terça-feira, 2 de janeiro de 2024

A Minha Casa Não é Essa - Parte 86

 


Continuando...

         Helga não perdia uma só palavra que os dois conversavam e nem os dois policiais também. De vez em quando trazia o seu olhar para os outros agentes. Numa dessas vezes observou que um deles estava imóvel e de olhos fechados. Sabia que o veneno já estava agindo. Ele era silencioso. Não causava qualquer agitação antes de matar a pessoa.

           A conversa continuava calorosa entre Weber e o general Kurt.

          - Herr general. Herr general. O nosso führer não tolera quem protege judeus. O senhor sabe disso, mais do que ninguém.  

         - Mas quem está protegendo judeu aqui?

         - O senhor não sabe? Então vou informa-lo: o seu sobrinho.

         - Não é possível! O senhor tem inveja da nossa proximidade com Hitler e não tolera! Mas isso não é só o senhor não! Têm muitos outros invejosos, que nos cercam! Vocês não toleram que uma família rica seja amiga íntima de Hitler. Mas você sabe que a minha família é e sempre foi à família mais rica e mais querida do nosso führer! Isso o incomoda muito, não é?

        - Caro general. O senhor vai ser rebaixado e jogado num campo de concentração. Ninguém vai tirá-lo de lá. O senhor é um traidor da pátria. Além de trair o nosso grande führer! Esse é o maior crime. Ninguém vai conseguir tira-lo de lá. Eu poderia, agora mesmo, leva-los ou meter uma bala na cabeça do senhor e da sua bela esposa. Mas não vou fazer isso. Eu quero que o senhor seja procurado como um bandido traidor da pátria. Vou levar o seu sobrinho e toda a sua família, com as provas, que já tenho, para a prisão.

         - O senhor está delirando.

         - Delirando, eu? O seu sobrinho é casado com uma judia e isso - o senhor não acha? - já é motivo suficiente para prendê-lo. Além de proteger também outras famílias judias. General se considere preso.

        Ao decretar a prisão de Kurt, ele olhou para os seus subordinados para que fizessem cumprir a sua decisão. Só que encontrou os três, aparentemente, dormindo. Falou mais alto e nada de ser obedecido. Então se levantou e foi até eles, só que caiu no meio do caminho.

        - Kurt. O que fazemos agora? – perguntou Helga.

        - Minha querida! Bom serviço! – falou emocionado Kurt.

        Ela olhou para ele e teve uma sensação, misto de alivio com culpa. Mas mesmo assim deixou escapar um sorriso: foi xoxo. Foi um sorriso, talvez, de missão cumprida.   

        - Fica calma, minha querida. Eu sei que isso causou um grande mal-estar em você, mas isso salvou mais vidas do que as que foram perdidas. Arranque esse sentimento de culpa. Não esqueça que estamos numa guerra. Você sabe que mesmo sendo alemães nós não compactuamos com o que está acontecendo no nosso país. Então fique tranquila, querida. Vamos colocar todos dentro do carro e dar um sumiço neles. Você dirige o nosso, que eu dirijo o deles.

        - Mas Kurt, mesmo longe dos vizinhos mais próximos, alguém pode nos ver carregando os corpos.

       - Vamos colocar o carro aqui dentro. Vou pegar um carrinho de mão e colocar um corpo de cada vez.

      - Deixa que eu pego, lá trás, o carrinho. Você coloca o carro aqui dentro. E vamos torcer para que ninguém veja.

      - Os vizinhos estão longe. E vamos contar com o entardecer. Não demora muito e fica escuro. Olha só, Helga! – falou entusiasmado Kurt, apontando na direção dos terrenos vazios. Helga olhou para onde o marido apontava e ficou contente com o que viu, abrindo um sorriso largo.

      - Helga, a natureza está conspirando a nosso favor! A neblina está tão densa, que daqui a pouco não veremos um palmo na nossa frente! Vai lá, vai! Pega o carrinho! Vou colocar o carro para dentro!

        Foi cada um na sua direção fazer o que tinha que ser feito. O carro dos agentes da Gestapo foi facilmente colocado dentro da propriedade. Já o carrinho de mão, demorou um pouco para ser encontrado por Helga, pois ele estava debaixo do monte de feno, talvez colocado por alguma das crianças. Helga encontrou por pura sorte, ao passar bem próximo do feno e tropeçar na ponta de um dos braços do carrinho. Voltou o mais rápido possível. Mas encontrou o marido que já vinha a sua procura. Antes que ele perguntasse, ela explicou a causa da sua demora. Ele então, sem falar nada, pegou o carrinho da sua mão e foi rápido colocar os corpos dentro do veículo. Helga ainda ponderou com ele, pedindo calma, mas ele explicou a sua pressa, que já não era por causa de algum vizinho xereta.

        - Helga, eu estou preocupado com o outro carro.  Nós sabemos que eles saem sempre em dupla. Weber não disse nada a respeito do segundo carro, mas tenho certeza que ele está por perto. Se chegarem aqui, estaremos em maus lençóis. Helga concordou com ele e ajudou-o a colocar os corpos dentro do carro. 

,,,,,,,,,Continua Semana que vem!

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