Continuando...
O soldado Oliveira parecia que tinha saído de um transe. Não estava entendendo o que tinha acontecido. Aquela voz que escutara, sem saber de onde viera, ainda ecoava dentro da sua cabeça. Lembrou-se que passara por dentro da fortificação sem nenhuma dificuldade e saíra do mesmo jeito. – “Que poder é esse que me pegou de repente?” – balbuciou. E o mais estranho é que não se lembrou de procurar alguma porta para passar. Depois se deu conta que não estava pisando no chão. –Será que eu morri? – gritou para ninguém.
Saiu da fortificação sem precisar abrir o portão. A princípio pensou entrar na floresta e procurar os seus amigos, mas depois concluiu que não poderia interferir na escolha de cada um deles. Ele escolheu ficar. Usou o seu livre arbítrio e os outros também fizeram o mesmo. E quem era ele para interferir na escolha dos outros? Se pelo menos tivesse escutado algum pedido de socorro, era diferente. Entretanto não percebendo qualquer apelo vindo do fundo da floresta, preferiu deixar como estava. Lá era a morada que eles escolheram para ficar, então quem era ele para mudar o que estava escrito. O mundo ia esquecer que existiu um pelotão que pereceu na floresta, mas a floresta ia ser a guardiã daquelas almas para a eternidade.
“Que rumo tomar?” – perguntou à floresta. Mas uma voz respondeu na sua mente. – Siga o rio. Mas não molhe os pés.
O soldado achou aquilo muito estranho. Sabia que onde estava não existia rio algum. Só existia uma filete d’água, uma fonte contaminada, que sumia por dentro do chão, lá dentro do cercado e o poço de onde tiravam a água para consumo da tropa. E a voz ecoou novamente.
- Atravesse o portão e verás o rio. É apenas um fio de água que vai leva-lo até onde precisam de você.
Ele atravessou o portão, sem precisar abri-lo e realmente encontrou o menor rio que já vira. Não passava de um palmo de largura. Era uma linha d’água que se dirigia para o sul. Pensou em beber um pouco daquela água cristalina, mas não conseguiu encostar um dedo sequer na sua superfície. E a voz mais uma vez ecoou.
- Essa água não mata a sede, ela é só o caminho para afogar a ignorância. Pode afogar também a maldade. Siga em frente, até chegar no lugar certo, onde vais descer e encontrar o seu irmão. Vai ajuda-lo a sair do buraco. Tem mais dois amigos que virão com ele. Lá é onde mora a maldade. Vai e volta. Estaremos aqui.
Oliveira, o soldado, parecia imerso numa loucura. Ouvia a voz dentro da sua cabeça que mandava-o ir para algum lugar e salvar alguém que não sabia quem era. Só que não conseguia evitar seguir aquele misterioso comando. Quem o comandava? Ele desconhecia. Estava achando tudo muito estranho. As interrogações explodiam dentro do cérebro.
Resolveu caminhar seguindo aquele fio de água. De repente se deu conta que não sentia o chão. Olhou para o pé viu que caminhava no ar. Estava a alguns metros acima do chão. Depois lembrou-se que passara por dentro do portão. Apertou o corpo para ver se não tinha morrido, se era ainda de carne e osso. Sorriu aliviado ao constatar que ainda sentia o aperto da sua mão nos membros. Estava vivo, sem dúvida, mas só que não era mais uma pessoa comum.
A voz ecoou de novo na sua cabeça, lembrando-o que tinha um irmão precisando dele a muitos quilômetros dali. Só que não se lembrava de ter algum irmão. Era filho único. Quem seria esse irmão? Não importava quem seria essa pessoa, se era um irmão, ele ia. Olhou o fio d’água e foi em frente. Flutuava feito um pássaro. Se sentiu, realmente, um pássaro, só que sem asas. Voava, voava com um destino a cumprir.
O tempo que seguiu o menor riacho do mundo, assim achou, pareceu frações de segundos. Parou em um lugar onde o fio d’água sumia no chão. Olhou para ver onde a água mergulhava, mas não achou nada. Viu outra coisa.
Dyllon não sabia o que estava vendo. Natasha cutucou-o para saber o que estava acontecendo, já que o amigo não atravessara o corpo por completo. Ele não respondeu e nem se mexeu. Ela então puxou-o pelas pernas, com a ajuda do namorado. Dyllon saiu de dentro da porta com os olhos arregalados. Pela primeira vez a enfermeira vira o amigo com uma expressão tão assustada.
- O que foi, Dyllon?
- Não sei... – fez uma pausa – O que é aquilo? - Esfregou as mãos tenso.
- Calma, Dyllon. Explica o que está havendo. Já estou ficando nervosa.
,,,Continua Semana que vem!