terça-feira, 29 de abril de 2025

Uma Luz e Nada Mais - Parte 53

 


Continuando...

   A enfermeira fez uma carinha de meio decepcionada, mas logo em seguida, mesmo sem ele prometer, tinha certeza que Dyllon faria o melhor pelo garoto, deixou que um sorriso largo banhasse o seu rosto de felicidade. Então foi até o amigo e abraçou-o carinhosamente. Dyllon escondeu o que sentiu na hora, mas esqueceu que os olhos não encobrem os sentimentos e uma discreta lágrima escorreu de um canto do olho sem que conseguisse segurar a emoção. Continuou abraçado, esperando que a lágrima secasse.

               Às 22 horas, em ponto, os médicos chegaram à enfermaria. Natasha já estava a espera deles, chegara minutos antes. Sentada estava, sentada continuou, até que a chamassem para executar o que designassem.

               Como de costume, entraram sem dar um boa noite sequer para a enfermeira. Aparentemente Natasha já havia se acostumado com essa falta de educação deles e não deixou transparecer qualquer aborrecimento. As suas feições não sofreu qualquer alteração. Estava séria e assim continuou.

              O Dr. Fergusson foi para o outro lado, na cabeceira da cama, enquanto o Dr. Walter fez o que fazia sempre: medir a pressão, ouvir os batimentos cardíacos, a pulsação, colocar um facho de luz dentro dos olhos do paciente e mais alguns procedimentos.

              Dyllon estava achando aquilo muito divertido, pois quase deixou escapar um sorriso. A vontade de deixar aquela dupla em pé, feito duas estátuas e poder rir bastante, veio com toda a força, mas revolveu deixar para outra ocasião.

                O Dr. Walter, depois de fazer os exames rotineiros, meteu a mão dentro da valise e tirou uma seringa com 1 ml de um liquido amarelado. Olhou para Natasha, apresentou a seringa, convidado-a a injetar no paciente. Ela se levantou, pegou da mão do médico, mas imediatamente sua mão começou a tremer. Nunca tinha acontecido aquilo e os médicos perceberam. E o Dr. Ferguson fechou o senhor.

                - O que houve, Natasha? Está nervosa? Sempre fez isso e agora... Você está tremendo feito vara verde! Faz o seu trabalho, que sempre fez! Quer ser trocada?

                 Natasha respirou fundo, e quis responder ao médico, mas só conseguiu balançar a cabeça negativamente. Depois deixou a seringa em cima de uma bandeja, pegou o álcool  e lavou as mãos. Em seguida passou o álcool no local onde ia aplicar a injeção, no braço de Dyllon, e pegou a seringa novamente. Quando ia fazer a aplicação, tudo parou na enfermaria. Ou quase tudo, pois o jato do liquido da seringa, foi para a parede do outro lado da sala. Quando tudo voltou ao normal, Natasha passava o algodão com álcool no lugar que deveria ter sido aplicada a injeção. Os médicos balançaram a cabeça afirmativamente e se dirigiram para a porta. Antes de saírem, o Dr. Walter se dirigiu para Natasha.

                   - Natasha, amanhã no mesmo horário. Ok? Vai ser assim todos os dias. Nós, eu e o Dr. Ferguson, - apontando para o amigo - vamos estar aqui sempre neste horário , antes de ele dormir. Este no novo tratamento será bom para todos.

                   Mal eles cruzaram a porta, Dyllon deixou um riso solto no ar. Natasha se assustou. Sorriu para ele automaticamente, mas sem entender o motivo da risada. “Ele devia estar preocupado, como ela estava”. Pensou.

                   - O que houve, Dyllon? Depois da injeção, você ainda conseguiu rir? É isso mesmo? Você não sabe o risco que está correndo, meu amigo? Esse liquido que injetei em você pode leva-lo para o coma! A coisa é séria!

                   - E quem disse que você me aplicou alguma injeção?

                   - Mas eu apliquei sim. Aqui está a seringa vazia. – apresentando-a ao amigo. Em seguida jogo-a dentro de um saco plástico para descartar.

                   - Natasha, olha lá na parede do outro lado. – disse Dyllon, apontando na direção onde foi parar o liquido da seringa.

                   A enfermeira rodeou a cama e foi até a parede, onde o amigo tinha apontado, e passou o dedo para conferir se de fato tinha vestígio de algum líquido. Ficou surpresa, mas realmente constatou que o local estava molhado com algum produto oleoso.

                    - Como você fez isso, Dyllon? Eu tenho certeza que apliquei a injeção! Deixa-me olhar o seu braço.

