terça-feira, 29 de julho de 2025

Uma Luz e Nada Mais - Parte 66

 


 Continuando...

                              O soldado saiu da enfermaria e ficou mirando a floresta. Depois pegou o binóculos e varreu uma grande área daquele mundo verde. Nenhum vestígio dos seus companheiros. Era só silêncio o que viu. Nada se movia. Aquilo deixou-o completamente triste. Tinha plantado a esperança de que algum amigo voltasse para o pequeno “forte”, mas nem sinal de qualquer alma nas imediações.

                             Caminhou até o portão derrubado e tentou ergue-lo, porém foi em vão. A única esperança seria com a ajuda dos dois únicos soldados que fora acometido com uma virose, entretanto, com o sumiço dos dois, lá se foi a reforma dos portões e parte da cerca para o próximo contingente, que não sabia quando chegaria. Do jeito que estava, corria risco de vida com a invasão de animais selvagens. A segurança do “forte” estava completamente comprometida. Tinha que arranjar algum lugar, dentro da fortificação, que pudesse se proteger. A noite não estava muito longe, logo tinha que fazer alguma coisa para espantar qualquer animal que tentasse se aproximar. E tinha que começar a se movimentar. – Vou fazer umas fogueiras. – pensou.

                             Atrás da cabana que servia de enfermaria, tinha um pequeno cômodo que servia de oficina. Lá encontrou martelo e um serrote. Depois lembrou-se que tinha uma serra elétrica, à gasolina. Vasculhou o local e finalmente encontrou o que procurava, só que estava sem combustível e, pior, não sabia onde encontra-lo. Revirou todo o cômodo e nem sinal da gasolina.

                              Não devia perder mais tempo, teria que usar as ferramentas que tinha: martelo e serrote. Lá foi ele para o trabalho árduo que o esperava. Começou a desmontar o portão e amontoar as madeiras em alguns pontos, protegendo a área mais vulnerável. Precisou apenas fazer três fogueiras para cobrir o buraco que foi criado com a queda dos portões e de um pedaço da cerca. Sabia que o fogo subiria alguns metros. O cuidado para o fogo não se espalhar tinha que ser redobrado. Meteu a mão no bolso e não encontrou o fósforo. Depois se lembrou que não tinha esse hábito de carregar caixa de fósforo, já que não fumava. Olhou alguns cadáveres que ainda estavam por ali, já que ainda não tivera tempo de sepultá-lo, e procurou em alguns bolsos. Encontrou em um deles um isqueiro. Antes de atear fogo na lenha, veio na sua cabeça que, achou estranho, nenhum corpo exalava mau cheiro. Pareciam que apenas dormiam.

                    Acendeu o isqueiro e a chama não se manteve acesa, devido a um vento repentino. Mais uma coisa estranha: nunca tinha percebido vento naquele lugar. Bateu de ombro e tentou novamente, mas mais uma vez a chama não se sustentou. Olhou aquelas madeiras empilhadas e notou que não tinha colocado jornal, ou mesmo gravetos para ajudar na queima. Mas graveto por ali, só indo até a floresta e isso ele não ia fazer de jeito nenhum. A única opção seria jornal, revistas e qualquer outro papel. Entrou novamente no alojamento a procura do material necessário. Lembrou-se também de uma vela, que poderia ser útil. Acabou achando até um lampião a querosene. Por sorte, sentiu que alguma coisa conspirava à favor, estava cheio de combustível. Saiu mais otimista, até assobiou alguma melodia, mas  desconhecida.

                   Já do lado de fora, estancou a alguns metros da porta do alojamento. Não encontrava justificativa para o que estava acabando de ver. – Estou enlouquecendo? – se perguntou com uma expressão tristonha. Realmente não existia explicação para o que tinha acontecido. O que via, era surreal. De repente três pontos de luz se postavam no alto do portão e da cerca, que antes estava no chão. Os portões e a cerca, misteriosamente, estavam consertados e no lugar de origem, em pé. O soldado, aonde estava, se ajoelhou e postou às mãos para o céu e agradecia pelo milagre que acabara de presenciar. Enquanto ficava ali, de olhos fechados, os três pontos de luz postaram-se em volta dele. Em frações de segundos, começaram a tomar forma. Era uma forma parecendo humana, mas quase transparente.

