Continua...
Depois de fazer esse comentário, Quim olha para o irmão, bate com a mão no ar e bota o corpo para o interior do veículo, mas acaba esticando mais um pouco a conversa. E sai do carro de novo.
- Mano, você já viu como esse carro é grande? Está vendo do jeito que ele ficou? Só tem esse pedaço que está menos amassado.
- E o que você quer dizer com isso? Só estamos perdendo tempo. Deixa de enrolação, Quim. Saiu do carro por quê?
- Eu saí... Mano, o que eu quero dizer, é que realmente estamos perdendo tempo. Não quero mais saber do saco de roupas. Para o que vai me servir eu ver as roupas que estão ali? Pode ser roupa suja. É perda de tempo. E não vou perder o meu tempo tentando saber se o motorista morreu, se o carona morreu e se do lado de lá tem alguém vivo. Tudo é perda de tempo. Não vou olhar mais nada. Um carro, desse tamanhão deve ter muita gente dentro. E deve tá todo mundo morto. Olha só a traseira: o teto está encostado na carroceria. Se tiver alguém ali, virou bife. Já estou com defunto demais perto de mim. Esse, aquele outro ali, que também está tão despedaçado quanto esse aqui. Tá uma barafunda só, Toni!
- Para quê esse discurso todo? Assim é que estamos perdendo tempo, mesmo. Está de brincadeira, Quim?
- Que brincadeira?
- Quim, você tá perdendo tempo à toa. Você fala à beça. Se estivesse olhado aquele monte de roupas, já tinha visto se tem gente ou não. Olha logo. Você é que é o curioso aqui, agora está querendo recuar? Lançou uma suspeita e agora quer cair fora? Deixa disso e vai logo conferir.
- Que recuar? Sou homem de palavra! Se eu falei, vou cumprir! Satisfeito? Já estou indo, patrão!
Quim termina de falar e finalmente, mais decidido, mete o corpo para dentro do carro, novamente. Se apoiou nas pernas do morto, sem fazer cara de nojo, e conseguiu chegar até onde está o que ele achava ser apenas um monte de roupas. Só que mal coloca uma das mãos em cima, leva o maior susto. O saco se mexeu e em seguida veio um gemido. Quim sai rápido do carro com uma expressão de quase terror. Com o susto, quase derrubou o irmão que estava atrás de si.
- Toni! Mano tem gente viva! Tem gente viva! Aquilo lá, não é um monte de roupa não! É um saco de pano, com uma pessoa dentro!
- Calma Quim. Calma. Você quase me atropelou! Calma. Se tem gente, então vamos tirar ela de lá. Vai lá, mas com cuidado.
Quim, com a respiração ofegante, olha para o irmão, parecendo que ia falar alguma coisa, mas colocou o corpo para dentro do carro novamente, mas calado. E assim ficou por alguns segundos, até quebrar o silêncio.
- Toni! Toni! A pessoa tá respirando! – fala ansioso - Puxa! Você estava certo! Mano, mas como é que a gente vai tirar ela daqui? O teto tá muito baixo!
- Quim, nesse momento precisamos de muita calma. Acho que temos que tirar esse cara da frente primeiro. – apontando para o homem que estava com a cabeça afundada causado pelo amassado do teto do carro.
- Como? Ele tá com a cabeça enterrada no corpo. Já tá muito esquisito para o meu gosto! E essas pernas pro alto? – fez a pergunta, com a voz alterada, e foi saindo do carro.
- É só a gente puxar as pernas dele pra baixo, Quim. Sem dificuldade.
- Toni, puxar pra baixo? Tá tudo tão apertado. E o cara é grande.
- Quim deixa eu pensar. Pronto já pensei.
- Assim tão rápido?
- Escuta só Quim. Força as pernas dele pra baixo que eu puxo ele pra fora do carro. Vamos, não faz cara feia não. Já que estamos na água, não tem jeito, vamos nos molhar mesmo.
- Está bem. Molhar... O que tem a ver com o fogo que queimou tudo?
- Você é difícil, hein Quim! Deixa de enrolação.
- Tá bem. Você venceu. Então vamos lá. Se prepara que vou empurrar as pernas dele para baixo. Toni, como é que ele ficou com as pernas para cima?
- E eu sei lá! Isso é hora pra você me perguntar coisa que eu não sei responder? Vamos logo. Bota as pernas dele pra baixo. Isso. Assim mesmo. Agora vou puxar o corpo dele. Viu só? Agora dá pra gente tira-lo daqui com facilidade.
,,,,Continua Semana que vem!

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