terça-feira, 1 de julho de 2025

Uma Luz e Nada Mais - Parte - 62

 


Continuando...

                        Ele foi até a cabeceira da cama de Dyllon e pegou um pequeno aparelho, um minúsculo microfone.

                      - Eles já sabiam que Dyllon estava acordado e saia do quarto. Sabiam também do nosso plano de fuga.

                      - Meu Deus! E a gente pensando que éramos donos da situação! E agora? – falou Natasha num misto de surpresa e medo.

                      - Agora não sei. Se Dyllon acordasse, talvez conseguíssemos sair daqui. Temos uma coisa a nosso favor...

                      - O que é? O que é? Diga logo! – falou Natasha nervosa.

                      - Calma, Natasha. Precisamos tomar conta da situação. Vamos aproveitar que o meu amigo vai desligar todas as câmeras da base. Parece que se arrependeu do que fez. Mas vamos sair daqui com Dyllon acordado ou dormindo mesmo.

                      - Mas como? Nem sabemos por onde seguir! E como vamos carregar o meu amigo?

                     José Antônio ficou pensativo, enquanto Natasha sacudia Dyllon,  tentando acordá-lo. Os médicos assistiam a tudo, sem sequer se mexer e nem falar. Pareciam que tinham virado duas estátuas. Isso foi notado por Natasha, que sem perceber deixou escapar um leve sorriso.

                  - Dyllon, acorda! Você está acordado, não é? Foi você que fez isso nos médicos, não foi, mesmo estando dopado? Vamos, abre esse olho! Vamos sair daqui, seu... seu maluco! Não está na hora de brincadeira, não! Vai se levantando dai!

                    O rapaz vendo que parecia em vão acordar o misterioso Dyllon, se dirigiu até Natasha e disse:

                   - Minha querida. Acho que não vai conseguir acordá-lo. Temos que sair daqui.

                   - Mas como, Zé Antonio? Ele está preso nessa cama. – falou Natasha com a voz amargurada.

                   - Temos que manter a cabeça fria. Os dois médicos estão aqui. Eles vão ter que abrir as presilhas. E depois, eu trouxe alguma coisa para prendê-los, nós saímos daqui com ele. Vamos fazer o caminho que eu faço quando fico de folga. Depois veremos o que fazer longe daqui. O caminho vai estar livre, sem câmeras.

                   - E o seu amigo?

                   - Eu o deixei amarrado, para não compromete-lo. Ele já tinha desligado todas as câmeras.

                   - Tenho que saber o que tem nessa seringa.

                   - Natasha, agora não tem importância. Esvazia a seringa e acaba com toda a preocupação. Joga fora, Natasha.

                   - Mas eu só quero saber o que é isso, Zé Antônio! Só isso! – disse com  renitência Natasha.

                   - Então pergunta a eles. Só sei que estamos perdendo um tempo precioso. Não sabemos se alguém vai vir atrás desses médicos. Cada minuto perdido, diminui as nossas chances de fuga.

                   Natasha não contestou os argumentos do namorado, mas ficou em silêncio pensativa. Alguma coisa estava causando aquele retardamento. O que ou quem. De repente lembrou-se do Dr. Frank, o chefe dos médicos, que vira poucas vezes. Mas toda vez que esteve na sua presença, se sentiu desconfortável.

                  - É ele!

                  - É ele, quem? – perguntou ansioso Zé Antônio.

                  - O Dr. Frank! Ele tem algum poder... Acho que é quem está causando o nosso atraso. Vou pegar às chaves com o Dr. Walter.

                   Natasha pediu-as, mas o médico nem respondeu. Ela então meteu a mão nos bolsos, mas nada encontrou. Depois procurou nos bolsos do Dr. Ferguson e foi o mesmo fracasso.

                    - E agora, Zé Antônio? O que vamos fazer? – fez um curto silêncio, enquanto procurava alguma saída. Depois sacudiu o Dr. Walter – Onde está a chave, seu desgraçado!

 ....Continua Semana que vem!

terça-feira, 24 de junho de 2025

Uma Luz e Nada Mais - Parte 61

 


Continuando...

                 Já passava das dez horas. Natasha percebeu que tinha esquecido a sua prancheta na sala de Dyllon. Podia deixar para lá, mas ficou com um peso na consciência. Mesmo não precisando mais dela, não podia arriscar que os outros médicos a encontrasse. Mesmo começando a mudar  de roupa para dormir, resolveu ir logo ao quarto do amigo. Se trocou  rapidamente e para lá se dirigiu.