                    Ele esticou-o para que ela pudesse verificar se existia algum ponto que fora picado por alguma agulha. A sua incredulidade era tanta, que  levou-a a procurar por quase todo o braço do amigo. Não achando nada, demonstrou total decepção. A sua certeza era inconteste. Como não encontrar nenhuma marca da picada da injeção? Não estava querendo acreditar no que via. O Dyllon, mais uma vez, surpreendeu-a. Agora, mais do que nunca, acreditava que ele era um ilusionista. 

........Continua Semana que vem!

 

terça-feira, 22 de abril de 2025

Uma Luz e Nada Mais - Parte 52

 


Continuando...

                 Natasha ria e balançava a cabeça. Estava na frente de um homem, um amigo inconteste, que não era desse mundo. Tinha mais certeza do que  antes, que ia embora com ele. Mas, mais uma vez vacilou nessa certeza, pensou no rapaz e jogou dúvidas na sua decisão que saíra do forno. Só tinha um jeito, levando José Antônio com eles.

                 Dyllon sorriu para Natasha.

                 - Está em dúvida de novo, Natasha?

                 - Já leu de novo o meu pensamento? Você não tem jeito!

                 - Pode ficar tranquila que ele vai sair daqui com nós dois. Vamos para algum lugar, que não sei onde é, mas que é melhor do que onde vivemos, isso com certeza.

                 - Mas que lugar é esse, Dyllon? E que certeza é essa? Você diz que nem sabe onde fica esse tal lugar!  Como vamos para lá, que nem sabemos aonde fica e muito menos se vão nos receber?  Mas antes que você fale alguma coisa,  me escute mais um pouquinho. Os médicos, como te falei, vão chegar às 22 horas. Eles vão me entregar uma seringa, com 1 ml de uma substância que não sei qual é, e vão esperar que eu faça o meu trabalho. Vão conferir se realmente apliquei a injeção em você. E agora, Dyllon?

               - Qual o problema? Você vai fazer o seu trabalho.

               - Dyllon, esse medicamento, como você disse, é para induzir o coma. Como vou aplicar uma substância em você, sabendo que é para te causar mal? Não vou conseguir! Não vou fazer!

               Ele sorriu bondosamente para a enfermeira, se dirigiu para o outro lado da cama e, encostado na parede, espalhou o seu olhar pelo quarto ou enfermaria, como queiram, e se perdeu em pensamentos, enquanto era seguido, em silêncio,  por uma Natasha, extremamente preocupada.

                 Ela não conseguia entender porque ele tinha um olhar tão sereno, uma cara completamente despreocupada, enquanto ela, não se aguentava de tanto nervosismo. Sabia dos seus poderes, entretanto não entendia essa calma tão explicita, quando ia receber um medicamento para induzir o coma.

               Recordou dos médicos falando de um tratamento para acelerar o metabolismo de Dyllon, mas, na verdade, queriam mata-lo lentamente. Qual o objetivo disso? Não queriam que ele despertasse completamente? Porque mudaram de objetivo?

                Dyllon escutava o pensamento da amiga e deixou escapar outro sorriso, mas parecia que era para acalmá-la. Tanto assim que ela recebeu-o e devolveu um risinho meio envergonhado. Entendeu na hora que não podia duvidar do amigo. Ele sabia o que estava fazendo e tinha poderes para isso.

              - Natasha. Não precisa ficar preocupada. Eu sei o motivo da mudança de postura desses médicos. E tenho até dó dos sofrimentos morais que carregam. Como você, eles também estão com medo de morrer. Só querem prolongar o meu sono, para poder continuar a preservar as próprias vidas. Só que não sabem que isso não vai adiantar quase nada, só vai esticar mais um pouquinho a estadia deles aqui. Os dias deles estão contados.

               Natasha colocou as mãos no rosto, assustada com a revelação de Dyllon. Não podia acreditar que até os médicos tivessem uma programação de, no final do contrato, serem eliminados. Tinha até pedido para o rapaz procurar pelos médicos que antecederam os atuais, mas foi só por curiosidade, pois não acreditava nessa hipótese. Mas agora, com o que o amigo revelara, estava extremamente preocupada e com pena deles.

                - Dyllon, você não pode fazer nada por eles? – pediu ao amigo, com o coração aos pulos.

                O amigo olhou-a, e vendo o brilho daquela alma boníssima, um coração cheio de amor, não encontrou palavras para explicar que não poderia fazer nada por aqueles dois seres. Emudeceu por algum tempo, querendo ganhar alguns minutos, enquanto isso procurava um jeito de dizer o quanto também doía o seu coração, mas teria que deixa-los nos braços da própria sorte.