 ......Continua Semana que vem!

sábado, 26 de julho de 2025

Pensamento de Poeta - Somente Energia


 

Somente Energia

- José Timotheo -  

Sou muitos

Assim fui formado

Vim do pó

De tantos que partiram

Um dia deixarei

O pó que fui formado

E virão outros

Agregando o que de mim ficou

Mas que nunca me pertenceu

Somos muitos

Aglomerados do que se formou

O universo

Somos sobras das estrelas

Somos parte de tudo

Viemos do pó

Ao pó, voltaremos um dia

Assim é e será

Somos únicos e iguais

Irmãos da mesma poeira

Já foi dito

“Sois todos irmãos”

Um dia

Voarei de volta

Sem asas, mas só energia

Única coisa real do que somos

                                                          fim

 

terça-feira, 22 de julho de 2025

Uma Luz e Nada Mais - Parte 65

 


 Continuando...

                           Dos olhos de Dyllon foram saindo raios de luz multicoloridos, até que envolveram as várias imagens, que se espalhavam no espelho, até que só ficasse uma, a que Dyllon sabia que era a melhor.

                            Natasha e o namorado pareciam que tinham acordado naquele instante. Era nítido, nas suas feições, que não tinham noção de  onde estavam. Dyllon sorriu ao perceber o estado de desorientação de ambos. Não avaliara que isso pudesse acontecer.

                            - O que houve com vocês? – falou assustado, Dyllon. – Não consegui perceber que vocês tinham ficado afetados. Tenho que tirar essas substâncias do meu organismo. Mas consegui encontrar, de todas as pessoas que habitam em mim, a minha parte mais forte.

                            - Puxa Dyllon! Estou tonta! O quê você fez? – falou Natasha, enquanto balançava a cachola, parecendo que arrumava tudo lá dentro.

                            - Não me faça pergunta que, no momento, não posso responder. Minha cabeça também está desarrumada. Vamos seguir, a princípio, a ideia do seu namorado. Mas antes, vou dar uma olhada do outro lado. Alguma coisa está acontecendo lá, que eu ainda não consegui perceber. E nem ver.

                           Dyllon foi até a porta e meteu a cabeça, atravessando-a. Entretanto parou e não passou todo o corpo. O que estava vendo, assustou-o.  

                  O soldado Oliveira, dormia o sono dos justos. De repente abriu os olhos assustados. Se apalpou, para ter certeza se estava vivo. Alguma coisa tinha o despertado. Estava de barriga para cima, como sempre gostava de dormir. Só que não se lembrava de ter se deitado ali em cima na guarita. Olhou para o lado e viu a sua arma a poucos centímetros da sua mão.  Como aconteceu aquilo? Nunca tinha dormido em serviço. Se levantou assustado. Olhou para baixo e não viu ninguém. Estava um deserto só. Lembrou-se que tinha ido até a enfermaria e conversado com os dois soldados, que estavam acamados. Cadê eles? Se perguntou. Olhou para o lugar onde vira as pessoas que, segundo informaram, estavam mortas por radiação. Mas não tinha ninguém. Só a luz permanecia ali, cobrindo toda a área, como uma sentinela. Mas estava parada.

                     O soldado esticou o uniforme com a mão, pensando no sargento, que sempre gostava dele impecável. Porém percebeu que havia alguns amassados. Passou a mão novamente até achar que voltara ao normal. Pegou a arma e colocou no ombro e ficou por ali até acabar o seu turno. Tinha quase certeza que só sobrara ele. A dúvida era somente sobre os outros dois soldados que estavam na enfermaria. Não lembrava se eles tinham saído junto com ele. Olhou para o relógio e viu que tinha parado. Ficou meio aborrecido. Não sabia quem seria o próximo a ficar de sentinela. De repente não tinha mais ninguém. Resolveu descer e ir até a enfermaria.

                      Foi descendo a escada, sem tirar o olho da luz. Estava completamente vidrado. Aparentemente não sentiu medo em momento algum. Pisava com firmeza cada degrau, não titubeando em momento algum, até pisar o chão firme, mas sem desviar os olhos daquela claridade misteriosa. Foi assim até entrar na enfermaria a procura dos dois amigos, que para a sua tristeza tinham desaparecido. Agora era só ele. 

                      Estava sentado na dúvida, sem saber o que fazer da sua vida. Enfrentar aquela floresta imensa e perigosa, não ia de jeito nenhum se arriscar a ser devorado por alguma animal selvagem. E ficar aqui sozinho? Concluiu que também não deixava de correr risco, mas podia sobreviver até que chegasse alguém para resgatá-lo. Em algum momento viriam substituir a tropa, aí levariam-no dali. Só não sabia como ia explicar o que tinha acontecido com todo o pelotão. Só sobrou ele. Tentou até imaginar o que acontecera com os dois últimos. O mais obvio: fugiram para a floresta. - pensou.

