Novo Mundo Velho
- José
Timotheo -
Saí para ver o mundo
Mochila nas costas
Descompromissado abri o portão
Bastou-me invadir a calçada
E qual não foi a minha surpresa
Bem ali na minha frente
Em poucos passos, dois ou três
O mundo estava todo ali
Na minha calçada, à minha espera
A dor estava esparramada
Pelos cacos da calçada
A fome e a desistência da vida
Estendiam as mãos
O desapego pela esperança
Corria pela sarjeta
O sonho se desmanchava na fumaça
De algum alucinógeno
Alguém fugindo do mundo
Tudo ali, tão pertinho
De um mundo tão grande
Sem fronteiras, mas demarcado
Por omissões
Vi que a calçada continuava curta
E estilhaçada
Minha velha conhecida - pensei
Mas, na verdade, era uma mera desconhecida
Mesmo depois de tanto pisá-la
Juro, nunca havia percebido que naquele espaço pequeno
Cabia todo o planeta
Olhava sem ver
Pensei: oramos desesperadamente
Mas não nos vigiamos
Pedimos para varrerem as calçadas
Jogarem água com desinfetante
Limparem o caminho para a nossa soberba
Omissão e descaso
E...
Nos embriagamos de ilusão
Deixamos um copo d’água transbordar
Enquanto alguém está sedento
Temos esperança para tudo
Abastança na vida, pedimos
Que não peguemos doença
Imploramos
Que a loteria dos sonhos
Dê a nossa numeração
E assim vai
Mas lá no final está: amor
E é o menos pedido
A paixão sobressai
O desejo transborda pelos leitos
E em apenas segundos, ele vai embora
A paixão não fica
Ninguém lembra que o amor
É uma mão estendida
É um agradecimento
É uma retribuição
É um simples bom dia
É um como vai você
Simples assim
Olhava o mundo ali
Esparramado na minha frente
Não sei se chorei
Mas girei nos calcanhares
E fugi para refletir
Percebi, então, que tinha
Que mudar o meu roteiro
Agora, era entrar no avião
Da minha consciência
Arrumar meus sentimentos
E descansar a minha mochila
O mundo que preciso conhecer
Está aqui pertinho
fim
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