                 - Minha querida, tem coisas que não podemos fazer. Eu tenho limites, como você tem os seus. E assim é todo mundo. A vida é assim.

                 - O que quer dizer, com a vida é assim? – perguntou Natasha, interrompendo a narrativa do amigo.

                - Sabe, tem pessoas que ninguém consegue ajudar. Eles simplesmente não permitem, pois são orgulhosos, e criam uma blindagem, um escudo, afastando qualquer tentativa de ajuda. O vaidoso, repele você de qualquer boa intenção. Tem que aprender sozinho à custa de muito sofrimento. Só a dor para burilá-lo.  

                - Mas não devemos tentar? – falou Natasha, pincelando cada palavra de tristeza.

                - Natasha, de repente, de longe, posso tentar ajuda-los. Aqui não. Com certeza vão tentar atrapalhar suas boas intenções. Em suma: não vão te dar ouvido. Tenho até pena de um deles, o Dr. Ferguson. Ele luta para curar o filho de uma moléstia. Quem sabe eu possa ajuda-lo. Vou tentar chegar até o menino, pelo pensamento do pai. Não prometo, mas vou tentar.

 .....Continua Semana que vem!

terça-feira, 15 de abril de 2025

Uma Luz e Nada Mais - Parte 51

 


Continuando...

                Olhou para a porta do quarto de Dyllon e rumou para lá. Abriu com tranquilidade as duas portas, coisa que já tinha perdido a conta de quantas vezes fizera, nesses três anos, e entrou lentamente. Dyllon, sentado na cama, olhou-a e sorriu amigavelmente. Desceu e abriu os braços, convidando-a para um abraço. Ela se chegou e ele abraçou-a apertado, encostando o seu coração no dela. Natasha retribuiu, emocionada, enquanto ele falava no seu ouvido.

               - Que susto, hein!  

               - Você viu tudo?

               - É claro. Não precisei intervir, pois você conseguiu se safar bem, com os médicos. Mas só dei uma mãozinha, Natasha, quando você saiu muito eufórica. Aí eu me adiantei e coloquei uma venda nos olhos do rapaz da cabine de vigilância. Esse não é amigo de José Antônio. É uma pessoa amargurada, na verdade sem amigos.

                - Então eu corri risco, não é? – falou Natasha, preocupada.

                - Correu. Com certeza ele avisaria aos médicos sobre o seu comportamento. Mas mesmo correndo esse perigo, você ia se sair bem. Qual o problema de uma pessoa pular? Só iam ficar curiosos. De repente iam pensar que eu levantara, falara e etc, etc. Iam perguntar sobre isso.

                 - Você acredita nisso? – disse com um sorriso, deixando transparecer uma pontinha de dúvida.

                 - Natasha, você ainda não acredita em tudo que eu falo e faço, não é?

                 - Nâo é isso. – fez uma pausa – Tem momentos que penso que estou sonhando. Essas coisas que você faz, me deixa confusa.

                 - Mas... Pode confiar. Agora você se coloca no meu lugar: dormi vinte anos, não me lembro disso, e só sei porque que me disseram. Não sei quem sou. Pode isso? Me colocaram um nome: Dyllon. Diga-se de passagem, muito feio. Então te pergunto: eu existo ou não? Isso é um sonho ou pesadelo? Então, na dúvida, vamos acreditar que somos alguém de carne e osso. E vamos sair daqui. Sem demora, hein! Mais uma coisa: o rapaz tem notícias. Amanhã ele não vai poder falar com você ainda, mas quando sair do plantão, no dia seguinte, vocês vão poder conversar.

                - Você já sabe o que ele vai falar comigo?

                - Sei, mas não vou dizer nada. Vamos deixar para ele te contar tudo.

                - Dyllon, hoje os médicos vêem aqui, às 22 horas.

                - Eu sei. Escutei tudo. Não vou tomar o medicamento. Ele não é para acelerar o meu metabolismo, é para induzir o coma novamente.

                Ela ficou olhando para ele espantada. Duvidara dele a alguns minutos atrás e agora estava ouvindo-o relatar o que se passara no escritório dos médicos. Já vira mais de uma vez o que ele era capaz de realizar, inclusive já participara ativamente no teste de invisibilidade. Até aquele momento achava que tinha sido apenas um mágico atuando. E um mágico dos bons, mas já estava na hora riscar a dúvida e dar veracidade aos fatos.

 ....Continua Semana que vem!