Continuando...
O rapaz que estava calado, aproveitou que Dyllon ficou pensativo e falou:
- Natasha está com razão. Não devemos continuar por aqui. A minha sugestão é que podemos fazer o caminho que faço quando estou de folga. Chego até uma pequena plataforma de embarque do trem. Parece uma parte do metrô. Sei lá! Mas quando lá chegarmos, você – apontando para Dyllon – pode descobrir como sair dali, porque não sei se o trem vai estar lá.
- Vocês têm razão. Vamos sair logo daqui. Eu não sei o que nos espera do outro lado dessa porta. O que estou sentindo, não é boa coisa. É longe a saída?
- No final desse corredor, do outro lado da porta, tem um outro corredor. Vamos pelo lado direito e seguimos até o final dele. Lá tem um elevador... – fez uma pausa e franziu o sobrolho – Eu não sei se o elevador sobe ou desce. Ele fica com as luzes apagadas.
Dyllon ficou em silêncio, pensativo. Natasha ameaçou falar, mas abortou o que ia dizer. Dyllon sabia que os seus poderes estavam reduzidos e o que sempre pensou que seria de total facilidade, agora tinha tomado outra cara. Passar pelas portas, andar pelas paredes, isso conseguia sem problema. Será que só isso seria o bastante? O mais importante era a invisibilidade, mas até agora não conseguira mais. Ia ficar vulnerável.
Natasha, que já estava tanto tempo em silêncio, olhava o amigo com um brilho de amargura nos olhos. Nunca tinha visto Dyllon inseguro. Uma pessoa que levara vinte anos dormindo, de repente acorda e já é dono de si. Isso é inacreditável. Mas naquele momento, era quase uma criança sem rumo. Ela encostou-se na parede e sentiu uma friagem nas costas. Olhou e, pela primeira vez, reparou que era um espelho que vinha do teto até o chão. E com mais de dois metros de largura. Não entendeu como nunca tinha percebido a existência dele. Olhou para a frente e ficou também surpresa. Naqueles três anos passando naquele corredor, nunca tinha reparado naqueles dois espelhos. Como isso podia ter acontecido? Simplesmente aconteceu. Não era hora de questionar o passado. Falta de atenção? Deixa pra lá. O importante é que conversou com ele. Se viram pela primeira vez e se viu, apesar dos problemas que vinha feito tsunami, ainda bonita. Não viu a Natasha triste. Sorriu e olhou para Dyllon, ainda sorrindo.
- Dyllon. Vem até aqui.
Dyllon caminhou até a amiga, a enfermeira que aprendera a admirar e a amar. Não foi um amor carnal que os uniu, foi um amor de alma. Um amor que não morre. Foi até bem próximo e beijou a sua testa. Natasha girou-o e colocou-o de frente para o espelho. Dyllon sorriu, quando viu a sua imagem ao lado da amiga.
- Bela fotografia, Natasha. Sabe que nunca tinha reparado nesse espelho?
- Nem eu, Dyllon. Agora, olha bem para o espelho, conversa com vocês.
- Vocês? Não entendi.
- Dyllon, somos muitos numa só pessoa. Procura a pessoa, em você, que vai responder as suas dúvidas e decidir qual o caminho seguir. Simples assim.
- Minha querida, eu sou vários? – perguntou Dyllon assustado.
- Claro! Eu estava assustada e quando me olhei, uma outra pessoa, que estava dentro de mim, sorriu. E com você, foi a mesma coisa. O Dyllon preocupado, que veio de lá, ficou pelo caminho. O outro, sorriu.
Dyllon olhou para a amiga e percebeu o que ela estava lhe mostrando. Sorriu e balançou a cabeça. – E eu que sou de “outro planeta”! – pensou ele.
Abraçou Natasha e puxou José Antônio, colocando-o do outro lado, abraçando também a ela. depois pediu para que ficassem olhando para o espelho. Não demorou muito e de uma imagem, foram surgindo outras.
....Continua Semana que vem!
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