                  Abriu a primeira porta e a segunda, como sempre fazia, vagarosamente. Qual não foi a sua surpresa: encontrou os dois médicos junto à cama de Dyllon. Sem que  controlasse, gritou assustada.

                  - O que os senhores estão fazendo com ele?

                  Os médicos, cada um com uma seringa na mão, se viraram assustados.

                  - Natasha, o que você faz aqui? – perguntou o Dr. Walter.

                  - Eu vim buscar a minha prancheta. – respondeu a enfermeira gaguejando e meio sem jeito. – Por quê não me chamaram? – perguntou ela com firmeza, procurando demonstrar que já começara a ser dona de si.

                  O Dr. Ferguson pigarreu e olhou para o amigo. O outro médico, claramente não sabia o que dizer. Os dois se olhavam assustados, sem saber o que fazer. Natasha ignorava onde encontrou forças para controlar-se, a ponto de constranger os doutores. – Só pode ser o Dyllon que está me dando essa força. – pensou ela.

                  Rapidamente ela olhou para o amigo, que parecia adormecido e para as seringas nas mãos  dos médicos: a do Dr. Walter estava vazia e a do outro, ainda estava cheia. Se encaminhou para eles, resoluta e retirou-as de suas mãos. Examinou-as, mas não conseguiu saber de que medicamento se tratava. As injeções que estava acostumada a injetar no seu paciente especial, não parecia em nada com aquelas,nem a coloração e nem o cheio.

               - Dr. Walter, Dr. Ferguson por que não me chamaram para fazer o meu trabalho? – disse ela querendo demonstrar que não suspeitava de nada. – Essas injeções são diferentes, certo? Para o quê elas servem? Eu já participo com os senhores, há mais de três anos. É tratamento novo?

                Os médicos pegos de surpresa, não esboçaram qualquer reação. Ficaram assustados com a desenvoltura da enfermeira. Achavam-na sempre submissa, então, aquela reação, quebrou-os completamente. E Natasha, percebendo que ganhara terreno, procurou se manter firme.

                 - Dr. Walter, Dr. Ferguson, com gentileza, eu sou a enfermeira. Tenho que fazer o meu trabalho. Não entendi porque não me chamaram. O que é que está havendo aqui? Quem aplica injeções aqui, sou eu. Dr. Ferguson, o que tinha nessa injeção? – mostrando a seringa vazia - Vou ter que anotar na minha planilha. E essa aqui?

                 Com tanta determinação de Natasha, os médicos estavam completamente perdidos. Um olhava para a cara do outro sem saber o que dizer. E Natasha olhava-os com firmeza, não deixando-os ficarem donos do terreno. Eles, realmente, nunca tinham visto a enfermeira tão altiva. Alguma coisa deixava-os submissos a Natasha.

                 Enquanto conseguia dominar os médicos, Natasha dava uma olhadinha em Dyllon. Não entendia como eles chegaram até ali sem que Dyllon percebesse. Lembrou que ele dissera que esses médicos estavam enlouquecendo. Alguma coisa interferiu na visão e audição do amigo, para que errasse assim.  

                  O mais importante agora era saber o que os médicos tinham injetado em Dyllon. Achou estranho o silêncio deles. De qualque jeito tinha que saber qual a substância que usaram. E a outra que estava na seringa. Ia tentar tirar partido da situação, já que conseguira dominá-los.

                   - Dr. Ferguson, o que foi injetado nele? – perguntou com altivez, Natasha.

                   - Natasha – fez uma pausa o Dr. Walter, demonstrando insegurança – nós injetamos um sedativo.

                   - Por quê? Ele estava nervoso? Quando deixei, não percebi  qualquer alteração no seu quadro. Continuava, como sempre, de olhos abertos. Agora, estou notando, ele está com eles fechados.

                    Nisso entrou na enfermaria José Antônio. Natasha não entendeu como o seu namorado conseguira entrar.

                     - Zé Antônio, o que é que você está fazendo aqui? – perguntou Natasha curiosa.

                     - Depois te explico direito. O meu amigo nos traiu. Willian acabou me contando que foi procurado pelo Dr. Walter que lhe ofereceu dinheiro para que contasse tudo que acontecia de anormal. Aceitou sem pestanejar. Mas livrou a minha cara, não me colocando nos planos de fuga.

                     - Eles ouviam as nossa conversas? – perguntou Natasha,  demonstrando a sua decepção.

                     - Sim. Ouviam tudo. O Dr. Walter colocou um microfone aqui no quarto. O Willian me disse onde está. O Dr. Walter falou para ele. Vou pegá-lo.