 ....Continua Semana que vem!

terça-feira, 15 de julho de 2025

Uma Luz e Nada Mais - Parte 64

 


Continuando...

                        O rapaz que estava calado, aproveitou que Dyllon ficou pensativo e falou:

                     - Natasha está com razão. Não devemos continuar por aqui. A minha sugestão é que podemos fazer o caminho que faço quando estou de folga. Chego até uma pequena plataforma de embarque do trem. Parece uma parte do metrô. Sei lá! Mas quando lá chegarmos, você – apontando para Dyllon – pode descobrir como sair dali, porque não sei se o trem vai estar lá.

                     - Vocês têm razão. Vamos sair logo daqui. Eu não sei o que nos espera do outro lado dessa porta. O que estou sentindo, não é boa coisa. É longe a saída?

                     - No final desse corredor, do outro lado da porta, tem um outro corredor. Vamos pelo lado direito e seguimos até o final dele. Lá tem um elevador... – fez uma pausa e franziu o sobrolho – Eu não sei se o elevador sobe ou desce. Ele fica com as luzes apagadas.

                      Dyllon ficou em silêncio, pensativo. Natasha ameaçou falar, mas abortou o que ia dizer. Dyllon sabia que os seus poderes estavam reduzidos e o que sempre pensou que seria de total facilidade, agora tinha tomado outra cara. Passar pelas portas, andar pelas paredes, isso conseguia sem problema. Será que só isso seria o bastante? O mais importante era a invisibilidade, mas até agora não conseguira mais. Ia ficar vulnerável.

                       Natasha, que já estava tanto tempo em silêncio, olhava o amigo com um brilho de amargura nos olhos. Nunca tinha visto Dyllon inseguro. Uma pessoa que levara vinte anos dormindo, de repente acorda e já é dono de si. Isso é inacreditável. Mas naquele momento, era quase uma criança sem rumo. Ela encostou-se na parede e sentiu uma friagem nas costas. Olhou e, pela primeira vez, reparou que era um espelho que vinha do teto até o chão. E com mais de dois metros de largura. Não entendeu como nunca tinha percebido a existência dele. Olhou para a frente e ficou também surpresa. Naqueles três anos passando naquele corredor, nunca tinha reparado naqueles dois espelhos. Como isso podia ter acontecido? Simplesmente aconteceu. Não era hora de questionar o passado. Falta de atenção? Deixa pra lá. O importante é que conversou com ele. Se viram pela primeira vez e se viu, apesar dos problemas que vinha feito tsunami, ainda bonita. Não viu a Natasha triste. Sorriu e olhou para Dyllon, ainda sorrindo.

                       - Dyllon. Vem até aqui.

                       Dyllon caminhou até a amiga, a enfermeira que aprendera a admirar e a amar. Não foi um amor carnal que os uniu, foi um amor de alma. Um amor que não morre. Foi até bem próximo e beijou a sua testa. Natasha girou-o e colocou-o de frente para o espelho. Dyllon sorriu, quando viu a sua imagem ao lado da amiga.

                         - Bela fotografia, Natasha. Sabe que nunca tinha reparado nesse espelho?

                         - Nem eu, Dyllon. Agora, olha bem para o espelho, conversa com vocês.

                         - Vocês? Não entendi.

                         - Dyllon, somos muitos numa só pessoa. Procura a pessoa, em você, que vai responder as suas dúvidas e decidir qual o caminho seguir. Simples assim.

                         - Minha querida, eu sou vários? – perguntou Dyllon assustado.

                          - Claro! Eu estava assustada e quando me olhei, uma outra pessoa, que estava dentro de mim, sorriu. E com você, foi a mesma coisa. O Dyllon preocupado, que veio de lá, ficou pelo caminho. O outro, sorriu.

                          Dyllon olhou para a amiga e percebeu o que ela estava lhe mostrando. Sorriu e balançou a cabeça. – E eu que sou de “outro planeta”! – pensou ele.

                          Abraçou Natasha e puxou José Antônio, colocando-o do outro lado, abraçando também a ela. depois pediu para que ficassem olhando para o espelho. Não demorou muito e de uma imagem, foram surgindo outras.

 ....Continua Semana que vem!