um
sorriso desafiador.
Chegaram à casa de
João. A recepção não poderia ser melhor.
Mundinho se sentiu logo à vontade. Parecia que já conhecia àquela
família há muito tempo. Foi acolhido pelos pais de João como se fosse uma
pessoa da família. E com os dois irmãos e a irmã, não foi diferente. A conversa
rolou espontaneamente. Parecia que já se conheciam de há muito... Logo, logo já
estava acomodado num quarto. E um quarto só para ele. Dava pra se notar a
satisfação que brotava dos seus olhos. Há muito tempo ele não se sentia leve.
Rapidamente fez a comparação entre a família de João e a sua. - Que diferença! -
pensou. Àquela era uma família bem estruturada. Ali percebeu que existia amor.
Quando se lembrou do pai, ai não conseguiu segurar as lágrimas. Falava com ele esporadicamente e por obrigação. E a
vontade era sempre nenhuma. Falava por falar. Procurou tirar àquelas lembranças
de dentro da sua cabeça. Sacudiu-a, como se fosse lançá-las para bem longe dali
Queria voltar a sentir o que estava sentindo ao entrar no quarto. Respirou
fundo. Enxugou às lágrimas e forçou um sorriso. Nesse meio tempo bateram à
porta. Era o amigo pedindo para que se arrumasse rápido, pois ele e os seus
irmãos já estavam todos prontos para darem umas voltas pela cidade. Mundinho
solicitou ao amigo mais alguns minutos. A noite estava agradável. Era lua
cheia. Céu limpo. Temperatura amena. Tudo conspirava a favor.
Continua semana que vem...
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