......Continua na Semana que vem! 

 

terça-feira, 17 de junho de 2025

Uma Luz e Nada Mais - Parte 60

 


Continuando...

                Não demorou muito e a porta do quarto foi se abrindo lentamente. Dyllon sabia quem era: Natasha, sem dúvida.

               - Natasha, boa noite! Minha enfermeira predileta! – disse eufórico.

               - Está animado, heim Dyllon! – falou Natasha, sorrindo descontraidamente. – Qual o motivo da felicidade?

               - Amanhã, logo pela manhã, vamos sair desse lugar medonho. Não quero que arrisque a sua vida. Estou contente por isso, mas captei energias perturbadoras. Não consegui decifrar. Isso me deixou preocupado.

               - Fica tranquilo, amanhã sairemos daqui nós três. Tenho certeza que você vai dar um jeito disso acontecer, sem nenhuma dificuldade. – disse Natasha, transpirando confiança.

               - Fico feliz com esse pensamento positivo. Mas todo cuidado é pouco. Não sabemos até onde essas pessoas podem ir com suas maldades. Fala com José Antônio para ficar atento.

               - Ele já acertou tudo com o amigo, Willian. Vamos sair há que horas?

               - Pensei que o melhor é sairmos antes do seu namorado pegar no plantão. Ele normalmente entra às sete, então podemos sair às seis horas. – disse Dyllon.

               - Acho excelente. Ele vai desligar o sistema às seis. Já tinha conversado com Zé Antônio sobre o horário mais cedo, mesmo antes de você me dizer agora. – disse Natasha empolgada.

               - Muito bem. Gostei disso. Decisão acertada. Então saímos às seis horas e cinco minutos.

               - Por que isso? Só pra não dizer que a ideia foi minha?

               - Nada disso, Natasha. É claro que a ideia é sua. É só uma questão de segurança, caso o rapaz não desative o sistema.  E você é que vai conferir se realmente as câmeras foram desligadas. Só isso, menina.

               - Tá bem,  Dyllon! - ficou escondendo o riso - Vou examiná-lo, como faço todo dia. Tenho que fazer os lançamentos diários. Segundo você me disse, deve vir outra dupla de médicos, então eles têm que conferir todas as anotações desse mês, a seu respeito. Acredito que já devem estar a par de toda a sua vida, nesses últimos vinte anos.  

              - Menos eu. – disse Dyllon franzindo o sobrolho. Depois de uma pausa, continuou. – Natasha, anota aí a minha pressão, meus batimentos cardíacos...

              - Assim é ótimo! – falou entre risos, Natasha - Mas vou acabar perdendo o emprego, meu amigo! – disse batendo no braço de Dyllon.

              A enfermeira, depois de fazer as anotações passadas pelo amigo, colocou a sua prancheta em cima de uma mesinha, atrás da poltrona, e circulou pensativa em volta da cama de Dyllon, que normalmente estava quase no centro do quarto. Dyllon olhou para ela curioso. Naquele momento não conseguiu bisbilhotar os seus pensamentos.

              - Natasha, você é diferente da maioria. Tem hora que não consigo invadir seus pensamentos. Parece que a sua mente é uma porta com fechadura, que você abre e fecha na hora que você quer. Viu que não sou tão poderoso assim?

               - Estou me sentindo meio desconfortada. Não podemos antecipar a nossa fuga? Podemos fugir agora, Dyllon. Temos que esperar até amanhã?   

               - Se aquiete, Natasha. Nada vai nos atrapalhar. Dia claro é melhor. Vocês têm que estar descansados para nossa aventura. E vai ser, realmente, uma aventura. Vamos sair sem destino certo. Vou apenas seguir o que a minha consciência mandar. Vai dar tudo certo.

                - Mas Dyllon, não estou entendendo essa minha aflição.

                - Vai descansar. Amanhã, às seis e cinco, nos encontramos aqui na porta.

                Natasha não quis alongar mais a conversa, deu um tchau para o amigo e saiu do quarto, meio cabisbaixa. Mas antes de fechar a porta atrás de si, mandou um olhar comprido para ele, mostrando claramente o  quanto estava preocupada. Dyllon captou a angustia da amiga. Traduziu, nessa troca de olhar, que era medo o que ela estava sentindo, por um eventual fracasso no plano de fuga.  Então acenou para ela e sorriu, com um sorriso recheado de otimismo. Depois levantou o polegar, piscou e torceu um canto da boca. Em seguida fechou as presilhas do pés, das mãos e a do pescoço.

 ....Continua Semana que vem!